quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Nem tudo que parece, é...

Estive pensando esses últimos meses em como costumo enganar-me. Enxergo aquilo que quero, pinto uma pessoa nas minhas cores favoritas e assim que ela mostra suas garras horrorosas, minha vontade é sair correndo, gritando de raiva, de medo. Raiva de mim e medo da pessoa. Por que prefiro me iludir a encarar a verdade? Porque a verdade dói, dirá um ditado popular. Mas não é melhor doer agora?
Pensei também nas aparências. As pessoas parecem ser tão fortes e seguras e certas de tudo que estão fazendo; por que eu sou este caos? Mas esse é apenas um pensamento desesperado, ninguém é tão perfeito assim. Diz outro ditado: não queira estar na pele de outra pessoa, você não sabe como é o seu dia. Todo mundo tem medo?
Desde agosto do ano passado tenho passado por experiências que me mostram que vale menos a embalagem do que o conteúdo. Parece óbvio, será? Me explico: as aparências seriam a embalagem das pessoas ou a cobertura das situações; seria interessante olhar para dentro delas, ou seja, abrir o embrulho, aceitar o presente ou ignorá-lo. As pessoas não mudam, a menos que esta seja a vontade delas. Consguimos sim mudar certas atitudes, certos vícios, mas a essência não muda, o nosso âmago será sempre este, indefinidamente. Ou aceita, ou muda de calçada.
Meu primeiro encontro com este tipo de pensamento se deu quando vi um casal apaixonado, de você ficar feliz só de ver aquelas pessoas se amando, sabe como é? Pois bem, este lindo amor foi interrompido pela distância e em seguida por um suicídio. Desencanei de tentar entender, me confortei com: nem sempre é o que parece...
Continuei vivendo minha própria paixão, com seus altos e baixos, até que um dia, uma esposa me conta que a ativida de lazer de seu marido é, nada mais nada menos do que matar animais. Pardon? Sim, ele viaja o mundo em busca de uma zebra, de um urso, de um veado, entre outros animais para matá-los, como esporte! Quando eles estão em Pipa e um timbu atravessa o quintal bang! Ela convive com isso porque o ama, mas horrorizada, tentando ver o lado bom disso: conhece muitos lugares bonitos e só tem que tapar os ouvidos na hora do tiro e esconder as peles no armário. E eu achando que o futebol de domingo era um problema.
Depois veio o ataque cardiaco do seu José. Na minha visão, ele era um velhinho direito, que comia bem, cuidava do corpo, da alma, do espírito. Sempre enxerguei ele como ser superior, pleno de conhecimento e atitude exemplar. Pensei que fosse vegetariano, que praticava caminhadas, que comia de maneira saudável; e não é que descobri hoje que ele come de tudo, que se salvou por pouco de veias entupidas e confessou-me no leito da enfermaria, diante da minha perplexidade, que eu enganara-me, que ele era como todos nós, humano.
Por um lado escondo meus defeitos e por outro coloco um tapaolho pra só enxergar nos outros o que me agrada, vivo um fantasia. Vai ver é por isso que a vida é tão complicada, relacionamentos não dão certo, pessoas estão cada vez mais estressadas. Aceitar o outro, e principalmente se aceitar, como é, nu e cru, é uma das coisas mais difíceis que existem. Talvez seja este o processo de desenvolviemento, o da aceita-ação.
E logo leio isso por acaso, em Memórias Póstumas de Brás Cubas:

"[...] advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser!" (Machado de Assis, 1881).

Nenhum comentário: