Ai, ai, realizei um grande sonho da minha adolescência, tempos de que me lembro escutar meus pais falarem deste paraíso natural. Um mar azul turquesa, com água límpida que dá para ver o fundo. Animais marinhos. Muito verde. Sempre me deslumbrei com as cores do mato e das águas. Quando me mudei para Natal, criei o hábito de pensar constantemente: estou vivendo no ponto mais próximo da ilha e ainda não fui lá! Um sentimento de desejo quase realizado.
Quando a Sarah me veio com idéias de viagens pelo Brasil, pensei logo em ir pra Noronha. Ela veio com a idéia de ir para Belém se enfiar no meio do mato. Ver bichos e índios. Pessoal de fora adora essas coisas, e eu que moro aqui, fazia tempo que não pensava neles. Sempre quis conhecer o Mercado do Ver-o-Peso, aquele cheio de coisas estranhas e diferentes, vindas de um mundo mais palpável que o meu. Gostei da idéia, mas a ilha brilhava na minha cabeça.
Fomos ver os preços. Belém, sem nada só avião e hotel, dava uns 1500 reais para 4 dias. Noronha deu 1200 com avião, hotel e um passeio de barco. Pareceu mais interessate a ilha. E também deu um medinho de ir pra Belém nessa época de muita chuva. Depois que conversamos em Pipa com uns estrangeiros que estão viajando pelo Brasil, chegamos à conclusão de que talvez a ilha de Fernando de Noronha fosse a melhor idéia mesmo, porque todo mundo pega o barco de Belém até Manaus e é aí que se sente a selva. Iamos voltar frustradas de não poder ir mais longe. Além disso, eu fiquei com medo, confesso aqui, das doenças e das histórias que ouvimos sobre lá. Essa vai ser nossa próxima viagem. Daqui 1 ou 2 anos. Daqui pra lá eu vou ganhando a coragem!
Chegamos de Noronha ontem a noite. 4 dias e 3 noites numa pousada muito boa, que a Tania conseguiu pra gente. O nome: Simpatida da Ilha. Na Vila dos Remédios, perto das praias: da Conceição, Central e do Cachorro.
A operadora que recebeu a gente era a Atalaia. A Sarah e eu programamos a nossa tarde. "Chegamos no aeroporto às 13h, até chegar na pausada meia hora estourando e tchau: biquini e praia!!!". Começamos a perceber o movimento da ilha nessa hora. Nos levaram para uma empresa de mergulho e passeios de barco. Passaram um vídeo sobre o arquipélago. Passaram mil e uma opções de passeios e pacotes. A Sarah e eu saímos da sala e esperamos os outros pra pegar o ônibus. 1h já tinha passado. E o pessoal comprando passeio. Temos que esperar todo mundo??? Sim, sim. Esperamos indignadas. Quase pegamos carona. Às 15h30 chegamos enfim na pousada. Mortas de fome, fomos em direção à praia, procurando um restaurante. Achamos um ideal, entre a Praia Central e a Praia da Conceição. Sentamos de frente para o Morro do Pico. Morro este que não se pode mais subir, para minha infelicidade. Para driblar os preços calientes dos pratos, montamos o nosso próprio menu: porção de arroz, de felijão, de farofa, uma salada sortida e bananas fritas (sem o empanado) deliciosas. Total: 38 reais. Depois de encher a pança, corremos pra praia da Conceição. Avistamos uma rede de volei. Oba, esporte! Andamos até onde deu, por causa da maré. Entramos no mar. Que maravilha! Transparente, límpido e fundo. Foi perfeito o sol mergulhando no mar. De noite comemos crepe e fomos dormir. Ainda estávamos cansadas de Pipa.
Cedinho o ônibus da operadora foi buscar a gente e outros turistas nas respectivas pousadas em direção ao porto. Nosso passeio de barco. Fomos de cabo a rabo do Mar de Dentro. Vimos do mar as praias tão famosas: Cacimba do Padre, Boldró, Baía do Sancho, Baía dos Golfinhos. Fizemos apnéia na Baía do Sancho, mas não nos deixaram ir para a beira da praia. Um dia depois eu descobri o porquê. O mar tava meio sujo, deu pra ver uma tartaruga e um polvo, fora os peixes de muitas formas e tamanho. Fom bom o passeio. Mas ainda não estava impressionada com a ilha. Será que é verdade que quando a gente espera muito uma coisa, a gente acaba se decepcionando? Por que superestima? Imagina demais? Fantasia muito?
De tarde, depois de comer num self-service à 32 reais o quilo, descemos na Praia do Cachorro. E lá conhecemos o Little Dog. De nome Jeferson, mas conhecido na cidade como cachorrinho (o pai que é o Cachorrão), foi simpático desde o primeiro minuto. Combinamos com ele de fazer um passeio pela ilha no outro dia, um ilha tour alternativo. Ele conseguiu um buggy por 80 reais. Enchemos o tanque com 40 reais. A gasolina lá custa 3,78 reais.
Começamos pela Praia do Leão, que fica no Mar de Fora. A visão é mais fria. A cor do mar é intensamente azul, pendendo pro Turquesa. Um vento forte do Oceano. Nosso guia apontou as pedras gigantes em frente: Viuvinha e do Leão. O nome vem de uma história de que encontraram um leão marinho morto nessa praia. E a pedra em frente tem o formato de um leão marinho. Vimos a praia de Sueste. Linda também. Desistimos da Atalaia. Queríamos ver o máximo, e lá íamos perder tempo esperando a vez de entrar. O lugar habita recifes e piscinas de um joelho de profundidade. Não se pode tocar em nada, tem que boiar. Fica pra próxima. Visitamos os arredores do porto, o museu do tubarão. De lá tem uma paisagem linda, quando se olha em direção ao Buraco da Raquel. Raquel era a filha do militar que comandava a ilha. Era para esse buraco que ela ia namorar com os soldados. Rebeldia adolescente. Terminamos a manhã passeando pela praia do Boldró, no Mar de Dentro, e nadamos na Praia dos Americanos. Por que americanos? Parece que foram os americanos que começaram a tomar banho pelados ali. A praia é pequenininha, aconchegante e deserta. O banho foi ótimo. Com ondas grandes e fortes quebrando no raso. Um cardume enorme de peixes nadava ao nosso lado. Sardinhas. A água é transparente. Isso me impressionou muito naquelas praias de Noronha. Não me lembro quando foi a última vez que consegui ver meus pés dentro do mar. A praia dos Americanos recebeu seis, e não cinco, estrelas da Sarah. Linda! Amanhã temos que voltar.
Almoço em outro por quilo, um pouco mais barato. A bateria da máquina acabou e fomos atrás de um carregador na Vila dos Remédios. Achamos, demos uma carga pequena e continuamos o passeio até a Cacimba do Padre e a Baía dos Porcos. Mergulhamos na última. O mar estava mais alto. Ondas fortes e algumas pedras. Vimos uma tartaruga, peixes. É louco quando coloco a cabeça dentro da água e olho um mundo novo. Normalmente só vejo o espelho refletindo o mundo daqui de cima, sem me dar conta que em baixo dele existe um mundo impressionante. Eu respeito.
O próximo destino foi o Mirante dos Golfinhos. Para chegar lá tivemos que percorrer uma trilha no mato. Já gostei. Assustamos três lagartões (não lembro o nome, seria Juá?). Vimos uns bichinhos que pareciam meio coelhos, meio esquilos (também não gravei o nome). Na entrada do Mirante uma pedra da minha altura, presa à ela uma placa homenageando o Sarney por ter aprovado o projeto de estudos do golfinho rotador. Quando a paisagem se abriu na nossa frente, ninguém falou. Eu fiquei extasiada com aquilo. Tinha barulho de lugar selvagem, intocado. Pássaros voavam calmamente pelo céu. Nem precisamos ver golfinhos. O horário era perfeito: 4h. O sol já estava baixando, a luminosidade muda nessa hora. Fica mais rosa e suave. Sentamos ali nos bancos de madeira protegidos por duas árvores centenárias. Meditamos. Eu mesma não consegui. Estava tão interessada em observar os movimentos da natureza que não consegui me concentrar. Foi o momento mais lindo da viagem para mim.
Passamos por mais uns três mirantes dando em cima das praias que vimos do barco um dia antes. E descemos pelo meio da pedra uma escada de incêndio, bem apertadinho. Depois se desce escadas talhadas na pedra e pronto: bem-vindo ao Jardim de Eden. Adão e Eva fariam loucuras por ali. A praia mais romântica. Ali me acendeu a vontade de ter alguém em quem pensar. De novo as máscaras e snorkeling. Ai! Entramos pelo lado direito da praia. Tinhámos que passar como por um corredor entre duas pedras: uma comprida pra cima e outra pro lado. A Sarah entrou sorrateira. Enquanto eu ainda criava coragem, ela já estava chegando no final do corredor. Falei pro guia que estava achando que o mar estava subindo. Ele me tranquilisou dizendo que se subisse a gente saía na hora. Quando o mar aumenta, se prepare para uma série de cinco ondas caprichadas. Eu entrei e consegui ir até o final do corredor. Mas era olhando pra baixo e pro lado a cada 30 segundos. Estava desconfiada do mar mudar de uma hora pra outra. Tava na cara. Queria vencer o medo. Dei umas duas braçadas para depois da pedra, olhei pro lado do horizonte e vi a formação da onda. Ai meus Deus! Cadê o Jefferson? Tava do meu lado. Menos mal. Quando a onda chegou em nós ele disse: busca areia! Hein? Lavagem de roupa. Quero sair agora pelo amor de Deus! Ele devia estar achando graça. Fomos mais pro fundo pra poder pegar a onda antes de quebrar. Ela quebra inteirona, com som de trovão. Depois que saí, olhei pro mar e não vi a Sarah. Tinha até esquecido. Lá estava ela, batendo perna tranquilamente com a cara enfiada na água. Só que ela não percebeu que estava no cume da onda. Quando vi, já era tarde para gritar. Levou um rola. Saiu bêbada de dentro da água, sorrindo.
Pegamos o caminho de volta. Já estávamos exaustos, mas queríamos ver o pôr-do-sol de um pico legal. Tentamos e não conseguimos chegar a tempo para ver o sol se por no Mirante do Padre. De noite fomos pro forró do Bar do Cachorro. Foi a primeira noite que saímos.
Último dia. O buggy ainda estava com a gente. Cada uma escolheu o seu lugar favorito e seguimos destino. Primeiro fomos para a praia dos Americanos. Tentamos tomar banho peladas, mas uma raia bastante grande rapidamente nos fez chispar da água. Tomamos sol, meditamos, tiramos fotos. Quando cansou, fomos para o Mirante dos Golfinhos. Tinha duas meninas do Ibama observando o movimento dos golfinhos. Um grupinho apareceu. Nos despedimos. Fomos para a pousada, arrumamos as coisas e fomos comer no restaurante do primeiro dia.
Cansadas, com vontade de ir embora, desgostosas com o tratamento das pessoas da ilha, nos alegramos de termos visto o que deu vontade. E só o que foi possível. Voltarei para ilha pela natureza, pelos lugares que não conheci, para o mergulho também. Mas o pessoal que trabalha na ilha precisa de algum tipo de instrução de como fazer com que as pessoas queiram voltar também por eles. Se a ilha virou ponto turístico, as pessoas precisam aprender a lidar, ajudar e entender o turista. Foi lindo! Valeu a pena. Sonho realizado! Estou pronta para uma nova aventura!
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