sábado, 17 de abril de 2010

Coisa pra mim?

- Você sabe coisar?
- Eu coiso, tu coisas, ele coisa. É uma coisa de louco essa mania...
- Pega aí esse negócio, e coisa!
- É passe de mágica?
- Tá entendendo.
- Às vezes não. Mas eu sei que quando nós coisamos, tudo fica acertado. O vós coisais saiu de moda...
- Mas a moda é essa: coisa pra mim? Se eles coisam, por que que tu não coisarias? Entende: você pega a coisa, e coisa! Tá feito!
- Mas coisar o que?
- Tem tanta coisa pra se coisar...
- Que cada um coise a sua coisa! Tem umas coisas que não dá pra aguentar...
- Mas a gente coisa assim mesmo! Tá entendido?
- Acho que tá.
- Então, coisa!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Uma questão de energia


Essa semana meu carrinho resolveu dar problema... Tem mês que sou eu, tem mês que são os gatos, e tem outros que é o carro. Nunca estamos livres disso, sempre vai ter alguma pedrinha dentro do sapato. E é mensal. Uma maravilha! A massoterapeuta disso que problemas sempre teremos, o lance é saber lidar com eles: ou arrancamos os cabelos a cada contra-tempo, ou encaramos com tranquilidade (racionalidade, disse ela) e sorriso irônico. Eu confesso que oscilo entre uma e outra, mas quando acumalam-se os imprevistos, eu puxo a cordinha do f...-se e jogo pro universo. E é aí que vejo ou escuto as coisas mais interessantes.
Lá fui eu cedinho levar o carro, pro menino ver se tinha saído toda a ferrugem do bloco do motor (a água do radiador estava amarela). Fora isso, tive um vazamento na caixa de marcha, problema rapidamente resolvido (e pago)! O ácido que eles colocaram terminou de furar a mangueira que já tinha sido levemente comida pela correia do ar-condicionado. Resolveram colocar o ácido come-ferrugem de novo. Ai, Henrique, esse troço vai comer todo o meu carro. Que nada, ele só come ferrugem, fica tranquila.
Enquanto o mecânico terminava de ajustar o carro e esperava o ventilador acionar, o Henrique, dono da oficina, comeceu a falar enfaticamente sobre os prédios que cresciam ao redor de sua oficina. Do problema da água que aquilo causara. A poluição do lençol fréatico de Capim Macio. Da falta de consciência dos ricos. Do governo colocando a culpa nos pobres. Falou em Dubai e suas construções homéricas. "Sabe por que eles estão torrando toda a grana do petróleo? Por que esse tipo de energia está acabando, é uma porcaria! Pagamos muito caro para perfurar, extrair, etc. Os carros são mais caros por causa das substânicias necessárias para neutralizar a fumaça. Aqui no Brasil a gente podia estar investindo na energia solar e eólica. Os carros seriam mais baratos e leves, e vocês mesma poderia recarregar seu carro numa grande bateria (energia solar). Outra coisa é pedir pra gente que é pobre a ter mais consciência. Não gastar tanta água. Pode? Eu passo o dia todo aqui trabalhando, aí chego em casa e tenho que tomar um banho de menos de 10 minutos? Enquanto isso a madame liga um dia antes de chegar no hotel e pede pra eles esvaziarem a piscina com cloro e encher de novo só com água, porque o cloro estraga o cabelo dela... Ou então a indústria de ferro que gasta água que só a bixiga pra esfriar o ferro, e estocam esse ferro, porque nem tá tendo saída. Imagina pedir pra eles pararem de produzir, pra produzir só o que o mercado demanda? Nunca. Aí nós é que temos que tomar banho rápido? Eu não, trabalho pra isso, pago minha água, tomo um banhão de 20 minutos. Sabe, a gente tá alimentando um bando de gulosos, circulando com esses caminhões podres que nem carburador têm, soltando fumaça e poluindo o ar. O trem, por exemplo, é o melhor para transporte de cargas. Mas não, quem ganha dinheiro com isso não quer abrir mão. E esses prédios (apontando para o prédio em frente)? sabe que os traficantes se enfiam todos aí nesses prédios. Você já viu a polícia fazendo batida em prédio assim? O traficante compra um pra ele, no nome dele, claro, e outro, onde ele põe as coisas que não prestam, no nome de um laranja. Aí, nunca que alguém pega ele! Fora isso, pra que esses prédios tão altos? Antes, quando cheguei aqui, uns 20 anos atrás, só podia construir prédio baixinho..." Aí eu perguntei pra ele como é que a cidade fazia pra crescer, se não fosse pra cima. Ele se exaltou e disse: " Crescer? Tem que crescer pros lados, tá cheio de lugar aí pra se crescer. Por que esse povo não vai pra Japecanga??? Não, as pessoas gostam é de morar tumultuadas, aglomeradas, feito pombos!"
Depois dessa, o ventilador começou a rodar e eu fui embora. Deu vontade de dividir com vocês um resumo das teorias do mecânico. Ele falou muito, mas a memória não ajuda... Acho que esse cara entende muito dos problemas do mundo, melhor do que um monte de pessoas reunidas, em volta de uma mesa, criando teorias; porque ele vive o dia-a-dia, e não supõe as dificuldades, vive dentro delas.

sábado, 10 de abril de 2010

Embalos de um sábado a noite


Sabadão, último dia da semana. Que maravilha!
Sortudos os que terminam a semana na sexta, mas sabe que eu nem tenho vontade disso, pois sábado é o dia que dou mais gás no ganha pão da semana. São horas de aulas com pessoas queridas. Já passou pela cabeça parar com isso, me dedicar mais aos estudos, ter mais tempo pra mim... Mas como poderia abandoná-los? Me divirto tanto, me canso e saio de lá satisfeita. Termino às 5h da tarde estafada, mas feliz da vida. Hoje, exausta, depois de dois aulões de revisão. Afobei os últimos alunos à terminarem logo os diálogos, para não sermos trancados dentro da escola. Achando que já eram 5h40. Mas não, ao chegar no carro descobri que eram 4h40. Ainda faltavam 20 minutos pra aula terminar... Caí na gargalhada. Tenho o péssimo hábito de olhar apenas o lado dos minutos do relógio. Pra mim é um inferno ficar presa às horas. Pra vocês não?
Peço desculpas aí aos alunos que estressei... não foi por mal. As meninas que ficaram por último se voluntariaram a ficar comigo presas, só na água, dentro das grades do IFRN. Umas fofas. Ainda bem que não aconteceu. Graças ao relógio defasado da professora.
Chegando em casa, me pergunto: o que fazer? Propostas de baladas, barzinhos, bateção de perna. Vovó, nos embalos do Raul (Gil, gente), me fez ver alguns calouros de arrepiar. Um moleque de 13 anos incrível. Quase chorei de emoção. Os gatinhos num corre-corre atrás de mariposas perdidas aqui no nono por causa da chuva. Resolvi abrir um Chardonnay. E estou pensando seriamente em ficar por aqui mesmo. Tá tão bom.
Saíria pra dansar salsa. Mas onde? A única casa que tinha, morgou. Ir para aquela curva esquisita, nem tô no clima. Acho que vou ver um filminho, bem comédia romântica, pra relaxar e aproveitar o domingo sem horas de sono acumuladas. Não é uma boa?
E como venho constatando, tudo gira em círculos, o cotidiano é cíclico; o desafio é criar e extravasar dentro disto. Transbordar. Contudo, hoje estou mais para o sossego do lar.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A nuvem passando






Passou uma nuvem, soprada pelo vento.
Pensamos que era chuva, mas que nada.
Nuvem passageira...
Na cidade de Natal isso é bem comum.
Um raio tímido ainda se fez ver, mas pouco. Muito pouco.
Foi quase uma faísca.
Passou. E com essa passagem o céu azul clareou o dia.
Por que tantas nuvem passando? e nenhuma chove...
Que mansidão: tranquilidade de tempos sólidos e a só.
Sem chuva que molhe e refresque.
Tudo é tão bom, calmo, com vontade do que se quer fazer.
Lá se vai a nuvem. Au revoir.
Por que prestamos tanta atenção a essas nuvéns?
Será porque aqui nunca chove?
O céu move-se numa constância inquebrantável
Lá se vão as nuvens. O sol, a lua e suas estrelas.
Alguns planetas, talvez.
Vamos olhar os planetas a partir de agora?
Mais complexos. Não apenas água e movimento.