Fico ansiosa quando decido viajar. Decidir é fácil. Depois vem a parte estressante: a busca pelo voo perfeito, a reserva de um lugar maravilhoso, gastar menos grana possível, tornar a viagem agradável para todos que vão comigo. Isso me dá uma ansiedade GIGANTE. Depois que está tudo organizado, fico na expectativa do dia D. Percebo logo que todo o planejamento escorre feito água ralo afora e nada sai como pensei. Então, pergunto: Por que planejar?
Poderia pensar a mesma coisa para a preparação de uma aula. Como ensino Didática na universidade sempre friso a importância de um bom planejamento, mesmo sabendo que aquele documento, fruto de algum tempo reflexivo e de pesquisa minuciosa, não passa do esboço de um futuro improvável. As coisa nunca saem tal qual planejamos. E isso cabe perfeitamente para uma viagem, assim como para tudo na vida. Por que eu surto?
Tenho receio de beber o rio da vida e ele não sair obviamente como planejado; flutuo sobre ele tentando encontrar um lugar onde molhar os pés, mas não tenho coragem. O que fiz até hoje foi me agarrar nas coisas que tenho certeza: estudar sempre, juntar gatos, cultivar a família.
Observei a vida toda meus pais arriscarem novos caminhos incertos e alcançarem júbilo e sucesso. Teria eu essa coragem? Não sei. Sempre quis controlar. Em alguns âmbitos, até que sou eficaz; em outros, nem me arrisco, fico de fora vendo a vida passar. De medo em medo as histórias não acontecem. Na viagem é onde eu encontro liberdade de ser sem medo, afinal, é a vida entre parênteses, onde tudo pode acontecer, ou nada, não importa, só sei que naquele hiato maravilhoso perco a ilusão do controle e me jogo pro que tiver de ser.
Minha busca é ser assim no cotidiano, mas como ?
O simples fato de perceber que estou começando a gostar de alguém já me parece errado. Não me reconheço, me sinto vulnerável.