Num dia ensolarado de começo de ano no Brasil, dona Encrenca chega em casa com novidades.
-Tem um muquifo ali em cima, no meio da calaçada, atrapalhando a passagem das pessoas! Um absurdo. Isso pode?
-Ai Encrenca, deixa estar! Suspira Cricri.
O muquifo em questão é um barraco que serve comida, bebida, salgado, etc., em cima do passeio público numa rua do bairro de Capim Macio. É um quadrado de madeira de 1,5x2m, fogãozinho de acampamento, uma pia improvisada, sem higiene e serve o pessoal mais simples que vem à Zona Sul trabalhar, e a partir das 10h é reduto de vagabundos. O que fazem?
-Assistindo jogo de futebol numa televisãozinha ridícula e enchendo o cú de cerveja! E além do mais, ficam com aquele olhar espantado olhando pra nós, cabeças pontudas (definição de paulistas pra dona Santana-CE).
-Ai, você já vai brigar!?, Cricri geme.
Mas o que estava realmente incomodando dona Encrenca, não era o barraco propriamente dito, mas a atitude da responsável. Uns dias antes, muito agressiva e grosseira disse:
-Não quero saber de gato aqui não! Esses gatos ficam incomodando meus clientes! Eu quero que eles sumam!
-Mas olha, eles estão aqui, porque alguém soltou e por causa da comida que vc serve aqui no meio da rua... dona encrenca, tentando se comunicar.
-Por mim esses gatos já tinham sumido!
No dia que dona Encrenca chegou em casa reclamando do muquifo, foi porque os gatos que alimentava tinham realmente sumido. TODOS! Ela estava literalmente puta da vida. Quinze minutos depois já tinha ligado para a Sensul e denunciado o negócio ilegal.
Já relaxada, dona Encrenca resolve em casa uns probleminhas com a véinha Cricri, que não sabe comer sem sujar o chão, e que para piorar, come toda hora.
No outro dia, dona Encrenca descobre que um dos gatos ainda está por lá, enfiado atrás do barraco e não sai nem a pau. É Joana, arisca, que com certeza tentaram pegar, ficou assustada e não sai mais do buraco. Tenta entrar num shoppingzinho que tem por trás da rua pra ver se pega a gata. Está P.R.O.Í.BI.D.A. de entrar. Alguém reclamou.
-Sabe, tem horas que dá vontade de desistir... afirma Encrenquinha.
Dona Encrenca dá a volta de novo e seguindo Encrenquinha vê a mesma ir direto para a responsável do barraco.
-Oi! Quero saber quem foi que pegou esses gatos e pra onde eles foram levados! Vc contou uma história, a sua empregada contou outra, quero entender!
-Agora você vai querer visitar o gato? perguntou ironica a mulher.
-Pode até ser. Pelo menos quero ter certeza que vcs nao maltrataram esses bichos!
Furiosa, a mulher gritou:
-Eu não tenho tempo de ficar olhando gato! Vc pense o que quiser. Ta sabendo que me denunciaram?!?!
-Não. Por que?
-Eu lá sei! Não fica aqui na minha frente, vai-te embora! Isso é um absurdo, por causa de gato, ainda mais de rua! Tô aqui fazendo meu trabalho honestamente. Pega esse gato e some!
-Nossa assim que vc trata os clientes.
-Vc nao é minha cliente! berrou.
Nisso, uns 7 camaradas estavam sentados olhando pra elas, atônitos, ou bebados, se perguntando: Mas que diabo tá acontecendo hein?? Manda dá um coice de mula nesses gatos! Cumé que pode? Traz mais uma cerveja.
-Credo! Como vcs são briguentas! Como é que pode? Diz véinha Cricri desolada e vai por quarto assistir televisão.
-É pra acordar as pessoas! diz Encrenca ao quarto vazio.
Miau.