Desde agora começo a preparar a mala,
vou m'embora para o velho mundo.
Quem quiser ir na mala, essa é a hora.
Fica aqui o convite.
Escreverei do continente velho,
impressões pessoais:
um pouco de história e dos encontros casuais.
Saudades sempre, embora passageira,
ir pra estrangeira é bom demais.
vou sem eira nem beira,
pouca grana mas muita vontade de observar e contar,
o que por lá posso encontrar.
É sempre bom acabar com os estereótipos,
e ver as coisa na sua individualidade e pertinência.
Futebol é a época, mas além disso, museus continuam abertos,
festivais seletos, e muito, muito mais!
Quem quiser, aqui poderá ter minha impressão própria,
da visita que farei à dois países da Europa.
Até lá!
sexta-feira, 25 de junho de 2010
domingo, 20 de junho de 2010
Abre a cortina
Está ela sentada ao lado do monjolo vendo a mãe trabalhar. O sol já vai alto, quase onze horas. Algumas galinhas correm soltas pelo quintal. Dois pés de jabuticaba crescem lado a lado no fundão. Um cachorro amarelo coça as pulgas atrás da orelha e se estica, aquecendo-se nesse sol fraco de inverno. Ela segura a bacia de farinha, admira a força da mãe.
Tudo que comem na casa vem da roça. Roça que a mãe limpa, planta e colhe. Vem dos bichos no curral, das ervas no quintal, tudo é natural. O que hoje é "orgânico", para ela era cotidiano e natural. Mais tarde vão sangrar o porco, porco que quando pequeno era igual bicho de estimação, ia atrás dela e da irmã feito cachorro, brincava como criança, só que agora, muito gordo, essa é a única saída : virar costela, picanha, feijoada, torresmo... Hum, ela adora torresmo! Mas tadinho do porco... Não quero nem ver! Escorre uma lágrima tímida a este pensamento.
A família tinha dois empregados, Dito Galfo e Nhana Cuié. Nhana mantinha a mãe informada de tudo que acontecia na cidade.
Nesse dia, a empregada veio aflita contar para a mãe que avistara o Nhozinho entrando na casa de prazeres ali da praça! O pai da menina pegava o dinheiro da casa e distrbuía nos puteiros da cidade. Até casa comprou para uma. meretriz. Parecia até que eram ricos. Não eram. A família dava duro: ele mantinha um armazém, comida não faltava, e a mãe ia pra roça, mais pra esquecer do que por necessidade. Gostava de trabalhar e ganhar o próprio sustento.
Ao tomar conhecimento do descaramento do velho, a mãe ajeitou a saia, passou a mão na espingarda carregada presa atrás da porta da cozinha (pra espantar os ladrões de galinha) e saiu decidida: é hoje que eu mato aquele lazarento!
Com passadas largas e firmes, percorreu o caminho; a menina ia correndo atrás. Atravessou a praça sob o olhar curioso dos habitantes daquele interior de nada pra fazer. Subiu as escadas pulando os degraus. Espiou pela janela da sala antes de bater e viu o inficionado, com a viola no colo, tocando pras putas, um sorriso besta na cara, cigarrinho no canto da boca. A menina tinha apenas 8 anos, mas se lembra como se fosse hoje, via a mãe muito furiosa. Teve medo. A mãe respirou fundo e deu três batidas fortes na porta.
Imediatamente a cantoria cessou, os risos e deboches calaram, todos ficaram com as orelhas em pé, quem será? Ela bateu novamente, com mais força: Ara, abre essa porta! Ao ouvir a voz : Ih, é Lalaia! A casa toda estremeceu. E tá armada! O velho engoliu seco, levantou de um pulo, botou o chapér na cabeça, encaixou a viola de baixo do braço, Ai diacho! Pulou a janela dos fundos da casa e saiu correndo feito bicho assombrado, quebrando tudo quanto é pé de mandioca do quintal, sem olhar pra trás: é pernas pra quem te quero! Essa mulher aí eu num güento não!
Tudo que comem na casa vem da roça. Roça que a mãe limpa, planta e colhe. Vem dos bichos no curral, das ervas no quintal, tudo é natural. O que hoje é "orgânico", para ela era cotidiano e natural. Mais tarde vão sangrar o porco, porco que quando pequeno era igual bicho de estimação, ia atrás dela e da irmã feito cachorro, brincava como criança, só que agora, muito gordo, essa é a única saída : virar costela, picanha, feijoada, torresmo... Hum, ela adora torresmo! Mas tadinho do porco... Não quero nem ver! Escorre uma lágrima tímida a este pensamento.
A família tinha dois empregados, Dito Galfo e Nhana Cuié. Nhana mantinha a mãe informada de tudo que acontecia na cidade.
Nesse dia, a empregada veio aflita contar para a mãe que avistara o Nhozinho entrando na casa de prazeres ali da praça! O pai da menina pegava o dinheiro da casa e distrbuía nos puteiros da cidade. Até casa comprou para uma. meretriz. Parecia até que eram ricos. Não eram. A família dava duro: ele mantinha um armazém, comida não faltava, e a mãe ia pra roça, mais pra esquecer do que por necessidade. Gostava de trabalhar e ganhar o próprio sustento.
Ao tomar conhecimento do descaramento do velho, a mãe ajeitou a saia, passou a mão na espingarda carregada presa atrás da porta da cozinha (pra espantar os ladrões de galinha) e saiu decidida: é hoje que eu mato aquele lazarento!
Com passadas largas e firmes, percorreu o caminho; a menina ia correndo atrás. Atravessou a praça sob o olhar curioso dos habitantes daquele interior de nada pra fazer. Subiu as escadas pulando os degraus. Espiou pela janela da sala antes de bater e viu o inficionado, com a viola no colo, tocando pras putas, um sorriso besta na cara, cigarrinho no canto da boca. A menina tinha apenas 8 anos, mas se lembra como se fosse hoje, via a mãe muito furiosa. Teve medo. A mãe respirou fundo e deu três batidas fortes na porta.
Imediatamente a cantoria cessou, os risos e deboches calaram, todos ficaram com as orelhas em pé, quem será? Ela bateu novamente, com mais força: Ara, abre essa porta! Ao ouvir a voz : Ih, é Lalaia! A casa toda estremeceu. E tá armada! O velho engoliu seco, levantou de um pulo, botou o chapér na cabeça, encaixou a viola de baixo do braço, Ai diacho! Pulou a janela dos fundos da casa e saiu correndo feito bicho assombrado, quebrando tudo quanto é pé de mandioca do quintal, sem olhar pra trás: é pernas pra quem te quero! Essa mulher aí eu num güento não!
Você só sabe que aquele dedo é importante quando corta,
você só dá o devido valor ao ouvido quando ele dói e entope,
você só sente o coração quando ele acelera apaixonado ou assustado,
e a cabeça, quando ela pede arrego.
Vivemos sem prestar atenção em nosso próprio corpo, demasiado preocupados com nossos vizinhos, familiares e colegas. Olhar para o umbigo, só no isolamento do quarto e da vida, num momento de abstração total de outros seres que nos cercam.
Alienados em nós mesmos e vivemos uma vida paralela e imaginária.
Isso para não pensarmos no que realmente importa.
Quem já chegou a um nível de consciência, sente isso nos outros e nele mesmo, mas o simples fato de sentir, já faz dele um isolado. Vê os outros que nem percebem, já consumados pelo consumismo infame, gritam hurras para a partida de futebol, para a gostosa na esquina, brindando a última moda, martinis, cervejas, petiscos, carnaval...
Onde será que tudo isso vai chegar?
você só dá o devido valor ao ouvido quando ele dói e entope,
você só sente o coração quando ele acelera apaixonado ou assustado,
e a cabeça, quando ela pede arrego.
Vivemos sem prestar atenção em nosso próprio corpo, demasiado preocupados com nossos vizinhos, familiares e colegas. Olhar para o umbigo, só no isolamento do quarto e da vida, num momento de abstração total de outros seres que nos cercam.
Alienados em nós mesmos e vivemos uma vida paralela e imaginária.
Isso para não pensarmos no que realmente importa.
Quem já chegou a um nível de consciência, sente isso nos outros e nele mesmo, mas o simples fato de sentir, já faz dele um isolado. Vê os outros que nem percebem, já consumados pelo consumismo infame, gritam hurras para a partida de futebol, para a gostosa na esquina, brindando a última moda, martinis, cervejas, petiscos, carnaval...
Onde será que tudo isso vai chegar?
sábado, 12 de junho de 2010
Prefácio
"Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus."
(C.D.A)
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus."
(C.D.A)
Não tinham nada a ver um com o outro. Seus encontros começaram num trem que ía de São Miguel à São Paulo. Ela fugira de casa: não aguentava mais aquele interior de tédio e calor de areia. Ele buscava a mulher de sua vida.
A família dela tinha boa renda, o pai tinha um armazém e a mãe trabalhava na roça. Viveu sempre dentro de casa, protegida dos perigos da vida e dos homens, sempre fechada em seu pudor. Foi nesse tempo que aprendeu a cozinhar.
Ele já enveredava nos caminhos da técnica, tinha paixão pelas tensões eletrônicas. Sua família era pobre de marré.
Quando casaram, foram viver num cortiço com banheiro comum. Era um desconforto. Mas ela aceitou sua sorte. Antes isso que apodrecer naquele fim de mundo.
Casaram-se depois de oito meses que o pai da moça havia ido buscá-la em São Paulo. A virgem prometera voltar em um mês e um ano se passara...
Logo de cara, nas diretas dele, ela disse que não o amava. Mas ele ignorou o fato, e insistiu, até ter para si o que tanto almejara: uma mulher de papel passado e anel no dedo. A noite de núpcias foi assustadora para ela. Desmaiou diante da coisa imposta pelo laço matrimonial. Nunca pensara nisso e nem imaginava o que poderia ser. Nunca se recuperou do trauma. Para ela o sexo era esdruxulo. Nunca conheceu o prazer da carne. Fazia por obrigação. E dessa obrigação teve três filhos. Todos fortes e fisicamente saudáveis.
Ela aguentava a sorte a base de calmantes. E ele pinguçava. De temperamento calmo, quando bebia, chutava o pau da barraca.
Certa vez, ela implicando com a mesa de pernas tortas, ele com algumas doses na cabeça, resolveu o problema chutando as pernas com vontade de ver o mundo abaixo. Ela balançando a cabeça negativamente. Só pode ser louco. Suportaram-se até o fim. Dele.
Ela venceu as delícias do calmante e vive até hoje.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Confusão de junho
Entre livros, conflitos e nomes estou eu.
Sozinha.
É com gosto que leio "A estrutura da lírica moderna", de Friedrich.
Sempre quis entender a poesia moderna e nunca ninguém tinha me indicado um caminho...
Na angústia de um trabalho à apresentar em meio às feras acadêmicas, estou eu.
Metida.
Lendo e lendo, feliz da vida.
O feriado de hoje é a glória: poderei ler na minha rede, tranquilamente, os poemas de Drummond.
Queria vislumbrar o mistério da "Lição de coisas".
E do macro partir para o micro: preciso comparar poemas.
Poemas de amor, destruidor e egoísta.
Intitulei (aconselhada) o trabalho, "Os amores difíceis", parafraseando Italo Calvino.
Foi assim, entrei nessa por instinto e agora não sei se minto...
Aflição.
Paixão.
Apesar de tudo que ainda tenho que aprender e ler e ver e ouvir,
sei que a fonte é inesgotável,
sinto que estou na via certa, porque tudo isso me proporciona um grande prazer!
Sozinha.
É com gosto que leio "A estrutura da lírica moderna", de Friedrich.
Sempre quis entender a poesia moderna e nunca ninguém tinha me indicado um caminho...
Na angústia de um trabalho à apresentar em meio às feras acadêmicas, estou eu.
Metida.
Lendo e lendo, feliz da vida.
O feriado de hoje é a glória: poderei ler na minha rede, tranquilamente, os poemas de Drummond.
Queria vislumbrar o mistério da "Lição de coisas".
E do macro partir para o micro: preciso comparar poemas.
Poemas de amor, destruidor e egoísta.
Intitulei (aconselhada) o trabalho, "Os amores difíceis", parafraseando Italo Calvino.
Foi assim, entrei nessa por instinto e agora não sei se minto...
Aflição.
Paixão.
Apesar de tudo que ainda tenho que aprender e ler e ver e ouvir,
sei que a fonte é inesgotável,
sinto que estou na via certa, porque tudo isso me proporciona um grande prazer!
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