terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um gato pra você!

No primeiro andar do sobrado vermelho e branco, com as janelas sobre a rua, fica a minha sala. Cá estou, lutando com os pequenos problemas tecnológicos que minha energia desvirtua, quando estou com raiva. Minha mãe chama isso de poltergeist. Antes eu era um pouco cética, até perceber que realmente, quando passo raiva, o carro não liga, a internet não funciona, a Tv fica fora do ar. Incrível.

Pois estava aqui tentando entrar no Outlook do trabalho há uma meia hora, depois de passar uma hora tentando fazer a Internet funcionar, quando minhas 'antenas' se ativaram subitamente: um gatinho estava miando! Abri o janelão, subi na mesa e me inclinei para espiar. E lá estava ele, minúsculo e rajado, berrando. Algum infeliz acabara de abandoná-lo.

Esqueci tudo, desci correndo as escadas dei a volta no quintal, peguei uns grãozinhos da ração do Greg (o salsichinha mais sem-vergonha que já vi), um copo d'água e saí atrás do gato. Quando abri o portão, ele não miava mais. Cadê ele? me perguntei, será que já sumiram com o pobre?

Aqui na Ribeira tem tanto gato de rua que o pessoal abandona nos becos, que as gatas de rua parem a cada 3 meses, que a gente se acostuma com essa calamidade. Ainda que fossem só gatos a gente se revoltaria e tentaria encontrar uma solução. Mas o pior é que vejo gente todos os dias andando pra lá e pra cá, com um saco nas costas, olhar vazio, perdidas em seus devaneios, sonhando sabe-se lá com um prato de comida, um copo d'água, um banho e um teto pra cobrir seu corpo franzino e triste. São pessoas invisíveis, mas quem olha com atenção, consegue enxergar a crueldade da vida nesse mundo de hoje.

De repente vejo o gatinho correndo atrás de um negro alto, que carregava um vazo sanitário. Ele trabalha aqui do lado. Junto com ele vinha um senhor, de um olho só. Ficamos conversando e o gato em volta da gente pedindo colo. Eu coloquei a comida no chão, alisei ele... mas quando o homem do vazo resolveu andar, lá foi o gato atrás. Ele saiu correndo, para o gato não alcançá-lo, aí passou o senhor que trabalha no clube de remo e o gato seguiu ele pra dentro do clube, e sumiu.

O senhor de um olho e eu ficamos conversando. Eu, sinceramente, estava já pensando em adotar o gatinho. Antigamente teria ido atrás dele, revirado caixas, lixos, móveis, pegado a força e levado pra casa. Mas a vida não é tão simples assim. Ele não me escolheu, nem me deu bola. Ele queria o homem do vazo. Porque é ele que está precisando de sua ajuda. Os gatos protegem a gente. Eu já estou bem protegida, com meus três. Um a mais não ia fazer mal, só bem! Mas ele não ficou. Sumiu.

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