segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Minha querida

Me lembro desde pequena esse seu jeitão,
de fazer tudo dar certo,
mesmo quando, as vezes, era preciso sair na porrada.
Muito decidida, resolveu parar, e parou.
Muito objetiva, sempre teve fé.
Briguenta quando necessário.
Amorosa demais com os filhos e crianças.
Uma profissional de estima.
Um grande coração de mãe.
Filha amada pra vó.
Mulher e amor pro tio.
Mãezona pros meninos.
Irmã da minha mãe.
Tia querida.
Sua presença física já faz falta,
mesmo depois de tanto sofrimento.
Acho que sabemos, ou tentamos nos conformar,
que esse foi o melhor caminho, a sua escolha.
A saudade é imensa.
Quem vai me abrir os olhos aqui por perto?
Quem vai ter razão pra tudo?
Tinha você aqui do lado.
Tenho você no coração sempre.
O que apazigua a dor, é saber que a sua energia boa paira no ar.
Que você encontrou os nossos.
E está em paz.
Obrigada por tudo.
Um beijo!



sábado, 24 de outubro de 2009

Jojo - Jacques Brel

Jojo é o apelido do amigo ciclista (profissional) francês do cantor belga J. Brel. A conselho de um amigo escolhi essa música de homenagem para trabalhar com minhas turmas de francês língua estrangeira. Podem me chamar de louca. No rápido momento que ouvi a chanson achei linda. Ajeitei a letra, pedi pro pessoal da coordenação imprimir e passei pra meus alunos essa semana. São turmas de níveis diferentes. É necessário dizer que cada aluno é um mundo, mas parece que cada turma tem um eu coletivo. Cada qual reagiu de forma diferente.
O nível mais avançado reagiu de forma acolhedora. Estavam mais preocupados em entender as palavras, do que sentir a música. Foram os primeiros. Nem me toquei da grávidade da escolha. A turma intermediária, me acusou de fúnebre. A de nível básico me disse que se fosse o primeiro contato com a língua, teria desistido na hora. Me senti inconsequente. Mesmo assim consegui trabalhar diferentes aspectos da música.
É uma letra insana, de um cara que canta no cimitério a amizade pelo amigo que se foi. É profundo. Mas quem ainda não passou do presente do indicativo e não entende patavinas da língua, fica complicado.
Foi uma experiência interessante. Cobaias? E quem não é cobaia das vicississitudes da vida?
Acho que gostei da letra pois ela está totalmente ligada à minha própria vida. Tenho passado por uma fase difícil da existencia familiar. Uma pessoa muito querida e muito doente. Sabe quando a coisa já fugiu do controle e não sabemos mais o que fazer além de rezar? Pois bem, me perguntaram se eu era daquelas que ri nos funerais. Não sei. A última vez que velei um corpo, tinha uns 10 anos. Hoje com 28 não pisei mais em cimitério ou vi um morto de perto. Pode ser que seja mesmo aquela que tente trazer o riso pra onde só há lugar para o choro. Sou do contra. E afinal, quando não há nada mais que se possa fazer: é rir ou chorar. E se for pra guardar as aparências, a do bufão é aquela que me agrada mais.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

La vie

A velhice tem sido um assunto bem presente na minha vida. Chegando na casa dos trinta, percebo certas mudanças, nem sempre boas, mas que me asseguram que uma boa formação pessoal e maturidade são necessárias. Pelo menos se quiser encarar com equilíbrio o vai-e-vem da vida.
Vivo com a senhora minha vó, pessoinha muito enérgica. Com seus 86, quase 87 anos, cheia de vida, ela sempre ajuda quem precisa. Todos os dias, religiosamente, prepara uma refeição de fazer inveja aos grandes chefes. Comidinha caseira, das melhores que já comi, típica do interior de São Paulo. Lê a Veja, critica a política, acompanha os noticiarios da manhã e da noite, em diferentes canais. Assiste a TV Senado! Acreditem. É uma antenada! Cheia de vida. Se cuida, toma os remedinhos, às vezes toma um vinhozinho, usa cremes e pó de arroz. Uma graça.
Eu não assisto jornal, não tenho tempo nem paciência. Pois ela vem todos os dias, em diferentes horários, com os Flash-infos, que eu costumo chamar de "Vovó News". Ela me mantém informada das coisas do mundo.
Um grande amigo me perguntou semana passada o que eu achava da velhice. Bem, no geral acho que a velhice é viver pela segunda vez a vida de antes. Lógico que os idosos continuam vivendo plenamente, uns vão aos bailes, outros jogam cartas, ainda tem aqueles que fazem ginástica, yoga, pintura, entre outras atividades. Mas a parte da memória que toca as lembranças é muito presente nessa fase da vida. Minha vó se lembra de coisas da infância dela! Da mãe, dos aprontos, dos bailes, de como era diferente de hoje, de como era melhor, de como foi feliz e triste em certas fases. E muito importante: não se arrepende de nada. Pelo contrário, se orgulha daquilo que fez ou deixou de fazer.
Sigo assim a minha rota, mesmo que ele pareça bizarro para uns, maluco para outros; dou um passo depois do outro seguindo meu instinto criador, fazendo aquilo que me dá prazer, ou que parece o mais acertado para mim, e não para os outros. Porque eu quero chegar no fim da estrada orgulhosa daquilo que pude construir, realizar. Ficar orgulhosa dos paus da barraca que chutei com gosto. Das contrariedades superardas. Acho que a vida tem que ser vista com simplicidade. Pra que complicar? Complicamos assim mesmo.
Quando Shakespeare disse: "O mundo todo é um palco / Homens e mulheres simples atores / Que nele entram e saem / Cada um a seu tempo". Quem é que vai querer ficar na platéia? A platéia talvez nem exista. Aí aquela sensação do trem passando e eu ficando do lado de fora... não quero nunca mais. Acho que todas as experiências são válidas, quando influenciadas pelo coração. Sem prejudicar o outro, claro.

"Mas você marcha José,
José, para onde?" Drummond

E aí, qual a próxima encruzilhada? Qual lado escolher? E pra onde leva? Não sei. Ninguém sabe. E da boca do povo ouvimos: "Só Deus sabe!". Então, bora!