quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Lelé e Dacuca ou O passeio das meninas

Acordei engasgada com o muco. Minha garganta doía demais. Sabe aquela esperança de dias melhores? A gente só sente isso quando tá no aperto. Fui dormir ontem, depois de tomar o infalível Benegripe, achando que ia acordar zero hoje. Acordei. Abri os olhos e vi o teto. Tentei não me mexer, será que não vou sentir nada mais de dor? Concentrei-me em meu corpo e dei a primeira engolida dolorosa do dia. Ai, ai. Levantei com tudo, irritada, e mais uma pontada, agora na nuca. Ai minha cabeça. O chão balançando. Ai, ai, ai. Pior hoje que o nariz estava entupido. Coloquei rinossoro e tomei um banho quente. Fiz chá de erva doce e fui chamar a vó. Estava decidida a ir para o pronto-socorro logo cedo. Três dias daquele jeito não dava mais pra aguentar.

-Quer ir comigo no hospital vó?

Encolhida na cama, disse que sim com a cabeça. As duas muito mal. Às 7h já estávamos a caminho do centro da cidade pra buscar a segunda via da meu cartão do seguro de saúde, que foi roubada. Foi uma hora de enrolação, e eu mal. A vó no carro esperando. Não conseguiram imprimir o cartão, mas garantiram que no pronto-socorro estariam me esperando. Ótimo!
Chegando lá, aquela história de sempre: muita gente. Esperamos.

-Vó pra qual você quer ir: clínico, cardiologista ou ortopedista?
- Primeiro no ortopedista por causa do meu braço. Dói muito.
- Tá certo. Eu vou no geral mesmo. Então vamos separadas viu?
- Tudo bem.

Fui a primeira a entrar. O médico me avaliou como estado de infecção forte na garganta e no nariz. Congestão total. Posso imaginar o desconforto. Não me diga. Vou mandar você pra enfermaria, fazer uma coleta de sangue, um raio X. Raio X? Tá na chuva é pra se molhar. Se tá com medo pra que veio? Fui pra enfermaria.

- Mas vocês vão colocar tudo isso de soro? E que remédio vocês colocaram aí? Pra dor? Hum. Acho que um tubo só é suficiente.

Primeiro ela errou a veia na parte debaixo do braço. Pedi pra ela pegar na mão. Dói. Tirou o sangue e injetou o soro. Olhei pra porta e lá ia a vó numa cadeira de rodas, empurrada por um funcionário, em direção aos raios X. No céu. Depois do resultado, tomou uma injeção de antiinflamatório para o braço.

O soro com o remédio para tirar a dor, não melhorou os picos de calor e de frio, nem os estados de sonolência. Estava ficando com fome também. Encontrei a vó na recepção. Ela esperando agora para ir no clínico geral e eu retornando no meu para saber do laudo. Sinusite. É mesmo? Sim, sim. Antibiótico e corticóide. Ah, corticóide eu não vou tomar. Por que não? Porque não gosto. Tem que tomar, ajuda a diminuir a secreção aqui. Apontou para a região abaixo dos meus olhos.

A vó foi fazer outra radiografia. Não acredito! Estava derretendo naquela sala de espera. Muito barulho, muita gente, um calor, um programinha ridículo na Record, e nem o livro que eu tô lendo me animava. Uns 45 minutos depois ela voltou na cadeirinha de roda. Eu já vinha pensando alguns minutos antes que eu devia ter paciência, compreensão e tolerância. Foi uma eternidade. Quando vi ela chegando com a enfermeira falei:

- Não me inventa mais nada. Preciso ir embora daqui. Como é que foi o raio X?

Paciência, compreensão e tolerância.

- Pega minha carteirinha.

O passeio acabou.

Depois de passar pelo ortopedista, colocaram nela uma faixa para manter o braço dolorido imobilizado. Nossa vó, quanto tempo você vai ter que ficar com isso? Não sei, respondeu séria. Assim que saímos do hospital ela disse que incomodava demais. De lá, fomos almoçar fora pra ninguem ter que lavar a louça. Não é fazer comida que enche, é a louça que pesa.

E a faixinha atrapalhando os movimentos livres de dona Lourdes. No elevador ela disse:

- Não vou aguentar isso. Não tem jeito, gosto de mexer o braço assim. Fazendo círculos.

Entrou em casa e foi arrancando a faixa. Me ajuda aqui!

Nenhum comentário: