Está ela sentada ao lado do monjolo vendo a mãe trabalhar. O sol já vai alto, quase onze horas. Algumas galinhas correm soltas pelo quintal. Dois pés de jabuticaba crescem lado a lado no fundão. Um cachorro amarelo coça as pulgas atrás da orelha e se estica, aquecendo-se nesse sol fraco de inverno. Ela segura a bacia de farinha, admira a força da mãe.
Tudo que comem na casa vem da roça. Roça que a mãe limpa, planta e colhe. Vem dos bichos no curral, das ervas no quintal, tudo é natural. O que hoje é "orgânico", para ela era cotidiano e natural. Mais tarde vão sangrar o porco, porco que quando pequeno era igual bicho de estimação, ia atrás dela e da irmã feito cachorro, brincava como criança, só que agora, muito gordo, essa é a única saída : virar costela, picanha, feijoada, torresmo... Hum, ela adora torresmo! Mas tadinho do porco... Não quero nem ver! Escorre uma lágrima tímida a este pensamento.
A família tinha dois empregados, Dito Galfo e Nhana Cuié. Nhana mantinha a mãe informada de tudo que acontecia na cidade.
Nesse dia, a empregada veio aflita contar para a mãe que avistara o Nhozinho entrando na casa de prazeres ali da praça! O pai da menina pegava o dinheiro da casa e distrbuía nos puteiros da cidade. Até casa comprou para uma. meretriz. Parecia até que eram ricos. Não eram. A família dava duro: ele mantinha um armazém, comida não faltava, e a mãe ia pra roça, mais pra esquecer do que por necessidade. Gostava de trabalhar e ganhar o próprio sustento.
Ao tomar conhecimento do descaramento do velho, a mãe ajeitou a saia, passou a mão na espingarda carregada presa atrás da porta da cozinha (pra espantar os ladrões de galinha) e saiu decidida: é hoje que eu mato aquele lazarento!
Com passadas largas e firmes, percorreu o caminho; a menina ia correndo atrás. Atravessou a praça sob o olhar curioso dos habitantes daquele interior de nada pra fazer. Subiu as escadas pulando os degraus. Espiou pela janela da sala antes de bater e viu o inficionado, com a viola no colo, tocando pras putas, um sorriso besta na cara, cigarrinho no canto da boca. A menina tinha apenas 8 anos, mas se lembra como se fosse hoje, via a mãe muito furiosa. Teve medo. A mãe respirou fundo e deu três batidas fortes na porta.
Imediatamente a cantoria cessou, os risos e deboches calaram, todos ficaram com as orelhas em pé, quem será? Ela bateu novamente, com mais força: Ara, abre essa porta! Ao ouvir a voz : Ih, é Lalaia! A casa toda estremeceu. E tá armada! O velho engoliu seco, levantou de um pulo, botou o chapér na cabeça, encaixou a viola de baixo do braço, Ai diacho! Pulou a janela dos fundos da casa e saiu correndo feito bicho assombrado, quebrando tudo quanto é pé de mandioca do quintal, sem olhar pra trás: é pernas pra quem te quero! Essa mulher aí eu num güento não!
Tudo que comem na casa vem da roça. Roça que a mãe limpa, planta e colhe. Vem dos bichos no curral, das ervas no quintal, tudo é natural. O que hoje é "orgânico", para ela era cotidiano e natural. Mais tarde vão sangrar o porco, porco que quando pequeno era igual bicho de estimação, ia atrás dela e da irmã feito cachorro, brincava como criança, só que agora, muito gordo, essa é a única saída : virar costela, picanha, feijoada, torresmo... Hum, ela adora torresmo! Mas tadinho do porco... Não quero nem ver! Escorre uma lágrima tímida a este pensamento.
A família tinha dois empregados, Dito Galfo e Nhana Cuié. Nhana mantinha a mãe informada de tudo que acontecia na cidade.
Nesse dia, a empregada veio aflita contar para a mãe que avistara o Nhozinho entrando na casa de prazeres ali da praça! O pai da menina pegava o dinheiro da casa e distrbuía nos puteiros da cidade. Até casa comprou para uma. meretriz. Parecia até que eram ricos. Não eram. A família dava duro: ele mantinha um armazém, comida não faltava, e a mãe ia pra roça, mais pra esquecer do que por necessidade. Gostava de trabalhar e ganhar o próprio sustento.
Ao tomar conhecimento do descaramento do velho, a mãe ajeitou a saia, passou a mão na espingarda carregada presa atrás da porta da cozinha (pra espantar os ladrões de galinha) e saiu decidida: é hoje que eu mato aquele lazarento!
Com passadas largas e firmes, percorreu o caminho; a menina ia correndo atrás. Atravessou a praça sob o olhar curioso dos habitantes daquele interior de nada pra fazer. Subiu as escadas pulando os degraus. Espiou pela janela da sala antes de bater e viu o inficionado, com a viola no colo, tocando pras putas, um sorriso besta na cara, cigarrinho no canto da boca. A menina tinha apenas 8 anos, mas se lembra como se fosse hoje, via a mãe muito furiosa. Teve medo. A mãe respirou fundo e deu três batidas fortes na porta.
Imediatamente a cantoria cessou, os risos e deboches calaram, todos ficaram com as orelhas em pé, quem será? Ela bateu novamente, com mais força: Ara, abre essa porta! Ao ouvir a voz : Ih, é Lalaia! A casa toda estremeceu. E tá armada! O velho engoliu seco, levantou de um pulo, botou o chapér na cabeça, encaixou a viola de baixo do braço, Ai diacho! Pulou a janela dos fundos da casa e saiu correndo feito bicho assombrado, quebrando tudo quanto é pé de mandioca do quintal, sem olhar pra trás: é pernas pra quem te quero! Essa mulher aí eu num güento não!
Nenhum comentário:
Postar um comentário