
Sofia, enrolada na toalha, se olha no espelho e vê as olheiras aparentes. Verifica as horas no relógio da cozinha: “são quase nove, estou exausta”, pensa consigo. Mas até aí sua vontade de sair não mudou, “a noite promete!”. Passa uma base no rosto para disfarçar o cansaço, e não é que funciona? A imagem refletida a anima, “já estou me sentindo melhor...”. Vai pro quarto, abre as quatro portas do guarda-roupa, vê aquele monte de saias, calças, blusinhas e blusões, suspira , “que roupa eu vou vestir hoje?”. O desânimo e a indecisão a dominam. Deita na cama ainda enrolada na toalha, olha pro teto e espera que o modelito fantástico lhe caia na cara. Adormece.
Acorda com o telefone, quanto tempo teria passado? Pula da cama e atende:
- Alô...
- Amigaaaaaaaaa! Tô chegando. Já tá pronta?, é Rebecca que pergunta, alegre e cheia de energia.
- Hum, mais ou menos, sobe aí que ainda vou escolher uma roupa...
Sofia não sabe o quanto dormiu, ainda está zonza de sono, estava sonhando com o que mesmo? Tem que escolher logo uma roupa boa, aquelas que levantam qualquer astral. Sabia que Rebecca chegaria como um furacão, escolheria o primeiro par de jeans e a arrastaria de casa sem lhe dar chance de pentear os cabelos: “Vamos pra farraaaaaa!”, imagina Sofia as palavras mágicas da amiga animada. Sorri.
Em 20 minutos já estavam na rua, em busca de aventuras. Param no posto BR para comprar a primeira cerveja da noite: Antártica Cristal. Já era de praxe quando saíam, abrir a noite com ela, estupidamente gelada.
- Pra onde vamos?, pergunta Sofia no volante.
- Bora pra Ribeira, que é mais jogo!
Cigarrinho na mão, cada uma na sua mais bela pose, ainda sóbrias, desfilam pelas ruas escuras e sujas da Ribeira.
- Parece que não vai rolar nada hoje aqui... Que merda! Lembra daquele sarau em Ponta Negra? Depois dele vai rolar um reggae. Vamos nessa? Que desse mato aqui não sai coelho, como já dizia o falecido! Afirmou Rebecca dando meia-volta, em direção ao carro.
Sofia dá uma última baforada, atira a bituca do cigarro no chão, olha pros lados, não vê ninguém interessante, olha no relógio, são 22h.
- Vamos sim, antes que acabem as declamações. Adoro poesia!!!
Quando chegam na Vila de Ponta Negra, encontram o antigo restaurante, por trás da Igreja. O local onde acontece o sarau é bem decorado, tem três andares e foi Daniel quem as convidou, e como bom anfitrião, mostrou todo o lugar.
Para decepção de Sofia, o sarau já tinha acabado, fazia 1h... o povo só estava lá bebericando uma sangria horrível, de vinho de quinta e jogando conversa fora. As duas descem as escadas e vão pra rua em busca da salvação: Cerveja!
Atrás delas descem Daniel e Gomes, um amigo seu, que já conhecia Rebecca. Dividem uma garrafa de cerveja, sentados na calçada. Poxa, que decadência.
Mas como a noite é uma criança, muitas surpresas ainda aguardam a dupla dinâmica. Conversa vai, conversa vem, os dois rapazes fazem uma proposta, quase indecente. Sabendo que Rebecca e Sofia iam para o reggae, perguntam se elas não querem passar na casa de uns amigos ali perto, antes, pois ainda ia demorar pro show começar. A idéia era fumar um e ir embora.
Os amigos são três homens, com seus 25 anos, bonitos, arrumados e interessantes. Conversam sobre tudo. A casa está cheia de revistas sobre viagens, moda e informações gerais, e uma mandala na parede. Pelo que contam, fazia pouco tempo que moravam no lugar. Cada um apertou um beque, enquanto isso chega uma amiga deles, pra compartilhar do momento. Todos falam muito, as duas, que não conhecem ninguém direito, ficam meio assustadas com a afinidade de todos. Se separam e tentam travar conversa com os outros enquanto os cigarrinhos rolam de mão em mão.
O fumo era forte, o que altera um pouco a percepção de Sofia. Ela começa a conversar com todos, “como é bom ficar numa boa”, pensa. Quem mais conversou com ela foi a moça que chegou depois. Disse entre outras cositas, que era massagista. Sofia exclama, inocente, que está precisando de uma massagem!
De repente, cai um toró. A chuva se intensifica e a casa onde todos estão começa a encher d’água. São vários pontos do telhado com buracos e as goteiras vão aumentando. Até fazer uma piscina na sala. Um móvel de vime não pode molhar, mas a chuva não para e as goteiras só aumentam. Sofia, vendo perplexa a falta de atitude daquele bando de machos, arregaça as mangas, chama um dos caras e carrega a estante de vime para o outro quarto, a salvo das goteiras.
Enquanto isso, Rebecca, protege as revistas e observa a situação com um cigarro na boca. Olha pra Sofia e faz o sinal de retirada. Vamos nessa!
A chuva vai parando, ainda dá tempo de mais um cigarro e tchau. Todos se despedem amavelmente. A moça dá um longo abraço e canta uma música de despedida pra Sofia. Rebecca, já com a mão na boca, pula dentro do carro, evitando a chuva rala que ainda cai. Fecha a porta do passageiro, espera Sofia dar partida e sair da frente da casa, e dá, enfim, uma puta gargalhada!
- Amiga, amiga, você sacou??? Aqueles caras são todos viados e a mina tava afim de você!!! Tá podendo, hein?!
- Puta que pariu! Aqueles caras deixando uma lady carregar a estante, só pode ser suspeito, e a mina, eu percebi só agora no abraço. Você acredita que eu disse que tava precisando de uma massagem???
- Hahahahahahah! Você é muito lesa, amiga! Ei, será que os caras que trouxeram a gente pra cá também são bi? Eles são meio estranhos... Aquele que tá com Daniel é namorado da Perola.
- Sei lá, só sei que eles estão vindo atrás da gente. Bora logo pra esse reggae.
Chegando no reggae, morgação total. Sofia, muito supersticiosa, já viu nisso augúrio de que, aquela noite não era nem pra ela ter colocado os pés fora de casa. Rebecca ainda tinha esperanças e tenta levantar o astral da amiga. Só que quando vê o preço da entrada fica puta, muito caro! Os rapazes, Daniel e Gomes já chegam junto. “E aí, vão entrar?”.
- Acho que não. Tá muito caro e não tem ninguém, disse Rebecca.
- Então, vocês gostam de vinho? Perguntou Daniel, como quem não quer nada.
- Odeio!,respondeu Rebecca automaticamente, meu negócio é cerveja!
- Não, é porque a gente podia ir lá pra minha “cober”, comprar vinho e umas cervas e ficar conversando. O que vocês acham?
- Na sua o quê???, pergunta Sofia.
- Na minha cobertura, é que meus pais estão viajando, aí a gente pode ficar lá, bem a vontade...
Unbelivable! As duas ficaram sem reação e perplexas. Como assim bem a vontade? Na “cober”? Hein? Rebecca se aproxima de Sofia e fala no ouvido: “eu não vou nem a pau, se você quiser ir vai, eu não vou!”, no que Sofia retruca: “Você tá ficando louca? Vamos fugir! Vamos dar um perdido neles!”.
Elas disseram pra eles que queriam movimento, ver gente e não se enfiar num apê.
- Ah, então vamos pra rua do Salsa enquanto aqui não começa, propuseram, insistentes.
- Tá bom! A gente se vê lá... Responderam as duas em uníssono.
Cada um dos rapazes em seu carro dá partida, acende o farol e espera. As duas, esperançosas dos caras irem embora, ficam desesperadas.
- Meu, eles vão ficar esperando a gente!!! Temos que dar KO. Não é possível, que caras de pau! Liga pra eles! Fala qualquer coisa! Eles tão pensando o quê?, já irritada, Sofia.
Então, Rebecca liga pra Daniel e diz que vão voltar pra casa por causa da chuva. “Deixa pra próxima, falô!”.
E vão pro bar da Esquina dos Ventos, se afogar em cerveja, fumar muitos cigarros, e rir dos acontecimentos e da audácia dos homens, divertidas.
E a noite miou!
Acorda com o telefone, quanto tempo teria passado? Pula da cama e atende:
- Alô...
- Amigaaaaaaaaa! Tô chegando. Já tá pronta?, é Rebecca que pergunta, alegre e cheia de energia.
- Hum, mais ou menos, sobe aí que ainda vou escolher uma roupa...
Sofia não sabe o quanto dormiu, ainda está zonza de sono, estava sonhando com o que mesmo? Tem que escolher logo uma roupa boa, aquelas que levantam qualquer astral. Sabia que Rebecca chegaria como um furacão, escolheria o primeiro par de jeans e a arrastaria de casa sem lhe dar chance de pentear os cabelos: “Vamos pra farraaaaaa!”, imagina Sofia as palavras mágicas da amiga animada. Sorri.
Em 20 minutos já estavam na rua, em busca de aventuras. Param no posto BR para comprar a primeira cerveja da noite: Antártica Cristal. Já era de praxe quando saíam, abrir a noite com ela, estupidamente gelada.
- Pra onde vamos?, pergunta Sofia no volante.
- Bora pra Ribeira, que é mais jogo!
Cigarrinho na mão, cada uma na sua mais bela pose, ainda sóbrias, desfilam pelas ruas escuras e sujas da Ribeira.
- Parece que não vai rolar nada hoje aqui... Que merda! Lembra daquele sarau em Ponta Negra? Depois dele vai rolar um reggae. Vamos nessa? Que desse mato aqui não sai coelho, como já dizia o falecido! Afirmou Rebecca dando meia-volta, em direção ao carro.
Sofia dá uma última baforada, atira a bituca do cigarro no chão, olha pros lados, não vê ninguém interessante, olha no relógio, são 22h.
- Vamos sim, antes que acabem as declamações. Adoro poesia!!!
Quando chegam na Vila de Ponta Negra, encontram o antigo restaurante, por trás da Igreja. O local onde acontece o sarau é bem decorado, tem três andares e foi Daniel quem as convidou, e como bom anfitrião, mostrou todo o lugar.
Para decepção de Sofia, o sarau já tinha acabado, fazia 1h... o povo só estava lá bebericando uma sangria horrível, de vinho de quinta e jogando conversa fora. As duas descem as escadas e vão pra rua em busca da salvação: Cerveja!
Atrás delas descem Daniel e Gomes, um amigo seu, que já conhecia Rebecca. Dividem uma garrafa de cerveja, sentados na calçada. Poxa, que decadência.
Mas como a noite é uma criança, muitas surpresas ainda aguardam a dupla dinâmica. Conversa vai, conversa vem, os dois rapazes fazem uma proposta, quase indecente. Sabendo que Rebecca e Sofia iam para o reggae, perguntam se elas não querem passar na casa de uns amigos ali perto, antes, pois ainda ia demorar pro show começar. A idéia era fumar um e ir embora.
Os amigos são três homens, com seus 25 anos, bonitos, arrumados e interessantes. Conversam sobre tudo. A casa está cheia de revistas sobre viagens, moda e informações gerais, e uma mandala na parede. Pelo que contam, fazia pouco tempo que moravam no lugar. Cada um apertou um beque, enquanto isso chega uma amiga deles, pra compartilhar do momento. Todos falam muito, as duas, que não conhecem ninguém direito, ficam meio assustadas com a afinidade de todos. Se separam e tentam travar conversa com os outros enquanto os cigarrinhos rolam de mão em mão.
O fumo era forte, o que altera um pouco a percepção de Sofia. Ela começa a conversar com todos, “como é bom ficar numa boa”, pensa. Quem mais conversou com ela foi a moça que chegou depois. Disse entre outras cositas, que era massagista. Sofia exclama, inocente, que está precisando de uma massagem!
De repente, cai um toró. A chuva se intensifica e a casa onde todos estão começa a encher d’água. São vários pontos do telhado com buracos e as goteiras vão aumentando. Até fazer uma piscina na sala. Um móvel de vime não pode molhar, mas a chuva não para e as goteiras só aumentam. Sofia, vendo perplexa a falta de atitude daquele bando de machos, arregaça as mangas, chama um dos caras e carrega a estante de vime para o outro quarto, a salvo das goteiras.
Enquanto isso, Rebecca, protege as revistas e observa a situação com um cigarro na boca. Olha pra Sofia e faz o sinal de retirada. Vamos nessa!
A chuva vai parando, ainda dá tempo de mais um cigarro e tchau. Todos se despedem amavelmente. A moça dá um longo abraço e canta uma música de despedida pra Sofia. Rebecca, já com a mão na boca, pula dentro do carro, evitando a chuva rala que ainda cai. Fecha a porta do passageiro, espera Sofia dar partida e sair da frente da casa, e dá, enfim, uma puta gargalhada!
- Amiga, amiga, você sacou??? Aqueles caras são todos viados e a mina tava afim de você!!! Tá podendo, hein?!
- Puta que pariu! Aqueles caras deixando uma lady carregar a estante, só pode ser suspeito, e a mina, eu percebi só agora no abraço. Você acredita que eu disse que tava precisando de uma massagem???
- Hahahahahahah! Você é muito lesa, amiga! Ei, será que os caras que trouxeram a gente pra cá também são bi? Eles são meio estranhos... Aquele que tá com Daniel é namorado da Perola.
- Sei lá, só sei que eles estão vindo atrás da gente. Bora logo pra esse reggae.
Chegando no reggae, morgação total. Sofia, muito supersticiosa, já viu nisso augúrio de que, aquela noite não era nem pra ela ter colocado os pés fora de casa. Rebecca ainda tinha esperanças e tenta levantar o astral da amiga. Só que quando vê o preço da entrada fica puta, muito caro! Os rapazes, Daniel e Gomes já chegam junto. “E aí, vão entrar?”.
- Acho que não. Tá muito caro e não tem ninguém, disse Rebecca.
- Então, vocês gostam de vinho? Perguntou Daniel, como quem não quer nada.
- Odeio!,respondeu Rebecca automaticamente, meu negócio é cerveja!
- Não, é porque a gente podia ir lá pra minha “cober”, comprar vinho e umas cervas e ficar conversando. O que vocês acham?
- Na sua o quê???, pergunta Sofia.
- Na minha cobertura, é que meus pais estão viajando, aí a gente pode ficar lá, bem a vontade...
Unbelivable! As duas ficaram sem reação e perplexas. Como assim bem a vontade? Na “cober”? Hein? Rebecca se aproxima de Sofia e fala no ouvido: “eu não vou nem a pau, se você quiser ir vai, eu não vou!”, no que Sofia retruca: “Você tá ficando louca? Vamos fugir! Vamos dar um perdido neles!”.
Elas disseram pra eles que queriam movimento, ver gente e não se enfiar num apê.
- Ah, então vamos pra rua do Salsa enquanto aqui não começa, propuseram, insistentes.
- Tá bom! A gente se vê lá... Responderam as duas em uníssono.
Cada um dos rapazes em seu carro dá partida, acende o farol e espera. As duas, esperançosas dos caras irem embora, ficam desesperadas.
- Meu, eles vão ficar esperando a gente!!! Temos que dar KO. Não é possível, que caras de pau! Liga pra eles! Fala qualquer coisa! Eles tão pensando o quê?, já irritada, Sofia.
Então, Rebecca liga pra Daniel e diz que vão voltar pra casa por causa da chuva. “Deixa pra próxima, falô!”.
E vão pro bar da Esquina dos Ventos, se afogar em cerveja, fumar muitos cigarros, e rir dos acontecimentos e da audácia dos homens, divertidas.
E a noite miou!
Um comentário:
Nitidamente conheço essa história!!!
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