terça-feira, 25 de agosto de 2009

Tributo à Raulzito

Sob a ótica de uma careta momentânea.

Sábado passado foi seu tributo, Raul Seixas. Comemoração dos 20 anos da sua morte. Ficou estranho. Mas é isso mesmo. Faz 2o anos que você se foi desse mundo para outro, cantando a famosa fórmula: "eu nasci ha 10 mil atrás! E nao tem nada nesse mundo que eu não saiba demais". É Raul, eu tenho ainda muito que aprender desse mundo. Mas posso dizer que apesar da sua ausência já um pouco espaçada, você ainda consegue ser a mosca que atrapalha o sono, o poeta que mexe com as idéias, essa metamorfose ambulante presente pra caramba nas mentes de seus fãs e simpatisantes. O que tinha de sósia seu lá no tributo... um circo pegando fogo.

Pois bem, o tributo começa como uma viagem para o interior. De trem! Acredite, com 50 centavos você viaja 2h até chegar em Ceará-Mirim. Na ida, a viagem foi tranquila. Os grupos foram chegando aos poucos, quietos e desconfiados. Muitas tribos, que normalmente não se misturam, no mesmo trem, indo para o mesmo lugar, pra curtir o mesmo som. É raro acontecer um negócio desses. Uma vez por ano acontece por causa do Raulzito. É uma tradição regional. As pessoas comuns, ou seja, que pegam o trem todos os dias, deviam se perguntar que gente era essa esquisita em seu trem.

Chegamos na cidadezinha de interior, com suas casinhas coloridas, uma igreja com duas torres e um povo derramando olhares de curiosade e de espanto sobre nós. O que será que eles acham dessa festa da cidade? Só me veio agora a idéia de perguntar pra alguém. Estava do lado de cá da observação.

Como tradição acarreta rituais, o tributo à Raul não é diferente. Ao descer de trem, a massa volumosa de criaturas estranhas se dirige à uma praça arborizada, e ali faz a primeira saudação esfumaçada a Raul. Um charutão gira na roda.

- Cuidado com isso! O delegado da cidade é casca-grossa.

Disse o autor do charuto, minutos antes, em frente a estação de trem. Quando olhei pra roupa dele, descobri uma regata branca, salpicada de folhas de cannabis. Só podia estar tirando onda antes. O cabelo era emaranhado, mas jeitoso, uma barba comprida que lhe ia até o pescoço. Moreno. Primeira figura interessante que vi no dia. É conhecido por THC. Não vou dizer porque. A praça que estava cheia de gente, foi se esvaziando pouco a pouco. Pra onde vai todo mundo? Pro mercado de Ceará-Mirim. O que tem lá? Comida. Segunda parada.

Vou dizer que o passeio, pois para mim foi um passeio, começa ao meio dia, quando você sai de casa em direção à Ribeira, pra pegar o trem. Num sábado, quem é que vai almoçar ao meio dia com um rolé desses pela frente. É ali que as pessoas do tributo comem todos os anos. Faz parte do ritual também. Esse mercado é um galpão com pequenos estandes de comida espalhados dentro dele; cheio de gente sentada em volta de pequenas mesas. O que tem pra comer? Buchada, rabada e nada de empada. Tem mais homem do que mulher. Os homens olham para as mulheres comendo com os olhos. É uma sensação diferente das cidades mais populosas, sentir uma olhada dessas não tem preço. As pessoas ali são mais bicho. São instintivas acho. Estão em maior contato com a natureza, com a terra. Acho que o mercado é o lugar onde os moradores da cidade se encontram para conversar, comer e beber. Fazem isso todos os sábados? Não sei. Foi interessante a visita. Dividi 1 prato com as meninas. 4 pra 1. Foi a conta.

Antes disso compramos o ingresso do show de tributo à Raul. 10 reias. Ao sair do mercado descemos a rua da cidade que leva à um rio. Melhor dizer um córrego. Atravessamos uma pontezinha e descemos ao lado dele. Mais saudações à Raul. O passeio chegava no seu segundo quarto. A parte de curtir a cidade tinha acabado. Subimos de volta a ladeira e entramos no show. Estava lotado! Vi todo tipo de figuras. Muitos com camisas, chapéus, óculos e outros símbolos que os fazem pensar em Raul. É uma homenagem. Mais uma.

Do lado esquerdo do salão de festa, tem um quintal. Bem ventilado. Passei grande parte da noite nele. A sala de dança estava cheia de fãs alterados. Tocaram os hits. Não ouvi tocarem ouro tolo. A energia estava meio pesada. Mas ver ali, gente de todo tipo reunida pra homenagear um grande artista é bonito. Uns receberam Raul num gole de cerveja, outros usaram óculos escuros, teve aqueles que de bike foram e voltaram até a luz das estrelas. E teve os que ficaram de cara.

Vi um sósia de Raul estendido na rampa que dava no salão, parecia morto. Passei do lado dele preocupada e pude verificar que não, ele estava bem vivo, vomitando a comida do mercado. Mesmo assim me pareceu quase morto, triste de se ver. Depois de algum tempo ali estendido no chão com as pessoas pisando perto da sua cabeça, ele levantou, deu uma volta em si mesmo e caiu de novo, um pouco mais longe, no começo da rampa. Um cara leventou ele, alma boa, e apoiou contra o muro. Mas ele despencou que nem mamão maduro. Os seguranças devem ter levado ele pra uma enfermaria. Porque depois de algumas horas eu o vi de novo no salão curtindo Alcapone. Já estava com a cara melhor. E não estava mais bebendo, menos mal.

Vi muita gente que optou pelo ácido. Riam e se moviam como borboletas felizes. Os da bira, como dizem os meninos de Brasíla, encheram a cara com o que tinha. Terminou sendo, uma boa idéia.

Passaram-se horas e a gente naquele ritmo desenfreado, esperando o trem das onze. Único meio de transporte para voltar para a capital naquelas condições. Os bêbados já tinham desistido de beber, ou o dinheiro tinha acabado; os doidos adocicados ainda pinoteavam no salão; os caretas? Já estavam esgotados. Aí o cara falou no microfone: 22h30, quem quiser ir embora deve ir agora para a estação. Foi uma mudança silenciosa de atitudes, da dança as pessoas assumiram o passo e se dirigiram feito larva em direção ao famoso trem das onze.

Chegando lá na frente, muita gente estava perdida. Irmãs chorosas. Pulamos a cerca. Me senti criança fazendo travessura. Pula gata, pula! Escalei uma daquelas portas giratórias de rodoviária, passei por um vão em cima dela e caí do outro lado. Foi emocionante.

Os perdidos não apareciam. Loucos em pânico dentro dos vagões. As portas ainda estavam abertas, o trem iluminado apenas pelos postes da rua. Essa viagem vai ser longa. Os desaparecidos apareceram. O trem partiu. Estava abarrotado de gente embriagada, louca de pó, ácido e maconha. Fumantes anciosos. Cigarro. Cerveja. Uma putaria. Risadas estrombólicas e gritos de terror. Parecia um trem fantasma, apitando sua passagem no meio do interior. Isso só acontece uma vez por ano. É o dia de pirar a cabeça, me disse um indivíduo, cada um à sua maneira. Vamos ficar loucos em Raul!

Chegamos na Ribeira. Só queria ir pra casa. Via costeira, 56. Boa noite e até ano que vem. Quem sabe?


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Análise poética e Marcelo Mirage

Ninguém deveria analisar ninguém. O Marcelo veio me falar de análise poética, o quanto isso é absurdo. Cada um tem para si a poesia que entende. Ele afirma que o mais importante é a emoção que aquelas palavras despertam na gente. É o que fica. A pureza da coisa. Então como é que vem um professor detonar com nossa fantasia? Isso é terrível. Enquadrar uma coisa que é infinita. É como se um adulto dissesse para uma criança que sonhos não existem. Um homicídio interior. Não existe jeito certo de ver o mundo hoje em dia. Não existem mais bandeiras para defender. Marcelo diz que nos tornamos sarcásticos diante da vida cotidiana. Antigamente demandavam seriedade, hoje olhamos irônicos.
O que dividiu o pensamento humano foi especialmente a Segunda Guerra Mundial e seu genocídio. O Holocausto como muitos costumam chamar. Fomos mesmo capazes de tais atrocidades? O homem se viu mal. Injustiça é pouco para significar o que o povo judeu já sofreu em sua existência na Terra. Mais uma vez o Marcelo disse: os grandes homens da modernidade eram judeus. Marx, Einstein, Freud, entre outros que ele citou e eu não lembro os nomes agora. Os grandes eram judeus. Os que trouxeram algo importante para a humanidade eram judeus. Por quê? Porque eles se preocupam com a educação. Eles dão muito valor aos estudos. Lêem muito, pesquisam, questionam, justificam e buscam sempre.
Depois da guerra perdemos a seriedade. Que choque. Um homem só, convenceu uma população inteira (praticamente) de que aquele povo ali, que sabe fazer dinheiro, é inferior aos arianos, de cabelos louros e olhos azuis (questão de pele de novo?!). Olha que Hitler nem era alemão e nem era louro dos zói azul. Não. E através da propaganda convenceu uma nação. Para mim ainda é difícil entender como.
Mas enfim, o papo era a análise poética. O Marcelo não suporta quando dizem um jeito certo de analisar poesia. Aquele jeito quadrado: herói, anti-herói, estrofes, versos e bláblá. Mas agora ele vê também que não basta apenas ter um conhecimento mais elevado, tipo conhecer o contexto histórico, a história do poeta, suas manias e jeitos. Isso dá uma visão de entre-linhas, claro. Mas também não é o único jeito. Ele diz que hoje em dia importa muito mais as lágrimas que um poema tira de sua mulher, do que o significado que o próprio autor tentou passar. Talvez seja esse mesmo o objetivo da poesia: sussitar emoções, independente do entendimento. Pois, podem ser tantos. Eu gosto desta maneira legère de se poder ver os versos. Prefiro muito mais uma dança livre ao ritmo das palavras, do que uma marchinha militar. Pas vrai?

Lelé e Dacuca ou O passeio das meninas

Acordei engasgada com o muco. Minha garganta doía demais. Sabe aquela esperança de dias melhores? A gente só sente isso quando tá no aperto. Fui dormir ontem, depois de tomar o infalível Benegripe, achando que ia acordar zero hoje. Acordei. Abri os olhos e vi o teto. Tentei não me mexer, será que não vou sentir nada mais de dor? Concentrei-me em meu corpo e dei a primeira engolida dolorosa do dia. Ai, ai. Levantei com tudo, irritada, e mais uma pontada, agora na nuca. Ai minha cabeça. O chão balançando. Ai, ai, ai. Pior hoje que o nariz estava entupido. Coloquei rinossoro e tomei um banho quente. Fiz chá de erva doce e fui chamar a vó. Estava decidida a ir para o pronto-socorro logo cedo. Três dias daquele jeito não dava mais pra aguentar.

-Quer ir comigo no hospital vó?

Encolhida na cama, disse que sim com a cabeça. As duas muito mal. Às 7h já estávamos a caminho do centro da cidade pra buscar a segunda via da meu cartão do seguro de saúde, que foi roubada. Foi uma hora de enrolação, e eu mal. A vó no carro esperando. Não conseguiram imprimir o cartão, mas garantiram que no pronto-socorro estariam me esperando. Ótimo!
Chegando lá, aquela história de sempre: muita gente. Esperamos.

-Vó pra qual você quer ir: clínico, cardiologista ou ortopedista?
- Primeiro no ortopedista por causa do meu braço. Dói muito.
- Tá certo. Eu vou no geral mesmo. Então vamos separadas viu?
- Tudo bem.

Fui a primeira a entrar. O médico me avaliou como estado de infecção forte na garganta e no nariz. Congestão total. Posso imaginar o desconforto. Não me diga. Vou mandar você pra enfermaria, fazer uma coleta de sangue, um raio X. Raio X? Tá na chuva é pra se molhar. Se tá com medo pra que veio? Fui pra enfermaria.

- Mas vocês vão colocar tudo isso de soro? E que remédio vocês colocaram aí? Pra dor? Hum. Acho que um tubo só é suficiente.

Primeiro ela errou a veia na parte debaixo do braço. Pedi pra ela pegar na mão. Dói. Tirou o sangue e injetou o soro. Olhei pra porta e lá ia a vó numa cadeira de rodas, empurrada por um funcionário, em direção aos raios X. No céu. Depois do resultado, tomou uma injeção de antiinflamatório para o braço.

O soro com o remédio para tirar a dor, não melhorou os picos de calor e de frio, nem os estados de sonolência. Estava ficando com fome também. Encontrei a vó na recepção. Ela esperando agora para ir no clínico geral e eu retornando no meu para saber do laudo. Sinusite. É mesmo? Sim, sim. Antibiótico e corticóide. Ah, corticóide eu não vou tomar. Por que não? Porque não gosto. Tem que tomar, ajuda a diminuir a secreção aqui. Apontou para a região abaixo dos meus olhos.

A vó foi fazer outra radiografia. Não acredito! Estava derretendo naquela sala de espera. Muito barulho, muita gente, um calor, um programinha ridículo na Record, e nem o livro que eu tô lendo me animava. Uns 45 minutos depois ela voltou na cadeirinha de roda. Eu já vinha pensando alguns minutos antes que eu devia ter paciência, compreensão e tolerância. Foi uma eternidade. Quando vi ela chegando com a enfermeira falei:

- Não me inventa mais nada. Preciso ir embora daqui. Como é que foi o raio X?

Paciência, compreensão e tolerância.

- Pega minha carteirinha.

O passeio acabou.

Depois de passar pelo ortopedista, colocaram nela uma faixa para manter o braço dolorido imobilizado. Nossa vó, quanto tempo você vai ter que ficar com isso? Não sei, respondeu séria. Assim que saímos do hospital ela disse que incomodava demais. De lá, fomos almoçar fora pra ninguem ter que lavar a louça. Não é fazer comida que enche, é a louça que pesa.

E a faixinha atrapalhando os movimentos livres de dona Lourdes. No elevador ela disse:

- Não vou aguentar isso. Não tem jeito, gosto de mexer o braço assim. Fazendo círculos.

Entrou em casa e foi arrancando a faixa. Me ajuda aqui!

domingo, 16 de agosto de 2009

Sofia e a incerteza do amanhã (como todos os mortais)

Numa manhã de domingo, Sofia se contenta em acordar às 5h da manhã para dar comida pros gatos. Não que ela não tenha ficado puta da vida com o gato preto miando na porta e pulando repetidamente no quarto ao lado para abrir. Só que a habitante deste quarto é mais esperta, trancou a porta à chave, para ele não realizar seu ato por inteiro: abrir a porta num pulo, invadir o quarto seguido de outros gatos gulosos, subir na cama e olhar pra cara do indivíduo como quem diz: "Ei, vamo acordar!?".
A porta está trancada, mas ele é persistente, vai ver por ser brasileiro, não desiste nunca. Pulou, pulou e pulou, fazendo o maior estardalhaço. Até que Sofia levantou, meio cambaleante, ainda sob os efeitos da noite de sexta. Que loucura! Pensou. Foram tantas emoções. Sempre com Rebecca as coisas andam depressa. Aventura certa. Foram bater em Pipa, pra ver o sol nascer. Da praia do amor, com dois enamorados. Pareceu romântico. São românticas nas horas vagas, e daí?
Sofia se lembra do italiano. Mentira! Só lembrou dele quando chegou em casa. Não consegue esquecer o cara. Impressionante. Sai pra lá aventureiro! Que encosto. Nada. Tudo que faz, lembra ele. Como é que foi que o cara se fez tão presente? Foram poucos dias de convivência e a presença dele não saiu ainda da casa. Tomou um vinho chileno, lembrou dele. Falou de educação, ele de novo. Isso pra citar apenas dois exemplos. Entrou na carne, feito punhal. Se tirar o sangue jorra. Já faz parte dela.
Não tem gente que vemos num dia e já são importantíssimas para nossas vidas? Esse cara chegou pra ficar na vida de Sofia. Um aventureiro interessante, seguro de si, quase um brasileiro.
Sofia toma amarula e lembra dele. Há quanto tempo não se apaixonara? Desde os tempos do onça. Quando ainda acreditava no romantismo. É uma romantica mesmo. Achou que tinha se curado da doença. Há mais de 5 anos que nada se passava naquele coração. Faltou encontrar alguém que mexesse com suas emoções. Apareceu o tal, e já foi embora. Uma pena. Pelo menos ela pensa, pensa muito. O que foi que aconteceu? Será que volta e bate na minha porta? Ou será que foi daqueles encontros fugazes que a vida faz acontecer?
Ela não sabe. Aguarda notícias de Outre Mer.
Enquanto isso, ela se diverte, afim de curar essa dúvida que trás dentro de si.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Da euforia julhiana à melancolia de agosto


Foi um mês agitado, o de julho, com visita, amiga de infância, férias das obrigações naturais, viagem, praias, curtição noturna. Conhecemos muita gente. Amizades novas. Foi numa dessas conhecenças que me apaixonei. Pipa não é lugar pra conhecer ninguém! Afirmou meu primo. Ali só dá malucos e pilantras. Dei ouvido? Não, claro. Shame on me!
A amiga se foi, de volta ao velho mundo, de volta às suas obrigações. A paixão ficou. Mais alguns dias e também voltaria ao velho mundo. Como lidar com isso, eu não sabia. Já estava me sentindo aleijada de uma perna sem a amiga com quem dividi 3 semanas de pura emoção. Só curtimos e acrescentamos uma à outra. O amor de férias, ficou estranho. E como é mesmo que se pode apaixonar nas férias? Devia ser proibido. Sabe-se que ele vai embora e nunca mais, talvez, o encontre. Como é que um coração sensível deve lidar com isso? O meu ficou aos galopes esses últimos dias. Nem consegui ir dizer tchau. Não houve um último adeus. Ao contrário, briguei com ele. De quem foi a culpa eu não sei. Sei que a cada relação percebo mais o abismo que existe entre homens e mulheres. Não nos compreendemos. E como pensamos diferente.
A mulher esquece sua liberdade na hora mesmo em que se apaixona. Quer dividir tudo com o outro. Faz projetos, imagina o futuro, será que esse é o tal? O homem, ao contrário, reluta muito antes de se deixar apaixonar. Ele pisa em ovos, faz de tudo para não ter que dividir seus momentos pessoais, gosta de manter isso ao máximo. Demora para se apaixonar, mas quando isso acontece também, não há mais nada que possa salvá-lo do amor. Ama para sempre. A mulher apaixona e desapaixona com facilidade. Veio ao mundo para amar, ser mãe, amante, esposa, tem muito amor pra dar! É inato. Está no seu papel aqui na terra. Então vai pulando de galho em galho até encontrar o principe encantado, na melhor das hipóteses, ou então aquele que saiba aceitá-la do jeito que é.
Voltei ao ponto inicial. Amiga e homem foram embora. Acabou a euforia das férias forçadas. Des vacances chez moi. O que ficou? A descoberta de uma grande amizade que ainda dormia em nossos peitos. A descoberta de coisas em comum, mais do que se poderia imaginar, visto que fomos criadas longe, nos vimos tão pouco, e nos damos tão bem. E um coração magoado, mas compreensivo, esperançoso ainda de alguma notícia daquele ladrão de sorrisos bobos, dos carinhos gostosos, e daquele jeito apaixonadamente livre. Um olhar de bicho selvagem, que espreita a sua presa, e quando a toma é sem dó nem piedade. Me pegou?
Mesmo assim, meio capenga, penso: life must go on!
E hoje é sexta-feira. Vou sair pra aerar as idéias, dançar.
Alguém tá afim?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Arquipélago Fernando de Noronha




Ai, ai, realizei um grande sonho da minha adolescência, tempos de que me lembro escutar meus pais falarem deste paraíso natural. Um mar azul turquesa, com água límpida que dá para ver o fundo. Animais marinhos. Muito verde. Sempre me deslumbrei com as cores do mato e das águas. Quando me mudei para Natal, criei o hábito de pensar constantemente: estou vivendo no ponto mais próximo da ilha e ainda não fui lá! Um sentimento de desejo quase realizado.
Quando a Sarah me veio com idéias de viagens pelo Brasil, pensei logo em ir pra Noronha. Ela veio com a idéia de ir para Belém se enfiar no meio do mato. Ver bichos e índios. Pessoal de fora adora essas coisas, e eu que moro aqui, fazia tempo que não pensava neles. Sempre quis conhecer o Mercado do Ver-o-Peso, aquele cheio de coisas estranhas e diferentes, vindas de um mundo mais palpável que o meu. Gostei da idéia, mas a ilha brilhava na minha cabeça.
Fomos ver os preços. Belém, sem nada só avião e hotel, dava uns 1500 reais para 4 dias. Noronha deu 1200 com avião, hotel e um passeio de barco. Pareceu mais interessate a ilha. E também deu um medinho de ir pra Belém nessa época de muita chuva. Depois que conversamos em Pipa com uns estrangeiros que estão viajando pelo Brasil, chegamos à conclusão de que talvez a ilha de Fernando de Noronha fosse a melhor idéia mesmo, porque todo mundo pega o barco de Belém até Manaus e é aí que se sente a selva. Iamos voltar frustradas de não poder ir mais longe. Além disso, eu fiquei com medo, confesso aqui, das doenças e das histórias que ouvimos sobre lá. Essa vai ser nossa próxima viagem. Daqui 1 ou 2 anos. Daqui pra lá eu vou ganhando a coragem!
Chegamos de Noronha ontem a noite. 4 dias e 3 noites numa pousada muito boa, que a Tania conseguiu pra gente. O nome: Simpatida da Ilha. Na Vila dos Remédios, perto das praias: da Conceição, Central e do Cachorro.
A operadora que recebeu a gente era a Atalaia. A Sarah e eu programamos a nossa tarde. "Chegamos no aeroporto às 13h, até chegar na pausada meia hora estourando e tchau: biquini e praia!!!". Começamos a perceber o movimento da ilha nessa hora. Nos levaram para uma empresa de mergulho e passeios de barco. Passaram um vídeo sobre o arquipélago. Passaram mil e uma opções de passeios e pacotes. A Sarah e eu saímos da sala e esperamos os outros pra pegar o ônibus. 1h já tinha passado. E o pessoal comprando passeio. Temos que esperar todo mundo??? Sim, sim. Esperamos indignadas. Quase pegamos carona. Às 15h30 chegamos enfim na pousada. Mortas de fome, fomos em direção à praia, procurando um restaurante. Achamos um ideal, entre a Praia Central e a Praia da Conceição. Sentamos de frente para o Morro do Pico. Morro este que não se pode mais subir, para minha infelicidade. Para driblar os preços calientes dos pratos, montamos o nosso próprio menu: porção de arroz, de felijão, de farofa, uma salada sortida e bananas fritas (sem o empanado) deliciosas. Total: 38 reais. Depois de encher a pança, corremos pra praia da Conceição. Avistamos uma rede de volei. Oba, esporte! Andamos até onde deu, por causa da maré. Entramos no mar. Que maravilha! Transparente, límpido e fundo. Foi perfeito o sol mergulhando no mar. De noite comemos crepe e fomos dormir. Ainda estávamos cansadas de Pipa.
Cedinho o ônibus da operadora foi buscar a gente e outros turistas nas respectivas pousadas em direção ao porto. Nosso passeio de barco. Fomos de cabo a rabo do Mar de Dentro. Vimos do mar as praias tão famosas: Cacimba do Padre, Boldró, Baía do Sancho, Baía dos Golfinhos. Fizemos apnéia na Baía do Sancho, mas não nos deixaram ir para a beira da praia. Um dia depois eu descobri o porquê. O mar tava meio sujo, deu pra ver uma tartaruga e um polvo, fora os peixes de muitas formas e tamanho. Fom bom o passeio. Mas ainda não estava impressionada com a ilha. Será que é verdade que quando a gente espera muito uma coisa, a gente acaba se decepcionando? Por que superestima? Imagina demais? Fantasia muito?
De tarde, depois de comer num self-service à 32 reais o quilo, descemos na Praia do Cachorro. E lá conhecemos o Little Dog. De nome Jeferson, mas conhecido na cidade como cachorrinho (o pai que é o Cachorrão), foi simpático desde o primeiro minuto. Combinamos com ele de fazer um passeio pela ilha no outro dia, um ilha tour alternativo. Ele conseguiu um buggy por 80 reais. Enchemos o tanque com 40 reais. A gasolina lá custa 3,78 reais.
Começamos pela Praia do Leão, que fica no Mar de Fora. A visão é mais fria. A cor do mar é intensamente azul, pendendo pro Turquesa. Um vento forte do Oceano. Nosso guia apontou as pedras gigantes em frente: Viuvinha e do Leão. O nome vem de uma história de que encontraram um leão marinho morto nessa praia. E a pedra em frente tem o formato de um leão marinho. Vimos a praia de Sueste. Linda também. Desistimos da Atalaia. Queríamos ver o máximo, e lá íamos perder tempo esperando a vez de entrar. O lugar habita recifes e piscinas de um joelho de profundidade. Não se pode tocar em nada, tem que boiar. Fica pra próxima. Visitamos os arredores do porto, o museu do tubarão. De lá tem uma paisagem linda, quando se olha em direção ao Buraco da Raquel. Raquel era a filha do militar que comandava a ilha. Era para esse buraco que ela ia namorar com os soldados. Rebeldia adolescente. Terminamos a manhã passeando pela praia do Boldró, no Mar de Dentro, e nadamos na Praia dos Americanos. Por que americanos? Parece que foram os americanos que começaram a tomar banho pelados ali. A praia é pequenininha, aconchegante e deserta. O banho foi ótimo. Com ondas grandes e fortes quebrando no raso. Um cardume enorme de peixes nadava ao nosso lado. Sardinhas. A água é transparente. Isso me impressionou muito naquelas praias de Noronha. Não me lembro quando foi a última vez que consegui ver meus pés dentro do mar. A praia dos Americanos recebeu seis, e não cinco, estrelas da Sarah. Linda! Amanhã temos que voltar.
Almoço em outro por quilo, um pouco mais barato. A bateria da máquina acabou e fomos atrás de um carregador na Vila dos Remédios. Achamos, demos uma carga pequena e continuamos o passeio até a Cacimba do Padre e a Baía dos Porcos. Mergulhamos na última. O mar estava mais alto. Ondas fortes e algumas pedras. Vimos uma tartaruga, peixes. É louco quando coloco a cabeça dentro da água e olho um mundo novo. Normalmente só vejo o espelho refletindo o mundo daqui de cima, sem me dar conta que em baixo dele existe um mundo impressionante. Eu respeito.
O próximo destino foi o Mirante dos Golfinhos. Para chegar lá tivemos que percorrer uma trilha no mato. Já gostei. Assustamos três lagartões (não lembro o nome, seria Juá?). Vimos uns bichinhos que pareciam meio coelhos, meio esquilos (também não gravei o nome). Na entrada do Mirante uma pedra da minha altura, presa à ela uma placa homenageando o Sarney por ter aprovado o projeto de estudos do golfinho rotador. Quando a paisagem se abriu na nossa frente, ninguém falou. Eu fiquei extasiada com aquilo. Tinha barulho de lugar selvagem, intocado. Pássaros voavam calmamente pelo céu. Nem precisamos ver golfinhos. O horário era perfeito: 4h. O sol já estava baixando, a luminosidade muda nessa hora. Fica mais rosa e suave. Sentamos ali nos bancos de madeira protegidos por duas árvores centenárias. Meditamos. Eu mesma não consegui. Estava tão interessada em observar os movimentos da natureza que não consegui me concentrar. Foi o momento mais lindo da viagem para mim.
Passamos por mais uns três mirantes dando em cima das praias que vimos do barco um dia antes. E descemos pelo meio da pedra uma escada de incêndio, bem apertadinho. Depois se desce escadas talhadas na pedra e pronto: bem-vindo ao Jardim de Eden. Adão e Eva fariam loucuras por ali. A praia mais romântica. Ali me acendeu a vontade de ter alguém em quem pensar. De novo as máscaras e snorkeling. Ai! Entramos pelo lado direito da praia. Tinhámos que passar como por um corredor entre duas pedras: uma comprida pra cima e outra pro lado. A Sarah entrou sorrateira. Enquanto eu ainda criava coragem, ela já estava chegando no final do corredor. Falei pro guia que estava achando que o mar estava subindo. Ele me tranquilisou dizendo que se subisse a gente saía na hora. Quando o mar aumenta, se prepare para uma série de cinco ondas caprichadas. Eu entrei e consegui ir até o final do corredor. Mas era olhando pra baixo e pro lado a cada 30 segundos. Estava desconfiada do mar mudar de uma hora pra outra. Tava na cara. Queria vencer o medo. Dei umas duas braçadas para depois da pedra, olhei pro lado do horizonte e vi a formação da onda. Ai meus Deus! Cadê o Jefferson? Tava do meu lado. Menos mal. Quando a onda chegou em nós ele disse: busca areia! Hein? Lavagem de roupa. Quero sair agora pelo amor de Deus! Ele devia estar achando graça. Fomos mais pro fundo pra poder pegar a onda antes de quebrar. Ela quebra inteirona, com som de trovão. Depois que saí, olhei pro mar e não vi a Sarah. Tinha até esquecido. Lá estava ela, batendo perna tranquilamente com a cara enfiada na água. Só que ela não percebeu que estava no cume da onda. Quando vi, já era tarde para gritar. Levou um rola. Saiu bêbada de dentro da água, sorrindo.
Pegamos o caminho de volta. Já estávamos exaustos, mas queríamos ver o pôr-do-sol de um pico legal. Tentamos e não conseguimos chegar a tempo para ver o sol se por no Mirante do Padre. De noite fomos pro forró do Bar do Cachorro. Foi a primeira noite que saímos.
Último dia. O buggy ainda estava com a gente. Cada uma escolheu o seu lugar favorito e seguimos destino. Primeiro fomos para a praia dos Americanos. Tentamos tomar banho peladas, mas uma raia bastante grande rapidamente nos fez chispar da água. Tomamos sol, meditamos, tiramos fotos. Quando cansou, fomos para o Mirante dos Golfinhos. Tinha duas meninas do Ibama observando o movimento dos golfinhos. Um grupinho apareceu. Nos despedimos. Fomos para a pousada, arrumamos as coisas e fomos comer no restaurante do primeiro dia.
Cansadas, com vontade de ir embora, desgostosas com o tratamento das pessoas da ilha, nos alegramos de termos visto o que deu vontade. E só o que foi possível. Voltarei para ilha pela natureza, pelos lugares que não conheci, para o mergulho também. Mas o pessoal que trabalha na ilha precisa de algum tipo de instrução de como fazer com que as pessoas queiram voltar também por eles. Se a ilha virou ponto turístico, as pessoas precisam aprender a lidar, ajudar e entender o turista. Foi lindo! Valeu a pena. Sonho realizado! Estou pronta para uma nova aventura!