terça-feira, 28 de abril de 2009

Dona Encrenca & véinha Cricri - O barraco

Num dia ensolarado de começo de ano no Brasil, dona Encrenca chega em casa com novidades.
-Tem um muquifo ali em cima, no meio da calaçada, atrapalhando a passagem das pessoas! Um absurdo. Isso pode?
-Ai Encrenca, deixa estar! Suspira Cricri.
O muquifo em questão é um barraco que serve comida, bebida, salgado, etc., em cima do passeio público numa rua do bairro de Capim Macio. É um quadrado de madeira de 1,5x2m, fogãozinho de acampamento, uma pia improvisada, sem higiene e serve o pessoal mais simples que vem à Zona Sul trabalhar, e a partir das 10h é reduto de vagabundos. O que fazem?
-Assistindo jogo de futebol numa televisãozinha ridícula e enchendo o cú de cerveja! E além do mais, ficam com aquele olhar espantado olhando pra nós, cabeças pontudas (definição de paulistas pra dona Santana-CE).
-Ai, você já vai brigar!?, Cricri geme.
Mas o que estava realmente incomodando dona Encrenca, não era o barraco propriamente dito, mas a atitude da responsável. Uns dias antes, muito agressiva e grosseira disse:
-Não quero saber de gato aqui não! Esses gatos ficam incomodando meus clientes! Eu quero que eles sumam!
-Mas olha, eles estão aqui, porque alguém soltou e por causa da comida que vc serve aqui no meio da rua... dona encrenca, tentando se comunicar.
-Por mim esses gatos já tinham sumido!
No dia que dona Encrenca chegou em casa reclamando do muquifo, foi porque os gatos que alimentava tinham realmente sumido. TODOS! Ela estava literalmente puta da vida. Quinze minutos depois já tinha ligado para a Sensul e denunciado o negócio ilegal.
Já relaxada, dona Encrenca resolve em casa uns probleminhas com a véinha Cricri, que não sabe comer sem sujar o chão, e que para piorar, come toda hora.
No outro dia, dona Encrenca descobre que um dos gatos ainda está por lá, enfiado atrás do barraco e não sai nem a pau. É Joana, arisca, que com certeza tentaram pegar, ficou assustada e não sai mais do buraco. Tenta entrar num shoppingzinho que tem por trás da rua pra ver se pega a gata. Está P.R.O.Í.BI.D.A. de entrar. Alguém reclamou.
-Sabe, tem horas que dá vontade de desistir... afirma Encrenquinha.
Dona Encrenca dá a volta de novo e seguindo Encrenquinha vê a mesma ir direto para a responsável do barraco.
-Oi! Quero saber quem foi que pegou esses gatos e pra onde eles foram levados! Vc contou uma história, a sua empregada contou outra, quero entender!
-Agora você vai querer visitar o gato? perguntou ironica a mulher.
-Pode até ser. Pelo menos quero ter certeza que vcs nao maltrataram esses bichos!
Furiosa, a mulher gritou:
-Eu não tenho tempo de ficar olhando gato! Vc pense o que quiser. Ta sabendo que me denunciaram?!?!
-Não. Por que?
-Eu lá sei! Não fica aqui na minha frente, vai-te embora! Isso é um absurdo, por causa de gato, ainda mais de rua! Tô aqui fazendo meu trabalho honestamente. Pega esse gato e some!
-Nossa assim que vc trata os clientes.
-Vc nao é minha cliente! berrou.
Nisso, uns 7 camaradas estavam sentados olhando pra elas, atônitos, ou bebados, se perguntando: Mas que diabo tá acontecendo hein?? Manda dá um coice de mula nesses gatos! Cumé que pode? Traz mais uma cerveja.
-Credo! Como vcs são briguentas! Como é que pode? Diz véinha Cricri desolada e vai por quarto assistir televisão.
-É pra acordar as pessoas! diz Encrenca ao quarto vazio.
Miau.

domingo, 26 de abril de 2009

Jessier Quirino


Nesta última terça-feira fomos - eu, minha mãe, tia e vó - assistir o poeta, arquiteto, "matuto" e contador de causos, Jessier Quirino. Pense num homem baum! Ele vem de Campina Grande, Paraíba, aqui do lado. Conta as histórias dos matutos acompanhado por seus músicos, as vezes em prosa, as vezes em versos, e algumas mesmo, na cantoria acompanhada de viola. Êta caba arretado!


Mas antes de ele começar tivemos a oportunidade de comprovar que a quantidade nunca vai superar a qualidade. Eu sempre digo que prefiro comer um pedaço de pizza boa, do que me empanturrar num rodizio de pizza ruim. Pois bem, não vou citar o nome do cidadão, vou apenas dizer que ele entrou no palco as 18h35 e só saiu as 20h. Nós estávamos loucos para ver o tal do Jessier, e quando digo nós, falo do Alberto Maranhão cheio. Se fosse um negócio bom, a gente até que aguentava, mas ele repetiu a mesma entoada, com palavras diferentes, 1h30. Uma música alta, de estourar os tímpanos. Nos encheu de quantidade, e pouca qualidade. Se tivesse feito apenas 30 minutos de show, acredito que iria deixar uma impressão diferente na platéia.


Mas voltemos à Jessier Quirino. Ele afirmou, logo no começo, que não é bem causo que ele conta, mas sim "acontecenças". As acontecenças são os causos propriamente ditos, com um toque de romantismo pra enfeitar a história. Contou a história de um matuto que vai no cinema da capital, e assiste um filme internacional com legenda! e quando volta, conta tim-tim por tim-tim pros cumpadres da região. Depois descreve um banheirinho das casas de interior. Fala do homem de 80 anos que vai no tribunal da cidade pra se separar da esposa cinco anos mais nova, que depois de ganhar uma televisão vive elogiando o Toni Ramos. Uma muito engraçada é a que ele conta quando um filho de fazendeiro vai estudar na capital, depois convida os professores pra irem visitar a fazenda do pai no interior. Este último, muito do contente manda preparar as comidas típicas e a sua sobremesa preferida: doce de leite de caroço (mas que diabo é isso?). Como só haviam 6 pires, a mulher do fazendeiro arma um esquema de primeiro dar os pires pras visitas, depois vai lavando pros de casa poder comer a sobremesa também. Acontece que o véio vai vendo as visitas se acabarem no doce, fica aogniado e diz: "Maria, me traz um prato de sopa!". A mulher acha melhor não, falta de etiqueta. Êta etiqueta pra atrapaiá. Para desespero do véio, uma das professoras do seu filho chega perto dele e pergunta: "o senhor não gosta disso não? tá tão baum...!", se lambusando no doce. No que ele responde sério: "eu daria o cú por um pires desse!". Ele contando e interpretando isso é muito bom. Satisfação garantidíssima!


O Jessir faz do interior - que as vezes a gente pensa que é sem graça, paradão, monótono - num campo pitoresco, farto de idéias, belezas e muita gente interessante. Ele defende a "causa" do sertanejo. Adorei! Quando tiver de novo, vou com certeza!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Definhando...


Vislumbro a beleza das cores, o prazer do amor, a liberdade da escolha, o belo da vida. Seria petulância dizer que vivo tudo isso assim ao mesmo tempo, e sempre. Certamente sucitaria inveja numa boa leva de gente. Mas enfim, de vez em quando me vem uma vozinha e diz "olha! isso é liberdade... olha! isso é felicidade...". Tenho pra mim que isso acontece com todo mundo, mas nem todo mundo tem tempo para dar ouvidos a uma voz "imaginária". Eu escuto, pra dizer a verdade, aquele conselho comum, injustamente ridicularizado, que diz: Siga seu coração! Eu sigo.
Presto atenção também nos sinais. Que sinais? Aqueles que Deus nos coloca debaixo do nariz, e ignoramos, seguindo em frente, rumo aos insignificantes moldes ditados pela sociedade. Todos os dias agradeço pela vida maravilhosa, pelo amor da minha família, pela saúde, pelo dinheiro, pela abundância do Universo que me chega, não todos os dias, nem de uma só vez. Mas não deixo mesmo assim de agredecer. Acho que agradecer é importante, não só a Deus, mas a todos que me rodeiam.

Tento também ver sempre o lado positivo das coisas que acontecem. Mas hoje me pergunto: onde está o lado bom da vida? Pelo fato de eu ter minha gata envenenada por uma veterinária! Levei a gata pra prevenir doenças, e a dra. lhe deu uma overdose, ou melhor, veneno e ela está quase morta. Passei dois dias agonizando com a gata paralisada, dando comida e soro com seringa, estimulando ela a engolir. E não houve melhora. Só piora. Já chorei horrores.


O nome do remédio e Ivermectina, popularmente conhecido como Ivomec. A gente usa pra tratar sarna, vermes, carrapatos e pulgas. Só que o Ivomec é perigosíssimo. É remédio pra boi. A dose tem que ser minúscula, e dada somente quando for realmente necessário. A pata deu na gata de 1 mês e ainda exagerou na dose. A gatinha foi definhando, perdeu os movimentos com o passar das horas, até ficar mole, como se estivesse morta, morte cerebral. Terrível! A outra veterinária, esta acredito que seja competente, está cuidando da bebê. Eu não aguentei ver o bichinho imobilisado, com os olhinhos acesos - acho que ela entende, mas as vezes delira. Não consigo entender se sofre ou não. Li num site que ela pode entrar em coma, ficar paralítica, e morrer... Espero que sobreviva e volte pra casa. Foi meu presente de aniversário (desculpa pra pegar mais um gato de rua, mas já era de mim pra mim, tava feliz). Aí eu pergunto, qual é o lado bom da história?

Meu pai e minha mãe tinham um texto colado no armário quando eu era criança que dizia algo do tipo "ande pelo caminho batido, mas não se esqueça as vezes de sair dele e abrir o seu próprio caminho em meio à floresta. Ele é mais difícil, porém mais virtuoso."

Hoje eu tô triste.

sábado, 11 de abril de 2009

Fim de semana na Paraíba


Tem um lugarzinho encantador no interior do Estado da Paraíba que se chama Bananeiras. O nome dado à cidade é por causa mesmo das bananas. Há grandes extensões de bananeiras. Fica a uns 400 metros acima do mar e é formado por vales repletos de frutos, plantas e árvores. Faz um friozinho agradável a noite, no entanto, durante o dia, o sol é tão forte e quente quanto nas praias daqui. Fomos para lá há três semanas fazer trilhas ecológicas. Você deve saber, mas vou esclarecer assim mesmo: é uma atividade do turismo que envolve caminhadas pelo meio de matas ou florestas, reconhecimento da flora e da fauna, alguns desafios no percurso e aventura. Existem muitos níveis dentro disso, basta escolher.

O nosso foi suave. Andamos no primeiro dia até a cachoeira do roncador. Uns 5km mais ou menos, de subidas e descidas no meio de alguma fazenda e mata. Nem pude a creditar quando vi que a cachoeira era de verdade. Aqui no nordeste fica difícil acreditar, muito seco, no verão os rios menores secam, os poços secam, não tem chuva. Aí ver uma cachoeira digna de nome, foi incrível! Tomamos banho rapidamente e partimos para o almoço, em uma cidade próxima chamada Areia. Foi ali que nos hospedamos, uma pousada aconchegante com vista pra um vale. Espetáculo. Almoçamos tarde e fomos direto para a UFPB, ver como é linda. Muitas árvores, plantas e canto da cigarra. Voltamos pra pousada, tomamos banho e já fomos comer pizza.

O grupo era de 30 pessoas. Todas as idades. Quase ninguém foi pro forró pé-de-serra, estávamos exaustos da viagem e da caminhada do dia. Devem ser uns 25o km até essa região, saindo de Natal.

No outro dia, todo mundo descançado, de barriga cheia de banana com melaço (especialidades da região), fomos para a a caminhada mais pesada. Uma trilha mais íngrime que da véspera, mais paisagens também. Saímos de Areia em direção a Lagoa Verde. O destino era o engenho que fabrica a cachaça Volúpia. Andamos por trilhas no meio de vales, sobe e desce, um menino se machucou, escorregou no cascalho e abriu o joelho. Pequena tensão, mas os primeiros socorros foram perfeitos e um motoqueiro levou o rapaz para o hospital. Ele levou 5 pontos. Foi puro azar, e alguma cerveja da noite passada.

Pelo caminho encontramos casebres de barro ou tijolo cru, pessoas magras nas janelas, vendo a comitiva passar. Vi também cada vaca gorda, uns burros habilidosos e cavalos majestosos. Depois de 1h30 andando pelo vale, chegamos à entrada da trilha que começa beirando um rio nada largo. Muitas pedras grandes, e escorregadias. Aqui começa o nível 3, afirmou o guia. Descemos correnteza abaixo, pulando, escalando e escorregando pedras. Deu um medinho, confesso, mas a emoção e companheirismo da galera equilibra. Chegamos a mais uma queda d'água. Nessa eu entrei de baixo literalmente, que bela massagem. Cada um ganhou um pedaço de rapadura pra chupar. Parece que dá energia, revitaliza, mas é tão doce. Continuamos descendo pelo leito do rio até chegar a uma barreira. Lá tinha um pessoal da terra, cozinhando feijão. Crianças brincavam nas pedras e pulavam na água com o auxílio de um cipó.

O ônibus nos levou direto pro engenho. Achei que a comida estaria pronta, mas não. En attendant, experimentamos as cachaças, especialidades da casa, de banana, abacaxi, cravo e canela, acerola, cajá, entre outras. Bateu no estômago e ban! Comi igual flagelado: galinha caipira, macaxeira, arroz, feijão verde, farofa e vinagrete. Hum. Estava delicioso.

Volta rápida à pousada, banho, juntamos as coisas e entramos no ônibus de volta pra casa, pra Natal. Amanhã já era segunda-feira, dia de branco, como diz Ana Luiza.