
Ribeira. Bairro portuário. Cheiro de peixe no ar.
Estou vindo há quase um mês para a Rua Chile trabalhar, chego às 9h e só saio quando já está escuro. No começo vinha de carro, mas o preço da gasolina me fez refletir e deixar de besteira, pegar ônibus era a melhor solução para vérios problemas, entre eles meu estresse no trânsito e a falta de tempo para ler os livros da monografia.
Nas primeiras semanas voltava pra casa. Logo comecei a ficar por aqui, mas nem punha a cara pra fora da empresa. Agora que venho de busão e passo por vários lugares até chegar aqui, cresceu a curiosidade de ver o que me rodeia. Hoje foi o primeiro dia que saí pra dar uma volta no quarteirão. As pessoas me olham estranhamente, como se eu fosse de outro planeta. E será que não sou?
Dei a volta, indo pro lado direito, passei na frente de bares e restaurantes que só conhecia a noite. Muita coisa está fechada nesse horário de meio dia. Vi duas gatas pretas prenhas. E um gato rajado, que deve ser o pai dos futuros filhotes de rua. Muita gente caminhando pra lá e pra cá, procurando um lugar pra comer. O que não falta são restaurantes self-service, de R$ 5,00. Já sei onde comer quando tiver algum dinheiro. Por enquanto estou dura.
Passei em frente a Tribuna do Norte. Será que é bom trabalhar lá? Devia deixar um cv... mas o jornalismo é mto elitista e seletivo. O ideal seria conhecer alguém lá dentro, pra me indicar. Mas a fila de indicados é bem grande, e o jornal, bem pequeno, como todos por aqui.
Virei a esquina e entrei na rua das peixarias e lá no fundo via-se o porto. O 'grande' porto de Natal. E subiu subitamente aquele cheiro de peixe podre e passado. Quase vomitei. A vida de pescador deve ser muito dura, mas muitos não trocam por nada nesse mundo. Eles estavam lá, sentados na sombra, alguns deitados, esperando sabe-se lá o que.
Entrei na rua do meu trabalho, estava quase deserta, ouvia-se apenas o grito e riso organizado de crianças. Vi uma mulher sentada no chão em frente a porta que eu ia entrar, conversando com um amigo imaginário. Na verdade ela estava discutindo com ele. Quando me viu ficou sem graça, mas logo continuou o falatório. Entrei. Subi aquela escada imensa e cá estou, doida que o dia acabe e eu vá pra casa. Para ficar por lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário