sábado, 26 de setembro de 2009

Do lado de cá da mesa

Sofia não gosta(va) nada da idéia de dar aula. A imagem dela ser a tirana daquele quadrado assusta. Claustrofobia. O que a preocupa mais são os alunos. Os rebeldes e os preguiçosos. Talvez por ela ter sido um deles. Nas salas da faculdade entendeu que a coisa poderia ser tranquila, mais relaxada. Depois que saiu do ensino médio se sente mais livre. O que vou fazer da vida? Tantas opções se apresentam. Precisava experimentar algumas possibilidades.
Dar aula, nunca passou pela sua cabeça. Sempre se achou pouco para transferir algum saber. Qualquer um. Fez bicos às pencas. Mas nunca foi aquilo que ela realmente quisesse. Não tinha rolado o tal do plim! Ao passo de pouco tempo enjoava de tudo. Ainda enjoa. A rotina lhe mata.
Descobre-se agora professora. Ai que medo. Será que é isso? Ser professor nunca lhe pareceu tarefa fácil. Incentivar a turma, passar conhecimento, responder perguntas. Tarefas assaz complicadas. Cada qual demanda estudo profundo. Um constante aprender. Não tem dia que não se pense nelas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Assédio Sexual - Parte 1


- Nas duas primeiras semanas de trabalho, que começou no dia 5 de agosto de 2008, aprendi a conviver com o meu chefe, elogiando minha roupa, meu cabelo. Até que um dia me perguntou a cor da minha calcinha. Eu disse que estava passando dos limites.

- Foi para Mossoró fazer uma campanha política. Pelo telefone fazia insinuações, sempre insistindo na cor da minha calcinha. Eu pedia pra ele parar, queria tratar dos assuntos profissionais, mas ele sempre insistia e dizia que no fundo sabia que eu gostava, “um pouquinho não é”. Não!

- Depois vieram as conversas no msn (as duas últimas estão no processo). A primeira resulta de uma visita que ele fez a Natal e a esposa, durante a campanha, que durou um dia. Passou pela empresa, e gostou da minha blusa. Nesta altura eu estava irritada com a situação, não falava mais com ele, só o essencial do trabalho. Ele percebeu, mas não se conteve e me mandou um sms, dizendo “ADOREI sua blusa hoje... hehehe... Bjus, se cuida!”. Deixei pra lá. No outro dia entrou no msn e falou de novo da blusa, insistente. Ela não tem nada de mais além de ser discreta e elegante. Depois, na última conversa pelo msn, não agüentei e briguei com ele. Logo em seguida me ligou dizendo que eu tinha que entender o jeito dele, que ele era assim, mas que tomaria mais cuidado comigo para não me ofender.

- depois disso não tivemos mais problemas, até ele voltar de Mossoró e voltar a trabalhar na empresa como editor. Foi no dia 5 de outubro.

- Logo de cara fez questão de me deixar desconfortável com sua presença. Me barrava a passagem quando eu queria sair da minha sala, ficava na porta olhando pra minha cara, com olhar insinuante. As vezes, eu ia na sala de edição mostrar algum orçamento mais complicado de fazer, pra pedir auxilio, e ele me dizia que o que eu estava merecendo eram umas boas palmadas. Isso ele já dizia ao telefone, quando estava em Mossoró. Outra vez que fui tirar duvida sobre um roteiro, e qual seria o áudio que pegaríamos, ele me disse tudo e quando já estava no corredor pra voltar pra minha sala, ele fez “Psiu”, eu já olhei meio sem vontade. Ele fez uma cara de tarado e dobrou o braço com o punho em riste como quem diz: “to de pau duro”. Saí enojada.

- Até que umas duas semanas antes de eu sair, a situação piorou drasticamente. Ele começou a passar o dia todo na empresa, e quando se cansava de trabalhar, vinha na minha sala, sentava na mesa em frente e ficava falando da vida intima dele a da esposa, do tempo que eles não transavam, do sexo oral que havia rolado entre eles e mais nada por causa do enjôo da mulher que estava pra dar a luz, que ele estava necessitado, precisava gozar, “não há nada melhor do que gozar, do que o sexo!”. E disse que era a favor do sexo pelo sexo, que naquele momento precisava de uma amiga que transasse com ele sem se apaixonar, só pelo prazer da transa, porque garantiu que ele era muito bom de cama, que sua maior preocupação era o prazer da mulher. Não agüentaria olhar pro rosto da mulher insatisfeita na cama.

- Neste mesmo período, veio por trás, pegou meu cabelo num maço, e puxou como quem está cavalgando um fogoso “cavalo”. Você gosta disso? Perguntou com aquele sorriso insinuante. Gritei e mandei ele soltar, não me encosta! Ele disse pra eu ficar quieta!

- Pela primeira vez cheirou meu cangote, sai daqui! eu disse, e ele respondeu que não estava fazendo nada de mais, que eu estava exagerando. E ainda me perguntou qual a marca do perfume pra disfarçar.

- Na quinta-feira, 6 de novembro, foi a última vez que ele me encostou. Era de tardinha, eu estava de pé, falando no telefone do fax, perto da parede, virada para a janela, negociando um orçamento com a TP Publicidade, tentando entender melhor como era o VT que eles queriam fazer. Ele chegou sorrateiro, de um jeito que eu não percebi, até que me encostou por trás e deu uma longa fungada no meu cangote. Ele estava tão perto e inebriado, que consegui acertar uma cotovelada nele e disse pra ele sair de perto de mim e me deixar trabalhar. Ele saiu rindo. Ainda fiquei até o final do expediente, para receber o salário do mês, que já estava atrasado. Mas eles não pagaram ninguém!

- Na sexta eu não fui trabalhar, não queria mais trabalhar, estava com nojo. Só queria receber e nunca mais ouvir falar nele, nem na empresa.

- Segunda-feira fui buscar o dinheiro. Ele não estava na empresa, também não atendeu o telefone pra me dar alguma explicação. O celular estava desligado, assim como o da esposa e o telefone da residência chamou e ninguém atendeu. Liguei pro pseudo-sócio, que disse que isso era com o chefe e não com ele, mas que poderia tirar da conta dele e me dar na hora do almoço. Infelizmente não peguei esse dinheiro. Peguei minha bolsa e fui embora. Umas 11h o chefe me ligou como quem não quer nada. Falei muito do que pensava sobre o funcionamento da empresa e das atitudes dele e do “sócio”. Estava muito nervosa, mas no final da conversa estávamos numa boa. Até me convenceu de trabalhar no outro dia pra deixar as coisas em ordem para a próxima pessoa que fosse ficar no meu lugar. Eu aceitei com a condição que ele deixasse meu dinheiro na gaveta do escritório, era a minha garantia.

- Cheguei na terça as 8h no escritório pra fazer tudo logo e poder dar um fim naquela história. Só que ele não deixou o dinheiro, meu salário, aí foi o fim. Além de agüentar as investidas sexuais dele, ainda era enganada. Liguei pra ele na hora, perguntei pelo meu pagamento e ele me xingou, disse que não era criança e me mandou sair da empresa e esperar ele na rua, que ele já estava chegando. O Paulo chegou em 15 minutos. Contei a real, disse porque estava saindo pra ele, por causa do assédio sexual do colega empresário. Ele me disse que não era nem a primeira nem a ultima vez que ele fazia isso, que era compulsivo... E eu com isso? Logo ele foi embora.

- depois de 2 horas de espera na rua, no sol, o outro editor me chamou, disse que era pra eu subir e assinar um recibo e ir buscar o dinheiro na Praça das Flores. Eu já estava aos prantos, muito nervosa, liguei e disse que não ia. Em 5 minutos ele chegou ameaçador, gritando e xingando, jogou os 500 reais na mesa como se estivesse me fazendo um favor. Aí eu disse a razão da minha partida na cara dele, na frente do outro, aos berros pra vizinhança toda ouvir. Quando eu disse que estava saindo por causa do assédio dele, ele me perguntou se eu não agüentava pressão. Desde quando assédio sexual é algum tipo de pressão admissível?

- Assinei o recibo e parti.

domingo, 20 de setembro de 2009

Só porque eu gosto

José
Carlos Drummond de Andrade

"E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio – e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde?"

sábado, 19 de setembro de 2009

Capital do país


Gostei de Brasília. Mas não pra morar.
Lugar que você depende de um carro pra tudo. Tudo mesmo. E aquela idéia de setores? Achei o Ó. Não tive acesso aos bairros limitrofes (dizem que é mais normal), por estar sem carro. O dia que cheguei mais perto disso, foi numa noite de teatro, no Sesc Garagem. Pegamos carona com o taxi do Godo até a W3 e lá pegamos um busão. Entramos um pouco mais na cidade em si. Porque aquela avenida da Esplanada é só visão e imensidão. Tudo parece perto, mas é tão longe. Gastei sola de sapato debaixo de chuva e de sol. Descobrimos um ônibus gratuito no primeiro dia. Foi a glória. Meio longe do Mané, mas válido. Passava na frente de tudo o que era Nacional. E também por dentro da UnB. O motorista já familiarizado com a gente, nem reclamou quando comi um abacaxi no palito dentro do carro. O bom de lá são as frutas vendidas na frente dos Ministérios, aos pedaços. Não passei fome, comi muita bagana. E salada de frutas.
No primeiro dia corremos pelos Monumentos Nacionais: teatro, catedral, congresso, biblioteca. Chovendo. Que sorte a nossa. Dizem que o ar é muito seco e eu não senti isso. Graças! Segundo dia, foi sete de setembro. O povo todo na rua, aviões no céu e Lula no telão. Dia de festa. Chegamos no Congresso andando. A volta foi sofrida. No primeiro dia perdemos um puta espetáculo do grupo Armazém. No segundo compramos os igresso para os próximos dias. Olha só a nossa sorte: semana de Cena Contemporânea Internacional. Assistimos um espetáculo francês e outro de BH. No terceiro dia tentei ir no Congresso de professores de francês. Mas escolhi mal e saí de lá emputecida. Pegamos o bus grátis e fomos conhecer a universidade federal. Linda! Encontramos um garoto que nos apresentou os lugares mais interessantes. No quarto dia escolhi melhor. Fui à uma palestra do Marcos Bagno, fiz uma oficina de animação em sala de aula e de tarde foi o must: um palestra de escritores! Me esbaldei. Fiz uma pergunta fatal. Conheci o professor tal e voltei satisfeita com o Congresso. Mais nada superaria essa tarde. Foi perfeita. Acreditem. No último dia, saí com um pessoal de lá, pra ver a night da galera. Convenci todo mundo a não pirar, ficar num bar trocando idéia era o melhor que se tinha pra fazer. Mais um ponto positivo. Conhecer gente é bom.
A epopéia da volta foi estressante. Pegamos dois ônibus pra chegar no aéroporto. Um sufoco, com aquela mala desconfortável para aventuras deste tipo. Mas deu certo. Sempre dá.
A impressão que ficou? É Brasília lá e eu cá. Quando voltar vou direto pra Chapada. Achei tudo muito na cara. A pobreza encarada como natural, as drogas dominando a cabeça dos jovens, os políticos nadando em dinheiro. Monumentos históricos imponentes, gente suja dormindo nas calçadas. Muita pedra. Gostei da vegetação. Vi uma cotia. Nos olhamos quando o tempo parou numa beira de estrada. Foi mágico. Valeu pelo congresso, valeu pelos amigos encontrados, pela aventura e novidade, por não ter visto um só bicho abandonado (só gente... Infelizmente). Pelas risadas. Pelos sufocos. Pelo espírito de equipe. Pelo teatro ("pra curar a seca de Natal", segundo Elias). Viajar, sempre é válido. Foi bom também ter tirado a idéia maluca de querer morar lá. Só fico pensando em Nostradamus... Por que ele foi apontar bem aquele lugar na sua profecia? Que saco. Próxima parada: os Andes. Tem que ser um lugar alto gente!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Descontrole saudável


Aceitar a vida como ela é. Parece uma fórmula confortável. Mas quem é que aceita? Tem alguém aí que consegue ir levando numa boa? Me arranco os cabelos só de pensar que daqui dois dias, dois!!!, vou ter uma aula de 3h para dar. Suspiro angústiado. O que vou fazer? Como será que os alunos serão. Será que vão gostar de mim? Ou isso não importa. Terão que me suportar! Imagina se eu consigo pensar assim... O sorriso é garantido. As vezes amarelo, mas é.

A Lú me disse: "amiga, você sempre fica assim quando as coisas fogem do seu controle". Parei pra pensar e talvez seja bem verdade.

Ansiosa comecei a fuçar na internet e de vez em quando encontro a luz no final do túnel no blog da Nina Veiga (http://ninaveigacronicas.blogspot.com/). É engraçado. Hoje tinha lá o título: Qual é o número do futuro? E era exatamente o que eu estou sentindo: a ambição de controle. Ela também quer ter controle sobre tudo. Confessa que se pudesse, mudaria os nomes dos meses ao seu gosto. Logo em seguida, ela diz uma grande verdade : "O controle, na maioria das vezes, esconde um grande medo de viver". E conclui dizendo que "às vezes é mais saudável deixar a vida me levar de forma suave e superficial".

Vou me esforçar para por isso em prática! Dar aula, quero acreditar, vai ser uma ótima experiência para atenuar essa minha mania. Aprenderei a estar sempre preparada para o inesperado. Pois a vida é assim, uma sequência de inesperados. A única certeza? Que vamos morrer um dia.