sábado, 3 de dezembro de 2011

Prisão/Liberdade

"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome. - Sou pois um brinquedo a quem dão corda e que terminada esta não encontrará vida própria, mais profunda. Procurar tranquilamente admitir que talvez só a encontre se for buscá-la nas fontes pequenas. Ou senão morrerei de sede." Clarice Lispector.
Esse trecho foi retirado do livro Perto do coração selvagem, que estou lendo para escrever um artigo para uma disciplina da universidade. A primeira parte quase todo mundo conhece, pelo menos quem gosta de literatura. É quase reconfortante saber que não fomos os únicos, em nossos pensamentos obsessivos, a pensar que tipo de liberdade é essa que queremos em oposição a que vivemos. E quando Clarice diz que o que realmente deseja ainda não tem nome, nossa, é quase um gozo. Você também sente isso? A sequência do pensamento, que só tem acesso quem lê o livro, é quase explicativo. Somos brinquedos de dar corda, animais domesticados, funcionando através de metas e objetivos exteriores a nós. O exemplo mais gritante é eu estar lendo esse livro não porque quero, mas porque sou "obrigada" a ler, porque preciso a partir dele criar ligações com certas teorias do desejo e escrever um artigo que já está escrito pela metade. Bem, talvez esse blog seja o meu querer fazer por mim mesma. Pois escrevo pra vomitar o que me angustia. Seria isso uma fuga? Uma solução? Terapia?
Esse ano termina lindamente, até nas coisas que não me dediquei, eu passei, e a minha corda ainda está funcionando. Tic, tac, tic, tac. Sou uma caixinha de música, daquelas que a gente tem na infância (quem teve a sorte de ter uma?) e funciono. Passei em tudo que queria passar, realizei tudo que queria realizar, não ficou nenhuma frustração, nada mesmo, estou encerrando o trabalho lindamente, chave de ouro mesmo, com direito a culinária para os alunos (fico generosa nessa época do ano). Mas continuo me sentindo angustiada, apesar de ter dado tudo certo. O que é certo?
Meu maior desejo nesse momento é pegar minha bike e pedalar até Pipa. Mas não posso ir sozinha, não posso ir agora, não posso!? Entendo pois esse trecho de Clarice como uma revelação: podemos tudo, contanto que estejamos no compasso da canção.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Numa encruzilhada feliz.
Fazer o que dá na telha.
Com certa responsabilidade.
É sempre bom ter uma margem,
possibilidades.
Até quando?
Por que esta pergunta sempre?
Para sempre.
Tudo depende de mim.
Mas se o que me faz sentir bem também está nos outros?
Estou segura, sou segura de mim.
Mesmo se agora estou ligeiramente inebriada.
O quero da vida? Por que estou viva?
Essa pergunta roda minha mente.
Sou viva para quê?
Pra estudar literatura, dar aulas de francês, cuidar de gatos?
Qual o sentido disso, às vezes acho que o que fazemos é puro passa-tempo.
Distração.
Mas tem que ter um porquê.
A linha de pensamento que mais me dá sentido é o fato de estarmos aqui para evoluir.
De que forma?
Grande enigma.
Ups and downs.
A sociedade é montada para nós nos encaixarmos em algum buraco vazio.
Mas, e se eu não quero?
Não tem jeito.
Olha eu aqui aplicando prova.
Busca interior. Salto no astral. Sei lá.
Perdida, mas feliz.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Recicle!

Hoje em dia, quase tudo pode ser descartável. Se pensarmos na construção cívil, por exemplo, o material mudou, a qualidade caiu e um aparamento comprado novo hoje tem uma duração muito menor do que aquele que foi construído 10 anos atrás. Usou, venceu, jogue fora! Substitua! Essa é a regra.Plástico para todos os lados. Eletrodomésticos produzidos com prazo de válidade, pilhas, baterias, carros, etc., os fabricantes fazem de propósito, para que o mercado continue crescendo. Consumo, consumo e consumo. Somos influenciados por belas e bem elaboradas propagandas. Por que o mercado publicitário funciona tão bem? Porque funciona. Quem não se imgina numa Land Rover, aventurando-se pelos 4 cantos do globo? É achar que preciso daquele produto para ser feliz. Será?
Infelizmente, e de certa forma, esse tipo de pensamento também vem alimentando as relações humanas. As pessoas também estão descartáveis. Sentimentos são rapidamente atirados no lixo diante do primeiro contra-tempo. Estava lendo em Barthes que pode acontecer (e acontece com frequência, pare pra pensar!) de uma pessoa amar mais o amor do que a pessoa "amada". Esta última pode ser trocada; o importante é manter aceso esse sentimento que tenho em mim, o de que amo. Não quero aqui generalizar os relacionamentos. Mas vamos pensar no geral. Li uma reportagem no jornal Le Monde falando do Dating e dos sites de relacionamento. Você já ouviu falar? Na matéria, encontramos depoimentos de homens e mulheres que se filiam a agências ou sites de relacionamentos que a partir do seu perfil selecionam as pessoas mais adequadas para você! Nossa, como ficou fácil!?! Basta você seguir os passos bem direitinho, sem trocar as pernas nem se jogar loucamente no abismo, que no final, o casamento está garantido! Mas e o amor? O coup de foudre? O enroscar-se? O que não é ensaiado, mas sentido? Eu não me conformo. Que tipo de fenômeno social é esse que leva as pessoas a darem mais valor ao virtual que ao olho no olho? E a tradição permanece...

Como professora, observo os jovens vidrados em seus modernos telefones celulares, que quase falam, e ficam ali hipnotisados, entre uma página na internet, uma mensagems de texto, um telefonema, pastas de música etc., etc., etc. É uma loucura. Posso parecer retrô. Mas não sou. Gosto da tecnologia, de estar escrevendo num blog, de poder pesquisar, falar com amigos distantes, enviar uma "carta" e saber que ela vai chegar para alguém em um simples clique. Mas também sei que não é a mesma coisa que receber uma carta pelo correio (romantica?), ou sentar num bar e conversar pessoalmente com um amigo. Conhecer naturalemente uma pessoa sem ter sido um encontro programado, sem aquele peso do "tem que dar certo", porque os perfis combinam.
Quando digo Recicle! é para reavermos o sentido dos verbos querer, amar, adorar, dividir, entre tantos outros, que hoje estão associados a uma mercadoria descartável. "Mãe, quero isso!", "Amo chocolate", "Adooooooro!", "Gosto daquilo", "Vocês dividem em quantas vezes?", até um novo ataque da moda e da publicidade. O que você quer, ama, adora, divide nessa vida?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Performance

As relações humanas são muito difíceis. Me sinto enormemente impotente. Existem pessoas que criam regras pra as outras seguirem, mas elas mesmas não as seguem. Outras, que só vêm o Ó do boragodó e te chamam de peste. Hoje estou triste. Acordei bem, mas trinta minutos depois já estava aos berros, discutindo a relação. Ai, que droga. Perdi toda a minha energia. Quero sair de casa, mas algo me prende. Quero viajar, mas algo me impede. Quero ir, mas fico. É tudo um circo. Ontem vi umas apresentações de projetos artísticos, onde as pessoas expõe o mais íntimo de si. Testam o corpo e os sentimentos ao extremo. Mas como serão suas vidas? Pensei numa performance: Uma caixa, onde duas pessoas cabem apertadas, numa praça movimentada ou numa feira. Na porta, uma placa "Eu quero dar. Quem quer comer? É gratis!" Eu, acolhendo as pessoas. Os voluntários, loucos para salvar-me do desespero, ao entrerem no quartinho, descobrem uma bandeja cheia de doces caseiros, e escolhem o que comer. Dava pra rir bastante. Esse tipo de performance é divertido. Mas e a performance da vida? Na artística, a gente embala as coisas e vai pra casa quando já não tá dando mais, ou o cansaço chegou; mas na vida, é mais difícil empacotar e sair fora. Quero gritar, mas a voz não sai. Apesar que quem vive de arte, não sai também, porque vida e arte se misturam. Mas isso não acontece com todo mundo? Somos todos atores? Hoje tenho muitas perguntas. E nenhuma resposta.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

o do meio

Num poema de Clarice que há pouco recebi, ela diz que entre duas coisas, há sempre outra. Por menor que seja o intervalo, sempre haverá algo nele.


Entre dois grãos de areia há um espaço.


Interstícios.


Se olhamos no microscópio uma célula, vemos que é composta por mínimos elementos; até que não vemos mais, mas sabemos que existem.


Mesmo o silêncio preenche a pausa do som.


É o preenchimento total de tudo o que temos conhecimento; de tudo que existe?


A meu modo, entendo nesse momento a importância daquilo que há entre meu anelar e meu indicador: elemento expressivo que auxilia nos momentos de cólera e desprezo, economizando-me belas palavras.

domingo, 27 de março de 2011

Puxa, quanto tempo não apareço. Escrever o que penso, abismo. Tempo absurdo. Tanta coisa aconteceu. Eu mudei certos conceitos. Tanta gente foi e veio. Me sinto no meio. A lua rodou três vezes e minha mãe voltou pra meu pai. Em casa, aguçada a cozinha. Passamos por acontecimentos bizarros. No trabalho... Sempre aparecem coisas estranhas no trabalho. Amo meus alunos. Adoro ensinar. Que profissão boa que foi parar na minha mão. Estou feliz com os fatos. Moro num lugar bom, tenho um bom trabalho, gosto do que faço.