sexta-feira, 16 de outubro de 2009

La vie

A velhice tem sido um assunto bem presente na minha vida. Chegando na casa dos trinta, percebo certas mudanças, nem sempre boas, mas que me asseguram que uma boa formação pessoal e maturidade são necessárias. Pelo menos se quiser encarar com equilíbrio o vai-e-vem da vida.
Vivo com a senhora minha vó, pessoinha muito enérgica. Com seus 86, quase 87 anos, cheia de vida, ela sempre ajuda quem precisa. Todos os dias, religiosamente, prepara uma refeição de fazer inveja aos grandes chefes. Comidinha caseira, das melhores que já comi, típica do interior de São Paulo. Lê a Veja, critica a política, acompanha os noticiarios da manhã e da noite, em diferentes canais. Assiste a TV Senado! Acreditem. É uma antenada! Cheia de vida. Se cuida, toma os remedinhos, às vezes toma um vinhozinho, usa cremes e pó de arroz. Uma graça.
Eu não assisto jornal, não tenho tempo nem paciência. Pois ela vem todos os dias, em diferentes horários, com os Flash-infos, que eu costumo chamar de "Vovó News". Ela me mantém informada das coisas do mundo.
Um grande amigo me perguntou semana passada o que eu achava da velhice. Bem, no geral acho que a velhice é viver pela segunda vez a vida de antes. Lógico que os idosos continuam vivendo plenamente, uns vão aos bailes, outros jogam cartas, ainda tem aqueles que fazem ginástica, yoga, pintura, entre outras atividades. Mas a parte da memória que toca as lembranças é muito presente nessa fase da vida. Minha vó se lembra de coisas da infância dela! Da mãe, dos aprontos, dos bailes, de como era diferente de hoje, de como era melhor, de como foi feliz e triste em certas fases. E muito importante: não se arrepende de nada. Pelo contrário, se orgulha daquilo que fez ou deixou de fazer.
Sigo assim a minha rota, mesmo que ele pareça bizarro para uns, maluco para outros; dou um passo depois do outro seguindo meu instinto criador, fazendo aquilo que me dá prazer, ou que parece o mais acertado para mim, e não para os outros. Porque eu quero chegar no fim da estrada orgulhosa daquilo que pude construir, realizar. Ficar orgulhosa dos paus da barraca que chutei com gosto. Das contrariedades superardas. Acho que a vida tem que ser vista com simplicidade. Pra que complicar? Complicamos assim mesmo.
Quando Shakespeare disse: "O mundo todo é um palco / Homens e mulheres simples atores / Que nele entram e saem / Cada um a seu tempo". Quem é que vai querer ficar na platéia? A platéia talvez nem exista. Aí aquela sensação do trem passando e eu ficando do lado de fora... não quero nunca mais. Acho que todas as experiências são válidas, quando influenciadas pelo coração. Sem prejudicar o outro, claro.

"Mas você marcha José,
José, para onde?" Drummond

E aí, qual a próxima encruzilhada? Qual lado escolher? E pra onde leva? Não sei. Ninguém sabe. E da boca do povo ouvimos: "Só Deus sabe!". Então, bora!


Nenhum comentário: