quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Te amo, te odeio

Calo a boca, fico em silêncio.
Não consigo dizer o quanto te amo e te odeio, quase ao mesmo tempo.
Enroscada a você, a noite me penetra.
O dia contudo me traz a punhalada do desprezo.
Presente você é, quando presente.
Quando longe, deixa de existir, desaparece.
Não se importa, ocupado demais com seu umbigo.
Sempre pronto a ajudar quando requerido.
Se não pedem, não levanta um dedo.
Deixa a vida se encarregar de tudo, lentamente.
Nenhuma atitude. Sabe esperar e o devagar é quase sempre.
Ao contrário de você sou eu. O oposto atrai?
Senti um amargo estes dias, como vai, dormiu bem?
Dormi. Ponto final.
Nada.
É chocante, dá uma revolta. Parece desconsideração.
É seu jeito. Curto e grosso.
Mesmo assim não me conformo.
Então porque insistir no que não me faz bem?
No que você deixa o tempo levar eu quero controlar.
Quero presença, mesmo ausente.
Você é um vazio, inexistente.
Já senti saudade.
As vezes penso; cada vez menos.




domingo, 14 de abril de 2013

Por que não?


Até onde vai a minha racionalidade? Vermelha pulsação tange a massa cinza. Certamente vai além dessa dicotomia. A razão se vai a noite e volta pela manhã com gosto de guarda-chuva e estrelinhas nos olhos. O que é isso gente? Toda noite isso, por que controlar o que eu não quero controlar? Eu gostaria de fazer, mas talvez não deva. Consequências pairam sobre minha cabeça.

Racionais e controladas são as pessoas. No entanto, acredito que no âmago todos somos loucos, cheios de vontades e curiosidades soterradas violentamente pelos dogmas morais e éticos, e a tão idolatrada razão.

Gosto de simplicidade, inocência. Quando o corpo pede, por que não dizer: “sim”? Porque isso é errado, não pode, é feio. Poxa! Mas não tem problema nenhum. As vezes me passa pela cabeça que ser inocente, ingênuo, viver sem escudos é algo terrível, pois más intenções podem me assolar. Quais são as suas intenções? Nunca saberei senão o tempo. Mas o tempo passando eu não vou ficar sentada em uma cadeira diante da janela assistindo o vento açoitar nuvens. Enquanto o tempo passa tenho que ir vivendo e experimentando mesmo se for para tatear as paredes dessa casa até achar um interruptor. Se achar. Como viver de outra forma? Vivemos perigosamente. Como diz Riobaldo em Grande Sertão, “Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.” Gênio Rosa.

Quem é que vai? Eu não sei. Não exatamente. Experimentos. Sinalizar o que quero. Como? Se não sei. Não dou, não vejo. Iluminados dias de flores coloridas; uma sombra cobre a gente feito nuvem carregada de chuva. Como faz frio de vez em quando. Quentura danada desse inferno terrestre. Deus existe! Se existe? Como ficar parada diante do movimento do mundo? De pé menina que a terra não para de girar por sua causa! Levanta e sacode a poeira, música boa essa, levanta defunto. Dores e amores. Doce amora. Vam'bora! já sei o que quero: cerejeiras em flor.


sexta-feira, 29 de março de 2013

Deste ano eu não passo! (um minuto)


Deste ano eu não passo! Minha cabeça está girando, ou melhor, o mundo está girando em volta de mim. Me segura que eu não quero cair de cara. Já pensou? Uma velha assim, estatelada no chão? Não dá, por isso que eu não saio. Piscina nem pensar. Aquele chão escorregadio... Você é nova, cheia de saúde e energia. Eu sou doente. Mas vó, o que é que você tem? Como assim o que eu tenho??? Você me faz cada pergunta! Estou velha! Dói tudo, tenho medo de cair e a depressão... Eu tenho depressão sim! Você acha que é mentira, não é não! Então vamos dar uma volta pra ver se você dá uma levantada. Não. Quero ficar aqui no meu canto. Outro dia eu vou. Outro dia é muito longe vó. Hoje não quero, estou com gripe, atchim!

E por aí vai um discurso que por vezes me deixa triste, outras, me faz rir. O que é viver senão um momento? A cada segundo de vida tudo pode acontecer. Quem sabe a vontade dela de ir embora não venha mesmo este ano e aí, fim. Se resguardou tanto com medo de morrer querendo a morte. É contraditório. É. Por vezes estamos tão adestrados ao nosso cotidiano que não percebemos os momentos. Um riso aqui, uma conversa aparentemente sem importância acolá. Pintar o sete!

Eu adormeço ao tic tac das horas, cumpro meus deveres como cidadã, respeito as regras sociais, morais e éticas. O compasso do tempo me embala num ir e vir, do trabalho pra casa, da casa pro trabalho. Uma corrida aqui, um copo de vinho acolá. Estuda, estuda, estuda sem parar. E podem me perguntar onde ficam os momentos nesta história banal de vida adulta? Eu acredito que o momento está na meninice. Ter a criança dentro de mim. Cliché, sim. Quando penso nos meus aprontos, fugindo um pouco destas regras taxativas, sorrio feliz de ter em mim aquela que já fez muita coisa "errada". Prometo, não prejudico ninguém. Fujo apenas, só um pouquinho, das amarras impostas e me sinto viva, mais viva! quando faço uma destas brincadeiras com gosto de coisa errada, mas que na verdade não têm nada de mais.

Até agora rio de correnteza. Escuridão de luz. Um oceano de palavras, tão belas, tão fracas. Ó vida de banho de mar. A lua espia o dia. Ventamos alegria. O tempo voou, e veio me dizendo que é pra eu continuar a achar. E achando ir vivendo de novos banhos de luar.

A lua de ontem me deixou completamente apaixonada. 

quinta-feira, 28 de março de 2013

A lua


Li está frase hoje no livro Ravissement de Lol V. Stein de Marguerite Duras e como ela se encaixou bem a nossa belíssima noite de hoje: 

"l'étandard blanc des amants dans leur premier voyage flotte toujours sur la ville obscurcie."
(tradução literal: o estandarte branco dos amantes em sua primeira viagem continua a voar sobre a cidade escurecida) 
Por Raoni Kunkler

Alguém acompanhou a lua crescente estes últimos dias? Majestosa, flutuando no céu anuviado, da mesma forma como ela muda as marés, ela também me transforma. 

Lá vai ela, alta no céu agora, tive a sorte de dar com ela ainda perto do horizonte. Assisti seu movimento ascendente de dentro d'água, hipnotizada. Tenho duas opções: acreditar ou não na magia da lua, na sua influência, assim como a de outros planetas sobre minha pessoa e sobre o mundo. Prefiro acreditar e observar. 

Boiando, fiquei cara a cara com o universo. Contei estrelas. Vi nuvens passarem açoitadas pelo senhor vento. E ela, estandarte branco dos amantes, iluminou a minha noite. Boa noite.