quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Achei mais quatro...

Pode estar parecendo repetitivo, mas vou falar de gato de novo. É meu vício, minha sina, minha paixão.

A história começa com um passeio sem compromisso com minha vó pelo quarteirão. Minha idéia a princípio era dar uma volta na praça ao lado do prédio. Mas a rua de cima estava fechada, em obras. Então, em vez de virarmos à direita, viramos à esquerda. Pela falta de costume, a vó já estava cansada depois de meio quarteirão e quis voltar pra casa. Viramos numa rua que eu nunca pego, a que passa na frente dos prédios Torres do Mar (acho que o nome é esse). Vínhamos conversando qualquer coisa e eis que surge de trás de um móvel jogado e podre, e um monte de lixo na calçada, adivinhem... um gatinho preto, todo preto.

Respirei fundo, olhei pro céu e perguntei: Por quê?

Agachei, fiz carinho, pensando no que fazer. Levar pra casa? Mais um? Mas deixar aqui? E agora? Tadinho! Quem será o fdp que abandonou essa criaturinha aqui sozinha? Enquanto isso a vó se lamentava à minha volta questionando o que eu ia fazer: não vai levar pra casa né? Mas que judiação! Se quiser levar tb, a casa é sua... A verdade é que estávamos as duas relutantes, convencidas de que 'teríamos' que levar o pretinho pra casa.

Fiquei falando fino com ele, alisando e lutando com minhas muitas vozes. Quando levantei e pus as mãos na cintura escutei um miadinho fino e distante. Logo soube: aqui tem mais! Mas cadê?
Comecei a revirar a estante podre, e vi uma caixinha no meio daquele monte de compensado, presa e escondida. Estava fechada. Não conseguia chegar até ela, fui ficando angustiada a ponto de arrancar as tábuas que estavam escondendo a caixa de papelão. O móvel desmilingüiu, caiu de podre, e consegui tirar a caixa, que estava fechada, lacrada praticamente. Coloquei no chão e abri: seis olhinhos azuis me olharam tristes e abandonados. Fazendo as contas, eram quatro gatinhos pretos que alguém deixou ali pra morrer. Presos, quase sem ar e esfomeados, pra morrer de inanição, ou no caminhão de lixo. Que façam o mesmo com o desgraçado!

Corri em casa pra pegar ração e água, e voltei. A vó ficou cuidando deles. As pessoas passavam por nós e olhavam com desprezo. Dei comida, ajeitei a caixa pra eles poderem se proteger e fui embora. Com o coração apertado por não ter condições de levá-los comigo. A vó também ficou triste. Há uma epidemia de gatos na cidade. Eles estão em todas as partes, sobrevivem aqueles que podem. Quem tem os bichanos precisa castrar. É necessário uma ajuda do governo para controlar isso. É um problema sem solução. Sofre quem quer, quem não consegue fechar os olhos, quem é sensível. Eu me remoo todos os dias por causa deles.

A mãe pediu que eu não ficasse triste ou angustiada, que a vida era assim mesmo, que eu não quisesse abarcar todos os males, que talvez alguém como eu passaria por lá e levaria os gatinhos pra casa, ou então eles morreriam, e a vida continuaria seu curso. É isso mesmo o que acontece, mas sempre fico chateada com essas coisas de abandono, da falta de responsabilidade das pessoas em assumirem seus compromissos. Deixei os bichinhos nas mãos do destino. Que ele seja bom com eles, e com todos os animais do planeta, inclusive com o bicho homem. Um pouco mais de consciência é necessário.

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