domingo, 19 de outubro de 2008

A liberdade

Li hoje:
"O mundo jamais o desencorajará de operar na configuração padrão, porque o mundo dos homens, do dinheiro e do poder segue sua marcha alimentado pelo medo, pelo desprezo e pela veneração que cada um faz de si mesmo. A nossa cultura consegue canalizar essas forças de modo a produzir riqueza, conforto e liberdade pessoal. Ela nos dá a liberdade de sermos senhores de minúsculos reinados individuais, do tamanho de nossas caveiras, onde reinamos sozinhos.
Esse tipo de liberdade tem méritos. Mas existem outros tipos de liberdade. sobre a liberdade mais preciosa, vocês pouco ouvirão no grande mundo adulto movido a sucesso e exibicionismo. A liberdade verdadeira envolve atenção, consciência, disciplina, esforço e capacidade de efetivamente se importar com os outros - no cotidiano, de forma trivial, talvez medíocre, e certamente pouco excitante. Essa é a liberdade real. A alternativa é a torturante sensação de ter tido e perdido alguma coisa infinita.
Pensem de tudo isso o que quiserem. Mas não descartem o que ouviram como um sermão cheio de certezas. Nada disso envolve moralidade, religião ou dogma. Nem questões grandiosas sobre a vida depois da morte. A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na cabeça. Diz respeito à consciência - consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor - daquilo que devemos lembrar, repetindo sempre: 'isto é água, isto é água.'
É extremamente difícil lembrar disso, e permanecer consciente e vivo, um dia após o outro."
David Foster Wallace, escritor americano, em discurso de paraninfo para formandos do Kenyon College, há três anos. Suicidou-se no mês passado, aos 46 anos. Trecho retirado de Despedida, da revista Piauí_25 edição especial e pré-sal de segundo aniversário, outubro de 2008.
Me caiu como luva.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Viva o pensamento

Me falta coragem de continuar.
Já não aguento mais a pressão e a falta de bom senso.
Sabe o que penso?
Em jogar tudo pro ar, fazer as malas e viajar.
Ver o mar e nele tomar banho. Nua. Longe da civilização.
Um lugar fora do mapa. Que ninguém conheça; apenas eu.
Mas não posso partir antes de dizer poucas, boas ou ruins, coisas que não tenho coragem ou vontade de dizer hoje, mas que estão entaladas na garganta.
Um dia sei que vou vomitá-las. Deus me acuda!
Se faz necessário dizê-las, para dar continuidade, pra passar pra outra fase.
Falar o que penso, não cabe em todo contexto.
Controlo minha língua e deixo o pensamento solto.
Penso cada coisa de louco!
Idéias malucas, algumas violentas, outras mais amenas.
Penso demais.
Ah! como é bom viver livremente, mesmo que muitas vezes seja apenas em pensamento.
Fazendo o que quero a todo momento.
Entristeço.
"Isso não é possível minha filha!".
Quantas vezes já não escutei essa frase, com a boca amarga.
De todos os tipos de pessoas que já cruzaram a soleira de minha alma.
De repente essa frase me despertou revolta; num revés de humor, tristeza; e ontem, o choro, aquele choro de criança mimada que foi contrariada.
Esperneio. Se eu quero, por que não pode?
Que mania de impor limites...
Certamente, pra algumas coisas, limites se fazem necessários, imprescindíveis mesmo!
Como limite para homem tarado.
Ah! esses precisam de limites bem restritos e claros, senão dá tudo errado!
Mas limitar sonhos é sacanagem. E a vaidade?
A vida é feita de sonhos e nunca deixarei de sonhar.
Quem já perdeu a crença nos seus sempre é tempo de retornar.
Viva plenamente, indiferente e verá!
Tenha uma boa vida!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vampiros

Me sugaram até a última gota, como vampiros que precisam de sangue para viver. Criaturas como estas sugam o invisível e precioso para o ser. Gostaria de conhecer um bloqueio, uma armadura, uma aura protetora a prova dos dentes invisíveis. Me extorquem, insaciáveis, de todos as maneiras possíveis, seja pela fala, ou pela presença. O mais comum e mais fácil de controlar é o que fala. Quem fala de mais, escuta pouco, e acaba se entregando facilmente; digo logo que vá catar coquinho, que me deixe em paz, ou dou uma de 'joão sem braço' e sumo. E o outro nem percebe e continua falando sozinho. Nunca entendi essa necessidade febril das pessoas falarem, e falar besteira (pra não usar outra palavra, por ser vulgar, mas que caberia muito bem). Não sei de quem ouvi quando criança, deve ter sido minha mãe, algo que ficou gravado pra sempre na minha memória, do tipo: se for falar besteira, é melhor ficar calado! Acho perfeito isso. Preservar-se de bobagens hoje em dia, é um caso hercúleo. Quem consegue? Basta ligar a televisão. Ou ouvir rádio, ou escutar papo de bar (não que papo de bar seja desinteressante, sempre nascem algumas pérolas). Mas francamente, me consumir o dia com balelas sem significados não dá. E as lamúrias? Isso sim consome. Sou vítima! Sou um pobre coitado! Deus esqueceu de mim! Tenha dó... Despeja-se o lixo e em troca ganha-se energia vital. É uma bela troca, mas quem fica com o lixo, normalmente os que escutam mais e falam menos, percebem gradativamente as artimanhas dos vampiros de energia, porque vítimas são vampiras de energia sim. Quem fala muita bobagem, pelo simples fato de não conseguir calar a boca, é vampira sim, precisa de alguém para escutar suas bobagens, senão qual seria a graça? De onde conseguiria energia pra continuar seu blábláblá? Enfim. Depois das que falam demais, vêm as que transtornam ambientes com sua presença. São pessoas alucinadas e desequilibradas, acho que todos temos algum desequilibrio, uns mais que os outros; mas essas não conseguem se controlar, vivem como se fossem um turbilhão, um tufão que vai levando consigo toda a energia do ambiente. Acho que tenho grave problema de identificação, porque nos dois casos, sempre saio arrasada. Deixo levarem tudo. E depois fico com raiva.

sábado, 4 de outubro de 2008

A festa das eleições


Você gosta de carnaval? munganga? palhaçada?
Se disse sim para uma das perguntas acima, então não está vendo problema algum nesse mês de passeatas políticas. Ou está?

Impossível não dar atenção aos trios elétricos cheios de gente, todos muito bem sonorizados, pessoas com microfone nas mãos, outras fantasiadas, aclamando seu candidato, festejando... sabe-se lá o que. Vi muita gente vestindo a camisa e segurando orgulhosamente a bandeira do partido, fazendo palhaçadas inacreditáveis. O candidato que aceita e apoia os cidadãos vestindo roupa e peruca de carnaval, pulando pelas ruas, gritando seu nome e cantando alegremente, com uma latinha de cerveja na mão, só pode estar desesperado, ou louco, não é mesmo?
Pra que toda essa festa minha gente? Gastam o dinheiro todo para chamar nossa atenção, e não sobra mais nada para os projetos mirabolantes que se propuseram realizar. Porque ali mesmo onde celebram a candidatura do indivíduo-deus, tem uma senhora de oitenta anos pedindo esmolas, um esgoto ao ar livre, o lixo acumulado de anos na mata do Parque das Dunas. Mas nisso não prestamos atenção, já virou rotina para nós essas aberrações. E a verdadeira aberração, tornou-se diversão.

Num domingo qualquer avistei uma fila imensa de carros parados na terceira faixa da Roberto Freire, por volta das 16h. A fila congestionou o transito das pessoas que voltavam do litoral sul da cidade. Estava uma zona. Oba! Tudo saiu como planejado. Cada vereador teve a oportunidade de tocar a sua musiquinha para esses carros, famílias inteiras, envolvidas a contra-gosto no comboio, entre raivosas e cansadas. Sem reação.

Num outro sábado, fiquei presa dentro de um comboio durante uns 40 minutos, porque eles ocuparam toda a rua paralela à Roberto Freire. Pode? Se pode, eu não sei. Pensava com todo minha inocência que esse tipo de manifestação alegre fosse proíbida. Se for, a polícia não só faz vista grossa, como colabora com os manifestantes. A história vai ficando interessante.

Como disse De Gaule, o Brasil não é um país sério. Mesmo possuindo riquezas naturais, petróleo, mão de obra capacitada, grandes intelectuais, o povo assiste e se ilude com os políticos. Votamos neles. Sempre tem um que se salva, mas e pra acertar? Chutamos e tentamos marcar o gol, votamos no mais simpático, no mais bonito, naquele que pratica a troca.
Eu mesma, até agora, há menos de 24h para a abertura das urnas, não sei em quem votar. Ninguém provou sua capacidade com essas campanhas pra tupiniquins (sem desmerecer os índios, por favor!). A única coisa que foi provada é que brasileiro gosta de confete, suor e cerveja. Fico pensando: por que esses candidatos não desenvolvem um projeto de verdade, em vez de gastar milhares de reais em campanhas ilusórias, de cantarem palavras ao vento, de fazerem comboios barulhentos, fechando ruas, atrapalhando o transito, incomodando o descanso das pessoas, fazendo a gente de bobo.
**É, agora é ver pra crer... Micarla ganhou. E eu votei nulo... que covardia! Preferi não assumir responsabilidades. Você que votou, colocaria a mão no fogo pelo seu candidato?