Lendo o romance da Fernanda Young, "Carta Para Alguém Bem Perto" (RJ : Objetivo, 2001), me identifiquei demais com a personagem principal: Ariana. Não que a vida dela seja igual à minha (mas os seus pensamentos...). Ela é casada com um cara podre de rico, dono de uma rede de supermercados - Lisboão - que adora ela do jeito que ela é. Tem uma filha, que tem um cachorro chatinho. A narrativa se desenrola, no geral, em duas épocas diferentes, intercaladas assim, ao longo das 383 páginas. Tem também uns capítulos nos quais ela, Ariana, escreve num diário, ou cartas para um amante platônico que tem o escritório na frente da sua escolinha de balé. Isso mesmo: balé. Na parte em que ela está em São Paulo, ela tenta ocupar o tempo. Porque ela não tem nada pra fazer. Vive sozinha em seu apartamento duplex enorme e perfeito, enquanto seu marido trabalha e sua filha vai para a escola. Em casa, os empregados fazem tudo. Ela fica no ócio de não sabe o que fazer. Suas atividades são: ir ao balé (por querer dar sentido à sua vida) e encontrar-se com o analista (que no final, ela manda para aquele lugar). Não se conforma ter que pagar alguém pra ficar ouvindo suas lamúrias sem resolver nada! Ela não vê a análise como um trabalho à longo prazo. Quer resultados imediatos. Resolve voltar a fumar maconha. O marido acha a idéia estranha, mas não contraria a esposa. Sabe que ela é excêntrica. E adora isso.
A outra parte da história acontece na Europa, onde ela encontra com o amigo gay do marido, Bruno, que tem Aids e está com os dias contados. Resolvem viajar para aproveitar o momento, como uma despedida feliz. Eles alugam um carro e rodam a Côte d'Azur, Italia, Suiça, Alemanha em alguns dias. Ao som de fitas-cassetes de músicas cafonas, ou antigas, o que intensifica o espírito consumista de Ariana. Ela só pensa em ouvir o barulho da maquininha do cartão de credito! Os dois descobrem que se amam. Amor daqueles que se sonha. Enfim.
Teve um trecho no qual Ariana, pensando com seus botões, revela idéias que não são só minhas! (sic). Acredito, agora, que muita gente deve ter essas "crises" de pensamentos. Ou não? Segue um pedacinho do devaneio abaixo:
"Não pode ser. Não posso ser assim. Estar dessa forma, existir. Por quê? Será que todo mundo sente isso? Essa esquisitice enquanto respira? Todo mundo pensa enquanto respira? Pensa em cada bocado de oxigênio que entra e que sai, depois, já estragado, já gás carbônico? Eles sentem assim, da maneira que eu sinto? Gostaria de saber se as pessoas ficam pensando sobre o ar ou se apenas o respiram, de forma simples e vital. Queria saber se é mais agradável ser outra pessoa. Se é bom sentir-se outro. Num corpo mais gordo - será mais macio existir dentro de 90 quilos? O gosto da boca, a sensação de estar vivo, seria diferente? Porque há sabor de vida dentro da cavida bucal. Há microorganismos vivos por todos os cantos da gente. Alguém aí sente isso? Como eu sinto, desde menina, cócegas estranhas, que me inquietam e agoniam, por causa desses seres viventes, que têm funções biológicas que nunca entendi. Quantas bactérias carrego comigo? Por que, afinal, essa complexidade toda? Essa chatice indagativa existencial?
Por que não sou burra? Por que eu não sou uma mesa? Simples como uma mesa. Óbvia como uma mesa. Prática. Aceitável. Necessária."
Bom, Ariana sofre de depressões e euforias descontroladas. É meio louca. E quem não é? Ela não mede palavras e faz o que quer. Mesmo assim, se sente vazia. Até que alguma coisa importante - e trágica - acontece. Sua vida muda o curso. Ela assume uma nova atitude. Assume o papel de uma outra mulher. Em cada mulher, acredito, são tantas personalidades. Temos que escolher qual cai melhor para determinada situação. Tô mentindo? Ela toma as rédeas e assume sua nova vida. Não vou contar o que acontece no final. Odeio quando me contam o final! Quem se interessar, que leia o livro! Eu adorei.
2 comentários:
Dáraaaaaaaaaaaaaa..adorei seu blog e aproveitando pra dizer vc é uma figurinha inesquecivel..até hoje lembro do seu "puta que pariu reginaldo" la na no marketing...gostei do blog e da maneira que escreve e passa as coisas..sucesso!
Dáraaaa, estou quase copiando e colando o comentário anterior (que falta de criatividade a minha, né não?).
Mas ó, é que eu também gostei por demais do seu blog e vc é realmente é uma pessoinha inesquecível.
Quanto ao post, estou ansiosa para ler este livro. Muito mesmo.
Voltarei para ler os demais textos.
Você está escrevendo MARA, neguinha.
Adorei.
Um beijo enoooooorme.
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