terça-feira, 30 de setembro de 2008

Estranhos

No meio de coleguas e amigos, me sinto só e sem paciência. Palavras vazias, palavras vãs. São asssuntos que já não me interessam mais. Vou me cansando e bato em retirada. Quero ir pra casa! Tem sido mais fácil conversar com desconhecidos, os assuntos multiplicam-se, me alimento de impressões. Ontem, no banco da janela do 56, olhava pra fora, perdida em pensamentos. Algumas paradas depois subiu muita gente no ônibus e o burburinho aumentou, tirando-me do devaneio. Um senhor de quarenta e poucos anos sentou ao meu lado e instantanemente perguntou: você é daqui? Eu sou carioca! A princípio, desconfiada, não dei muita corda pro cidadão, mas a conversa foi ficando interessante, falamos de tudo, ele mais do que eu. A viagem passou tão rápido e o papo estava tão bom, que desci um ponto depois do de costume.


Desconfio de um jogo de interesse que rege nosso dia a dia, é um emaranhado perigoso. Estranhos, às vezes, são mais confiáveis. Dá o que se tem de melhor e receberá o melhor, e depois, talvez, nunca mais veja a criatura. Aí está. Duas pessoas trocam impressões, palavras, pensamentos, pelo simples prazer de se comunicar. Isso é muito bom! Talvez a situação esteja se transformando dessa forma porque já não nos sentimos tão seguros em meio a conhecidos, tudo que dissermos ou fizermos pode ser usado contra nós, é mentira? Por que, então, não falar com um desconhecido? Trocar idéias e dizer adeus, com a segurança de que só veremos de novo se a sorte se interessar.



quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A vaca!

- Aquela vaca!!!

Foi o que me veio a cabeça quando soube que ligou pra dizer que o problema era a gente. Desacreditei. Que vaca! Falsa! Hipócrita! Que raiva!

Ainda bem que o ele ligou pra cá numa boa, sabendo já que a megera é uma chata de galocha e já imaginava o que havia acontecido. Mas disse que não era pra eu dizer as coisas como 'acho' que são, dizer apenas quando tiver certeza absoluta. E como vou ter certeza absoluta num negócio tão instável, que depende do homem mas também da máquina?

Entrei no msn puta, aquela vaca me paga! E não é que ela teve a pachorra, alguns minutos depois de fazer a acusação infundada, de falar comigo como se nada... "e aí, como vão as coisas?". Ai, ai, ai. Se controla Odara, só pensava nisso. Se controla!

Ele me disse, se vc não tem certeza, inventa desculpas, vai enrolando, senão ela não para. É pra eu mentir então?, perguntei.

- É, eu não queria dizer com essas palavras, mas você entendeu... Só assim pra ela sair do pé!

Como pode uma criatura dessas existir? O mercado esta impreganado delas, que nojo. Elas mentem, fazem falsas acusações, botam vc numa situação desagradável. Pra quê? Pra aliviar o estresse, encobrir seus erros, porque a verdade, que eu adoro, é que o atraso começou com ela, que não se garantiu na hora de entregar o material. E mentiu sobre isso também! O pior é que me obrigam a mentir também, pra me livrar delas, e, na pior das hipóteses, para conseguir conviver... O fim da picada!

Tive vontade de dizer:

- Sua vaca mentirosa, por que vc não resolve seus problemas comigo ao invés de ir encher o saco dos outros, dizendo que o problema está aqui? Fazendo falsas acusações? Não tem coragem? Qual é a sua? Tá achando que a gente tem um santo milagreiro?

Mas me contive, afinal, tenho que seguir, mesmo que contrariada, algumas regras do jogo. Fui objetiva e disse:

- Já mandei. É pra tá pronto quando?

- Pra 16h no máximo! :)

Ainda colocou uma carinha... que ódio!

- Acelera aí o processo pra mandar de volta!, eu disse.

O resto ficou subentendido.

Respirei fundo, expirei, já passou. Vaca!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Malandragem

Macaco velho é macaco velho!
Tem um cara da minha entourage com quem aprendo muito todos os dias. Assim, como quem não quer nada, ele vai me ensinando as 'malandragens' da vida.
Um de seus ensinamentos veio como uma lição oriental. Ele segue muito os passos asiáticos. Veio ele com a teoria de que servir as pessoas enobrece o ser. Ele afirmou que não há nada melhor no mundo do que fazer o que uma pessoa gosta, por prazer. O prazer de servir. Disse que a gente acha que servir indica inferioridade, mas isso não é verdade!
- Por exemplo num namoro, você prefere o seu bem ou o bem do outro? me perguntou.
Eu não soube responder.
- Se você soubesse de um show de blues e que uma amiga sua gosta muito, você iria com ela, mesmo sem apreciar enormemente, não?
- É, acho que sim.
Deixei ele fazer rodeios, me fiz de desentendida, às vezes concordava com seus exemplos, às vezes não. Mas logo ele chegou ao que eu já esperava, ao xis da questão. Me olhou dentro dos olhos sério e disse:
- Ei, prepara um cafezinho pra gente?
- Pô, não é que ele pediu mesmo?, pensei rindo.
E, entre incrédula e divertida, fui preparar o nosso cafezinho.
- Duas colheres de açúcar viu?!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Achei mais quatro...

Pode estar parecendo repetitivo, mas vou falar de gato de novo. É meu vício, minha sina, minha paixão.

A história começa com um passeio sem compromisso com minha vó pelo quarteirão. Minha idéia a princípio era dar uma volta na praça ao lado do prédio. Mas a rua de cima estava fechada, em obras. Então, em vez de virarmos à direita, viramos à esquerda. Pela falta de costume, a vó já estava cansada depois de meio quarteirão e quis voltar pra casa. Viramos numa rua que eu nunca pego, a que passa na frente dos prédios Torres do Mar (acho que o nome é esse). Vínhamos conversando qualquer coisa e eis que surge de trás de um móvel jogado e podre, e um monte de lixo na calçada, adivinhem... um gatinho preto, todo preto.

Respirei fundo, olhei pro céu e perguntei: Por quê?

Agachei, fiz carinho, pensando no que fazer. Levar pra casa? Mais um? Mas deixar aqui? E agora? Tadinho! Quem será o fdp que abandonou essa criaturinha aqui sozinha? Enquanto isso a vó se lamentava à minha volta questionando o que eu ia fazer: não vai levar pra casa né? Mas que judiação! Se quiser levar tb, a casa é sua... A verdade é que estávamos as duas relutantes, convencidas de que 'teríamos' que levar o pretinho pra casa.

Fiquei falando fino com ele, alisando e lutando com minhas muitas vozes. Quando levantei e pus as mãos na cintura escutei um miadinho fino e distante. Logo soube: aqui tem mais! Mas cadê?
Comecei a revirar a estante podre, e vi uma caixinha no meio daquele monte de compensado, presa e escondida. Estava fechada. Não conseguia chegar até ela, fui ficando angustiada a ponto de arrancar as tábuas que estavam escondendo a caixa de papelão. O móvel desmilingüiu, caiu de podre, e consegui tirar a caixa, que estava fechada, lacrada praticamente. Coloquei no chão e abri: seis olhinhos azuis me olharam tristes e abandonados. Fazendo as contas, eram quatro gatinhos pretos que alguém deixou ali pra morrer. Presos, quase sem ar e esfomeados, pra morrer de inanição, ou no caminhão de lixo. Que façam o mesmo com o desgraçado!

Corri em casa pra pegar ração e água, e voltei. A vó ficou cuidando deles. As pessoas passavam por nós e olhavam com desprezo. Dei comida, ajeitei a caixa pra eles poderem se proteger e fui embora. Com o coração apertado por não ter condições de levá-los comigo. A vó também ficou triste. Há uma epidemia de gatos na cidade. Eles estão em todas as partes, sobrevivem aqueles que podem. Quem tem os bichanos precisa castrar. É necessário uma ajuda do governo para controlar isso. É um problema sem solução. Sofre quem quer, quem não consegue fechar os olhos, quem é sensível. Eu me remoo todos os dias por causa deles.

A mãe pediu que eu não ficasse triste ou angustiada, que a vida era assim mesmo, que eu não quisesse abarcar todos os males, que talvez alguém como eu passaria por lá e levaria os gatinhos pra casa, ou então eles morreriam, e a vida continuaria seu curso. É isso mesmo o que acontece, mas sempre fico chateada com essas coisas de abandono, da falta de responsabilidade das pessoas em assumirem seus compromissos. Deixei os bichinhos nas mãos do destino. Que ele seja bom com eles, e com todos os animais do planeta, inclusive com o bicho homem. Um pouco mais de consciência é necessário.

O caminho das quatro estações


Existe um caminho que nem sempre, por sorte, é repleto de gente, barulho, confusão. Muitas vezes ele fica silencioso, como uma floresta européia no outuno. Só se ouve o barulho do vento varrendo as folhas caídas no chão, se vê uma luz morna do sol que está morrendo no horizonte, e a estrada pela frente. Aquele que escolhe trilhá-lo, percebe uma tonalidade alaranjada, com tendências para o marrom, para o amarelo e para o vermelho.

Caminhando por esta estrada o ser sente a força do inverno que se aproxima e que espreme o tempo da passagem do sol pelo continente. Sentimos paz. A certeza de um inverno após um outono, que foi precedido por um verão. A perfeição da natureza!
Em momentos de calma e tranquilidade é quando melhor se pode prestar atenção no que se passa ao redor, e também dentro de si. Não é tudo um reflexo mesmo?

Vejo a bagunça, a vida morna, o desleixo coletivo, como quem olha um animal morto na beira da estrada, com tristeza e indignação.

O outono europeu é um momento particular, aquele que precede a morte simbólica, o inverno, quando começam os preparativos para o fechar-se em si. Passado esse processo, se morre. E morrendo percebe-se o quão a vida é boa para ser vivida intensamente, amada, respeitada. Tomam-se providências e resoluções, e se prepara para renascer, como a Fénix que nasce eternamente das cinzas.

Depois da longa espera durante um inverno cruel, as vezes nem tanto - acontece que ele pode vir em boa hora, quando precisamos de calma, e fechar-se é a melhor coisa que pode acontecer - observa-se as primeiras folhinhas verdes nas arvóres até então ressecadas pela intempérie. É mágico! A vida novamente. Quando acreditávamos no fim, eis que a natureza renasce. É uma explosão de cores e sons, uma sinfonia natural, que alguns compositores e artistas se aproximaram em suas obras com maestria, mas ela é inimitável, porque é perfeita.

O descobrimento pessoal é como o processo natural das flores, dos bichos, da natureza, nos fechamos em nós mesmos na passagem do inverno algoz, ibernamos, e despertamos maravilhados com a primavera que surge em nós.
Refletimos. Aprendemos. Amadurecemos. Assim segue a vida, cíclica, representada pelas quatro estações.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Santo Pereira

Tinha um gatinho miando em baixo da minha janela. Algum tempo depois, pensei que tivesse sumido.

Mas ele não sumiu não! Ele se escondeu no clube de remo.

No dia seguinte de seu desaparecimento, quando fui treinar, Pereira, o 'caseiro' do clube me disse: "Hoje você leva seu gato!".

- Meu gato? Ele ainda está aqui? Cadê?

"Ele tá ali escondido", disse ele apontando para um canto cheio de entulhos. Fui correndo e só vi um recipiente de Doriana com restos de comida. Perguntei surpresa (e feliz) se ele havia dado comida pro gato. No que ele respondeu: "Não gosto de ver ninguém passando fome!".

Ah, não sei como explicar minha alegria. Sorri até as orelhas. O coroa gosta de bicho também, pensei com meus botões. Como é bom encontrar uma pessoa de bom coração.

O mais incrível era o gatinho espertalhão, que já havia escolhido seu canto, e brincava alegremente com todo mundo que passava. Já estava se sentindo em casa, feliz da vida.

Isso foi numa quarta-feira. Treinei bastante e quando estava indo embora o Pereira me gritou de longe que levasse o gato embora. Quando fui olhar o bichano, lá estava ele deitadão em cima de um monte de sacos com a barriga virada pra cima, sem-vergonha!

Expliquei que não podia naquela hora, que ia trabalhar mas voltaria a noite. Só que não voltei. O bichinho tinha escolhido o clube por alguma razão e meu maior medo tinha passado: o de que alguém judiasse ou jogasse o gato na rua. Deixei ele lá e só voltei na sexta-feira, com o coração apertado, ainda insegura com a situação do pequeno.

Quando cheguei o Pereira olhou pra mim maroto e falou, "hoje você me leva esse gato daqui! Não quero dor de cabeça."

- Ah seu Pereira, deixa ele ficar, ele escolheu o clube, vai trazer sorte pros meninos, ele gosta daqui. Eu me comprometo a vacinar, trazer comida e castrar. Deixa vai?!

Ele baixou os olhos, pensou um pouco, abriu um sorriso lindo e disse que o gato podia ficar.

Dei pulos de alegria, e acho que o sentimento foi geral, porque os meninos já estavam brincando com o rajado, ele fazendo graça, sabe aquelas que só filhote sabe fazer? Correndo pra lá e pra cá, encantador. E o Pereira já estava curtindo a idéia, dizendo que 'nordestino', quando se acostuma, se espalha... Chamando o gato de malandro! Um sarro.

Agora o clube de remo tem um mascote, que traz sorte e alegria pra toda a equipe. Um gatinho vira-lata, rajado, de olhar esperto, salvo pelo Pereira. Santo Pereira!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Trabalho com prazer


Descobri o segredo para não enlouquecer trabalhando! Quer que eu conte? Pois eu vou contar, mas ainda não, deixa eu fazer a introdução primeiro, o mistério antes da revelação...

Acredito que todas as pessoas que têm uma rotina de trabalho, daquelas que incluem: acordar cedo, pegar trânsito, passar o dia inteiro fora de casa, dividir uma sala com outras pessoas, outros mundos, fazer a mesma coisa, em linhas gerais, todos os dias, voltar pra casa só depois que escurece, enfrentar o rush hour, chegar exausto, tomar um banho, jantar o que pintar e se jogar no sofá, tendo como último consolo a Favorita e os campeonatos de futebol. Isso durante o ano inteiro, tendo folga apenas no recesso do Natal e Ano Novo, isso quando tem! Já trabalhou com turismo ou hotelaria? Precisa ter uma válvula de escape! É desumano!

Pois bem, posso dizer que conheço muita gente que usa essa vida como desculpa para encher a cara, fumar, tomar drogas, fazer loucuras... Mas pergunto, nos sentimos mesmo bem? Depois de um fim de semana 'torrido', mesmo que a famosa ressaca moral não se apresente, apenas a ressaca física, o corpo exausto, pior do que na sexta a noite, antes de tomar um banho e cair na gandaia, será que nos sentimos realmente realizados, felizes? Então por que pensamos, plena segunda-feira, 10h da manhã: "espero que sexta chegue logo!"?

Você passa a semana trabalhando como um zumbi, chega o fim de semana, se torna vampiro, e isso num ciclo vicioso até descobrir pedras nos rins, uma cirrose, um cancer... Só aí você vai se perguntar, isso se o choque for grande e você retomar consciência de seu ser, o que foi que eu fiz com minha vida? Senão, vai continuar nessa, até o dia que o ciclo se encerre. Tudo na vida é escolha, cada um sabe do seu.

Essas loucuras que fazemos com nossas vidas e nossos corpos não tocam somente o campo do corpo físico, tocam o espírito, a alma e outros mundos mais, que estão além da minha compreensão. Isso que a sociedade consumista nos vende, é veneno. Não que eu seja contra o consumo, pelo contrário, aprecio o bom vinho, gosto de andar de carro e sou a primeira a comprar os úlitmos lançamentos em cosméticos. Mas a gente deve ter cuidado para não se limitar a esse ciclo: trabalho = consumo eterno, como se a verdade da vida fosse apenas isso.

O lance, o meu segredo, que acredito ser o que me tirou desse desespero, porque confesso, estava pirando aqui no trabalho, foi o esporte. Sim! Praticar esporte é maravilhoso! Cada um tem o seu, o que lhe dá mais prazer. Pode ser um esporte radical, uma caminhada na praia, uma volta de bike, jiujitsu, surf, etc. São tantas as opções! E seu corpo agradece.

Eu parei de fumar há alguns meses, e quando comecei a trabalhar a vontade de colocar um cigarro entre os lábios e tragar lentamente a fumaça 'tranquilizante' voltou. Aí comecei a ficar louca. Além da rotina, a vontade de fumar. Era a vontade física, psicológica tentando convencer minha razão de que umzinho não ia me fazer mal nenhum... até parece. Foi então que veio por acaso uma amiga aqui na empresa e me falou de um clube de remo. Foi como acender uma lâmpada, sabe aquelas de desenho animado? E pronto! Me decidi e fui atrás. Acreditem ou não, o clube de remo não só fica na mesma rua de onde trabalho, como fica em frente!

Uma coisa tenho percebido depois que comecei a prestar mais atenção nos sinais, nada acontece por acaso. As coisas são colocadas debaixo de nossos narizes, basta querer enxergar. Não se deixe alienar, abra os olhos e seja feliz!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Se você quer do seu jeito, faça você mesmo!


Que mania é essa que as pessoas têm de querer dizer o que eu devo fazer, como fazer, porque fazer. Credo! Parece que não sei... Tô passada com isso!

O fato de eu não me impor o tempo todo, porque acho muito desgastante, não quer dizer que não saiba fazer as coisas. Sei sim, e muito bem! Que cada um vá cuidar de sua vida!

Aquelas frases prontas, tipo, por que você não usa essa calça? Por que não namora com esse menino? Por que não vai morar na Europa? Por que não vai na casa do João resolver aquele problema hoje? Por quê? Por quê? Sabe por quê? Porque eu não quero!

Essa mania é coletiva. Não é só uma pessoa não, é geral. É tão fácil ficar dizendo aos outros o que fazer, ao invés de olhar pra si e pensar, nossa o que eu poderia fazer hoje? Cada um que controle o seu tempo, seu humor, seu coração! Quanta chateação!

O pior de tudo é que se você não faz do jeito que as pessoas querem, hummmm... prepare-se para o bico, para o grito, para o choro.

Num passado bem recente eu costumava me sentir culpada, pois guardava em mim toda a culpa do mundo. Só agora percebo que as pessoas são todas desequilibradas e querem descontar em mim ou em qualquer pessoa que estiver por perto o seu trauma, a sua angústia, os seus defeitos e preconceitos. Pois quero que todos vão à merda!

Quantas horas de sono perdi, quanto tempo desperdicei, quantas vezes chorei por causa de chiliques mirabolantes de pessoas loucas, que queriam que eu fizesse as coisas à sua maneira! Ah alma querida, desculpa por esse tempo de escuridão. Já não acontecerá mais.

Se você quer do seu jeito, faça você mesmo! E tenho dito!

Um gato pra você!

No primeiro andar do sobrado vermelho e branco, com as janelas sobre a rua, fica a minha sala. Cá estou, lutando com os pequenos problemas tecnológicos que minha energia desvirtua, quando estou com raiva. Minha mãe chama isso de poltergeist. Antes eu era um pouco cética, até perceber que realmente, quando passo raiva, o carro não liga, a internet não funciona, a Tv fica fora do ar. Incrível.

Pois estava aqui tentando entrar no Outlook do trabalho há uma meia hora, depois de passar uma hora tentando fazer a Internet funcionar, quando minhas 'antenas' se ativaram subitamente: um gatinho estava miando! Abri o janelão, subi na mesa e me inclinei para espiar. E lá estava ele, minúsculo e rajado, berrando. Algum infeliz acabara de abandoná-lo.

Esqueci tudo, desci correndo as escadas dei a volta no quintal, peguei uns grãozinhos da ração do Greg (o salsichinha mais sem-vergonha que já vi), um copo d'água e saí atrás do gato. Quando abri o portão, ele não miava mais. Cadê ele? me perguntei, será que já sumiram com o pobre?

Aqui na Ribeira tem tanto gato de rua que o pessoal abandona nos becos, que as gatas de rua parem a cada 3 meses, que a gente se acostuma com essa calamidade. Ainda que fossem só gatos a gente se revoltaria e tentaria encontrar uma solução. Mas o pior é que vejo gente todos os dias andando pra lá e pra cá, com um saco nas costas, olhar vazio, perdidas em seus devaneios, sonhando sabe-se lá com um prato de comida, um copo d'água, um banho e um teto pra cobrir seu corpo franzino e triste. São pessoas invisíveis, mas quem olha com atenção, consegue enxergar a crueldade da vida nesse mundo de hoje.

De repente vejo o gatinho correndo atrás de um negro alto, que carregava um vazo sanitário. Ele trabalha aqui do lado. Junto com ele vinha um senhor, de um olho só. Ficamos conversando e o gato em volta da gente pedindo colo. Eu coloquei a comida no chão, alisei ele... mas quando o homem do vazo resolveu andar, lá foi o gato atrás. Ele saiu correndo, para o gato não alcançá-lo, aí passou o senhor que trabalha no clube de remo e o gato seguiu ele pra dentro do clube, e sumiu.

O senhor de um olho e eu ficamos conversando. Eu, sinceramente, estava já pensando em adotar o gatinho. Antigamente teria ido atrás dele, revirado caixas, lixos, móveis, pegado a força e levado pra casa. Mas a vida não é tão simples assim. Ele não me escolheu, nem me deu bola. Ele queria o homem do vazo. Porque é ele que está precisando de sua ajuda. Os gatos protegem a gente. Eu já estou bem protegida, com meus três. Um a mais não ia fazer mal, só bem! Mas ele não ficou. Sumiu.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cada vez mais pra dentro

Sinto que cada vez mais estou fechada em mim mesma, faço as coisas pelo avesso, tropeço, e acabo me sentindo mal, me magoando. O que acontece na verdade é que as pessoas são muito diferentes umas das outras. Eu falo tudo, não aguento segurar, não penso nas consequencias, nem no impacto de minhas palavras e ações. A verdade é não sei viver em sociedade, nem ter raiva. Queria ficar na minha, mais ainda. É bom sair, ver gente, mas não sei lidar com isso. Sempre extrapolo, quase me sinto mal por chamar a atenção, piso na bola. Uma parte de mim é má e quer só sacanear os outros, será? Talvez eu tenha realmente esse lado mau, e uso ele quando perco controle, e essa maldade cresce em mim, e faço coisas pra testar o limite das pessoas. Em outros momentos sou tão boba e ingênua... É como se fosse Raquel e Ruth, daquela novela da Globo, as gêmeas diferentes. Mas será que sou realmente má? Assim como as pessoas querem me pintar? Ou será que sou normal, e todo mundo é assim? Não sei, só sei que levo a vida muito a sério, isto é desgastante, e certas coisas me deixam muito mal, pq costumo sempre colocar a culpa em mim. Sei lá. Não quero encheção de saco. Quanta sarna pra me coçar.