sábado, 19 de dezembro de 2009

Le chien à Toto

Il était une fois un chien de rue, qui n'avait jamais connu la joie d'être aimé. Il était si moche que personne n'osait même pas le caresser. Pauvre chien, il a grandi dans un sentiment de haine et incomprehension inimaginable.
Un beau jour, Toto se promenait dans la vie, et il a remarqué ce pauvre chien maigre et ignoble. Il s'est dit: "Je vais prendre ce chien pour lui apprendre à être comme moi-même ". Avec beaucoup de soin, il a appris à ce chien l'art de l'ignorance, se montrant le meilleur ami. Mais toujours avec quelque souci, car le chien mordait de temps en temps. On ne peut comprendre ce qu'elle a soubi cette pauvre bête fétide avant rencontrer son maître.
Toto lui a tout appris, de A à Z: "je suis le meilleur, je suis parfait". Le chien, qui ne comprenait pas les effets d'un mirroir, a été surpris de penser la même chose: Je suis parfait! aboyait-il tous les matins.
Tous les jours, il allait travailler avec Toto, pour se venger des temps passés dans la rue, oublié. Il mordait quelques jambes, pissait quelque poteaux, histoire de laisser sa marque.
Il dérangeait tout le monde, mais personne n'avait le courage de lui dire combien il était incohérant. Jusqu'au jour qu'il s'est ramassé un pied au cul, que lui a fait partir en boitant, de douleur et de honte.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Desça aí dessa nuvem!

Fico bem quieta na minha nuvem particular.
E dela vejo o mundo meio fora de foco.
Meio sensação de sonho.
O maior barato.
Não consigo enxergar a feiura humana.
A natureza sim, que é grandiosa, enorme, linda!
Mas os seres humanos, pequenos e mesquinhos, não.
Exterior é máscara. Interior é escuro.
Precisamos de uma lanterna e muita coragem...


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Minha querida

Me lembro desde pequena esse seu jeitão,
de fazer tudo dar certo,
mesmo quando, as vezes, era preciso sair na porrada.
Muito decidida, resolveu parar, e parou.
Muito objetiva, sempre teve fé.
Briguenta quando necessário.
Amorosa demais com os filhos e crianças.
Uma profissional de estima.
Um grande coração de mãe.
Filha amada pra vó.
Mulher e amor pro tio.
Mãezona pros meninos.
Irmã da minha mãe.
Tia querida.
Sua presença física já faz falta,
mesmo depois de tanto sofrimento.
Acho que sabemos, ou tentamos nos conformar,
que esse foi o melhor caminho, a sua escolha.
A saudade é imensa.
Quem vai me abrir os olhos aqui por perto?
Quem vai ter razão pra tudo?
Tinha você aqui do lado.
Tenho você no coração sempre.
O que apazigua a dor, é saber que a sua energia boa paira no ar.
Que você encontrou os nossos.
E está em paz.
Obrigada por tudo.
Um beijo!



sábado, 24 de outubro de 2009

Jojo - Jacques Brel

Jojo é o apelido do amigo ciclista (profissional) francês do cantor belga J. Brel. A conselho de um amigo escolhi essa música de homenagem para trabalhar com minhas turmas de francês língua estrangeira. Podem me chamar de louca. No rápido momento que ouvi a chanson achei linda. Ajeitei a letra, pedi pro pessoal da coordenação imprimir e passei pra meus alunos essa semana. São turmas de níveis diferentes. É necessário dizer que cada aluno é um mundo, mas parece que cada turma tem um eu coletivo. Cada qual reagiu de forma diferente.
O nível mais avançado reagiu de forma acolhedora. Estavam mais preocupados em entender as palavras, do que sentir a música. Foram os primeiros. Nem me toquei da grávidade da escolha. A turma intermediária, me acusou de fúnebre. A de nível básico me disse que se fosse o primeiro contato com a língua, teria desistido na hora. Me senti inconsequente. Mesmo assim consegui trabalhar diferentes aspectos da música.
É uma letra insana, de um cara que canta no cimitério a amizade pelo amigo que se foi. É profundo. Mas quem ainda não passou do presente do indicativo e não entende patavinas da língua, fica complicado.
Foi uma experiência interessante. Cobaias? E quem não é cobaia das vicississitudes da vida?
Acho que gostei da letra pois ela está totalmente ligada à minha própria vida. Tenho passado por uma fase difícil da existencia familiar. Uma pessoa muito querida e muito doente. Sabe quando a coisa já fugiu do controle e não sabemos mais o que fazer além de rezar? Pois bem, me perguntaram se eu era daquelas que ri nos funerais. Não sei. A última vez que velei um corpo, tinha uns 10 anos. Hoje com 28 não pisei mais em cimitério ou vi um morto de perto. Pode ser que seja mesmo aquela que tente trazer o riso pra onde só há lugar para o choro. Sou do contra. E afinal, quando não há nada mais que se possa fazer: é rir ou chorar. E se for pra guardar as aparências, a do bufão é aquela que me agrada mais.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

La vie

A velhice tem sido um assunto bem presente na minha vida. Chegando na casa dos trinta, percebo certas mudanças, nem sempre boas, mas que me asseguram que uma boa formação pessoal e maturidade são necessárias. Pelo menos se quiser encarar com equilíbrio o vai-e-vem da vida.
Vivo com a senhora minha vó, pessoinha muito enérgica. Com seus 86, quase 87 anos, cheia de vida, ela sempre ajuda quem precisa. Todos os dias, religiosamente, prepara uma refeição de fazer inveja aos grandes chefes. Comidinha caseira, das melhores que já comi, típica do interior de São Paulo. Lê a Veja, critica a política, acompanha os noticiarios da manhã e da noite, em diferentes canais. Assiste a TV Senado! Acreditem. É uma antenada! Cheia de vida. Se cuida, toma os remedinhos, às vezes toma um vinhozinho, usa cremes e pó de arroz. Uma graça.
Eu não assisto jornal, não tenho tempo nem paciência. Pois ela vem todos os dias, em diferentes horários, com os Flash-infos, que eu costumo chamar de "Vovó News". Ela me mantém informada das coisas do mundo.
Um grande amigo me perguntou semana passada o que eu achava da velhice. Bem, no geral acho que a velhice é viver pela segunda vez a vida de antes. Lógico que os idosos continuam vivendo plenamente, uns vão aos bailes, outros jogam cartas, ainda tem aqueles que fazem ginástica, yoga, pintura, entre outras atividades. Mas a parte da memória que toca as lembranças é muito presente nessa fase da vida. Minha vó se lembra de coisas da infância dela! Da mãe, dos aprontos, dos bailes, de como era diferente de hoje, de como era melhor, de como foi feliz e triste em certas fases. E muito importante: não se arrepende de nada. Pelo contrário, se orgulha daquilo que fez ou deixou de fazer.
Sigo assim a minha rota, mesmo que ele pareça bizarro para uns, maluco para outros; dou um passo depois do outro seguindo meu instinto criador, fazendo aquilo que me dá prazer, ou que parece o mais acertado para mim, e não para os outros. Porque eu quero chegar no fim da estrada orgulhosa daquilo que pude construir, realizar. Ficar orgulhosa dos paus da barraca que chutei com gosto. Das contrariedades superardas. Acho que a vida tem que ser vista com simplicidade. Pra que complicar? Complicamos assim mesmo.
Quando Shakespeare disse: "O mundo todo é um palco / Homens e mulheres simples atores / Que nele entram e saem / Cada um a seu tempo". Quem é que vai querer ficar na platéia? A platéia talvez nem exista. Aí aquela sensação do trem passando e eu ficando do lado de fora... não quero nunca mais. Acho que todas as experiências são válidas, quando influenciadas pelo coração. Sem prejudicar o outro, claro.

"Mas você marcha José,
José, para onde?" Drummond

E aí, qual a próxima encruzilhada? Qual lado escolher? E pra onde leva? Não sei. Ninguém sabe. E da boca do povo ouvimos: "Só Deus sabe!". Então, bora!


sábado, 26 de setembro de 2009

Do lado de cá da mesa

Sofia não gosta(va) nada da idéia de dar aula. A imagem dela ser a tirana daquele quadrado assusta. Claustrofobia. O que a preocupa mais são os alunos. Os rebeldes e os preguiçosos. Talvez por ela ter sido um deles. Nas salas da faculdade entendeu que a coisa poderia ser tranquila, mais relaxada. Depois que saiu do ensino médio se sente mais livre. O que vou fazer da vida? Tantas opções se apresentam. Precisava experimentar algumas possibilidades.
Dar aula, nunca passou pela sua cabeça. Sempre se achou pouco para transferir algum saber. Qualquer um. Fez bicos às pencas. Mas nunca foi aquilo que ela realmente quisesse. Não tinha rolado o tal do plim! Ao passo de pouco tempo enjoava de tudo. Ainda enjoa. A rotina lhe mata.
Descobre-se agora professora. Ai que medo. Será que é isso? Ser professor nunca lhe pareceu tarefa fácil. Incentivar a turma, passar conhecimento, responder perguntas. Tarefas assaz complicadas. Cada qual demanda estudo profundo. Um constante aprender. Não tem dia que não se pense nelas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Assédio Sexual - Parte 1


- Nas duas primeiras semanas de trabalho, que começou no dia 5 de agosto de 2008, aprendi a conviver com o meu chefe, elogiando minha roupa, meu cabelo. Até que um dia me perguntou a cor da minha calcinha. Eu disse que estava passando dos limites.

- Foi para Mossoró fazer uma campanha política. Pelo telefone fazia insinuações, sempre insistindo na cor da minha calcinha. Eu pedia pra ele parar, queria tratar dos assuntos profissionais, mas ele sempre insistia e dizia que no fundo sabia que eu gostava, “um pouquinho não é”. Não!

- Depois vieram as conversas no msn (as duas últimas estão no processo). A primeira resulta de uma visita que ele fez a Natal e a esposa, durante a campanha, que durou um dia. Passou pela empresa, e gostou da minha blusa. Nesta altura eu estava irritada com a situação, não falava mais com ele, só o essencial do trabalho. Ele percebeu, mas não se conteve e me mandou um sms, dizendo “ADOREI sua blusa hoje... hehehe... Bjus, se cuida!”. Deixei pra lá. No outro dia entrou no msn e falou de novo da blusa, insistente. Ela não tem nada de mais além de ser discreta e elegante. Depois, na última conversa pelo msn, não agüentei e briguei com ele. Logo em seguida me ligou dizendo que eu tinha que entender o jeito dele, que ele era assim, mas que tomaria mais cuidado comigo para não me ofender.

- depois disso não tivemos mais problemas, até ele voltar de Mossoró e voltar a trabalhar na empresa como editor. Foi no dia 5 de outubro.

- Logo de cara fez questão de me deixar desconfortável com sua presença. Me barrava a passagem quando eu queria sair da minha sala, ficava na porta olhando pra minha cara, com olhar insinuante. As vezes, eu ia na sala de edição mostrar algum orçamento mais complicado de fazer, pra pedir auxilio, e ele me dizia que o que eu estava merecendo eram umas boas palmadas. Isso ele já dizia ao telefone, quando estava em Mossoró. Outra vez que fui tirar duvida sobre um roteiro, e qual seria o áudio que pegaríamos, ele me disse tudo e quando já estava no corredor pra voltar pra minha sala, ele fez “Psiu”, eu já olhei meio sem vontade. Ele fez uma cara de tarado e dobrou o braço com o punho em riste como quem diz: “to de pau duro”. Saí enojada.

- Até que umas duas semanas antes de eu sair, a situação piorou drasticamente. Ele começou a passar o dia todo na empresa, e quando se cansava de trabalhar, vinha na minha sala, sentava na mesa em frente e ficava falando da vida intima dele a da esposa, do tempo que eles não transavam, do sexo oral que havia rolado entre eles e mais nada por causa do enjôo da mulher que estava pra dar a luz, que ele estava necessitado, precisava gozar, “não há nada melhor do que gozar, do que o sexo!”. E disse que era a favor do sexo pelo sexo, que naquele momento precisava de uma amiga que transasse com ele sem se apaixonar, só pelo prazer da transa, porque garantiu que ele era muito bom de cama, que sua maior preocupação era o prazer da mulher. Não agüentaria olhar pro rosto da mulher insatisfeita na cama.

- Neste mesmo período, veio por trás, pegou meu cabelo num maço, e puxou como quem está cavalgando um fogoso “cavalo”. Você gosta disso? Perguntou com aquele sorriso insinuante. Gritei e mandei ele soltar, não me encosta! Ele disse pra eu ficar quieta!

- Pela primeira vez cheirou meu cangote, sai daqui! eu disse, e ele respondeu que não estava fazendo nada de mais, que eu estava exagerando. E ainda me perguntou qual a marca do perfume pra disfarçar.

- Na quinta-feira, 6 de novembro, foi a última vez que ele me encostou. Era de tardinha, eu estava de pé, falando no telefone do fax, perto da parede, virada para a janela, negociando um orçamento com a TP Publicidade, tentando entender melhor como era o VT que eles queriam fazer. Ele chegou sorrateiro, de um jeito que eu não percebi, até que me encostou por trás e deu uma longa fungada no meu cangote. Ele estava tão perto e inebriado, que consegui acertar uma cotovelada nele e disse pra ele sair de perto de mim e me deixar trabalhar. Ele saiu rindo. Ainda fiquei até o final do expediente, para receber o salário do mês, que já estava atrasado. Mas eles não pagaram ninguém!

- Na sexta eu não fui trabalhar, não queria mais trabalhar, estava com nojo. Só queria receber e nunca mais ouvir falar nele, nem na empresa.

- Segunda-feira fui buscar o dinheiro. Ele não estava na empresa, também não atendeu o telefone pra me dar alguma explicação. O celular estava desligado, assim como o da esposa e o telefone da residência chamou e ninguém atendeu. Liguei pro pseudo-sócio, que disse que isso era com o chefe e não com ele, mas que poderia tirar da conta dele e me dar na hora do almoço. Infelizmente não peguei esse dinheiro. Peguei minha bolsa e fui embora. Umas 11h o chefe me ligou como quem não quer nada. Falei muito do que pensava sobre o funcionamento da empresa e das atitudes dele e do “sócio”. Estava muito nervosa, mas no final da conversa estávamos numa boa. Até me convenceu de trabalhar no outro dia pra deixar as coisas em ordem para a próxima pessoa que fosse ficar no meu lugar. Eu aceitei com a condição que ele deixasse meu dinheiro na gaveta do escritório, era a minha garantia.

- Cheguei na terça as 8h no escritório pra fazer tudo logo e poder dar um fim naquela história. Só que ele não deixou o dinheiro, meu salário, aí foi o fim. Além de agüentar as investidas sexuais dele, ainda era enganada. Liguei pra ele na hora, perguntei pelo meu pagamento e ele me xingou, disse que não era criança e me mandou sair da empresa e esperar ele na rua, que ele já estava chegando. O Paulo chegou em 15 minutos. Contei a real, disse porque estava saindo pra ele, por causa do assédio sexual do colega empresário. Ele me disse que não era nem a primeira nem a ultima vez que ele fazia isso, que era compulsivo... E eu com isso? Logo ele foi embora.

- depois de 2 horas de espera na rua, no sol, o outro editor me chamou, disse que era pra eu subir e assinar um recibo e ir buscar o dinheiro na Praça das Flores. Eu já estava aos prantos, muito nervosa, liguei e disse que não ia. Em 5 minutos ele chegou ameaçador, gritando e xingando, jogou os 500 reais na mesa como se estivesse me fazendo um favor. Aí eu disse a razão da minha partida na cara dele, na frente do outro, aos berros pra vizinhança toda ouvir. Quando eu disse que estava saindo por causa do assédio dele, ele me perguntou se eu não agüentava pressão. Desde quando assédio sexual é algum tipo de pressão admissível?

- Assinei o recibo e parti.

domingo, 20 de setembro de 2009

Só porque eu gosto

José
Carlos Drummond de Andrade

"E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio – e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde?"

sábado, 19 de setembro de 2009

Capital do país


Gostei de Brasília. Mas não pra morar.
Lugar que você depende de um carro pra tudo. Tudo mesmo. E aquela idéia de setores? Achei o Ó. Não tive acesso aos bairros limitrofes (dizem que é mais normal), por estar sem carro. O dia que cheguei mais perto disso, foi numa noite de teatro, no Sesc Garagem. Pegamos carona com o taxi do Godo até a W3 e lá pegamos um busão. Entramos um pouco mais na cidade em si. Porque aquela avenida da Esplanada é só visão e imensidão. Tudo parece perto, mas é tão longe. Gastei sola de sapato debaixo de chuva e de sol. Descobrimos um ônibus gratuito no primeiro dia. Foi a glória. Meio longe do Mané, mas válido. Passava na frente de tudo o que era Nacional. E também por dentro da UnB. O motorista já familiarizado com a gente, nem reclamou quando comi um abacaxi no palito dentro do carro. O bom de lá são as frutas vendidas na frente dos Ministérios, aos pedaços. Não passei fome, comi muita bagana. E salada de frutas.
No primeiro dia corremos pelos Monumentos Nacionais: teatro, catedral, congresso, biblioteca. Chovendo. Que sorte a nossa. Dizem que o ar é muito seco e eu não senti isso. Graças! Segundo dia, foi sete de setembro. O povo todo na rua, aviões no céu e Lula no telão. Dia de festa. Chegamos no Congresso andando. A volta foi sofrida. No primeiro dia perdemos um puta espetáculo do grupo Armazém. No segundo compramos os igresso para os próximos dias. Olha só a nossa sorte: semana de Cena Contemporânea Internacional. Assistimos um espetáculo francês e outro de BH. No terceiro dia tentei ir no Congresso de professores de francês. Mas escolhi mal e saí de lá emputecida. Pegamos o bus grátis e fomos conhecer a universidade federal. Linda! Encontramos um garoto que nos apresentou os lugares mais interessantes. No quarto dia escolhi melhor. Fui à uma palestra do Marcos Bagno, fiz uma oficina de animação em sala de aula e de tarde foi o must: um palestra de escritores! Me esbaldei. Fiz uma pergunta fatal. Conheci o professor tal e voltei satisfeita com o Congresso. Mais nada superaria essa tarde. Foi perfeita. Acreditem. No último dia, saí com um pessoal de lá, pra ver a night da galera. Convenci todo mundo a não pirar, ficar num bar trocando idéia era o melhor que se tinha pra fazer. Mais um ponto positivo. Conhecer gente é bom.
A epopéia da volta foi estressante. Pegamos dois ônibus pra chegar no aéroporto. Um sufoco, com aquela mala desconfortável para aventuras deste tipo. Mas deu certo. Sempre dá.
A impressão que ficou? É Brasília lá e eu cá. Quando voltar vou direto pra Chapada. Achei tudo muito na cara. A pobreza encarada como natural, as drogas dominando a cabeça dos jovens, os políticos nadando em dinheiro. Monumentos históricos imponentes, gente suja dormindo nas calçadas. Muita pedra. Gostei da vegetação. Vi uma cotia. Nos olhamos quando o tempo parou numa beira de estrada. Foi mágico. Valeu pelo congresso, valeu pelos amigos encontrados, pela aventura e novidade, por não ter visto um só bicho abandonado (só gente... Infelizmente). Pelas risadas. Pelos sufocos. Pelo espírito de equipe. Pelo teatro ("pra curar a seca de Natal", segundo Elias). Viajar, sempre é válido. Foi bom também ter tirado a idéia maluca de querer morar lá. Só fico pensando em Nostradamus... Por que ele foi apontar bem aquele lugar na sua profecia? Que saco. Próxima parada: os Andes. Tem que ser um lugar alto gente!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Descontrole saudável


Aceitar a vida como ela é. Parece uma fórmula confortável. Mas quem é que aceita? Tem alguém aí que consegue ir levando numa boa? Me arranco os cabelos só de pensar que daqui dois dias, dois!!!, vou ter uma aula de 3h para dar. Suspiro angústiado. O que vou fazer? Como será que os alunos serão. Será que vão gostar de mim? Ou isso não importa. Terão que me suportar! Imagina se eu consigo pensar assim... O sorriso é garantido. As vezes amarelo, mas é.

A Lú me disse: "amiga, você sempre fica assim quando as coisas fogem do seu controle". Parei pra pensar e talvez seja bem verdade.

Ansiosa comecei a fuçar na internet e de vez em quando encontro a luz no final do túnel no blog da Nina Veiga (http://ninaveigacronicas.blogspot.com/). É engraçado. Hoje tinha lá o título: Qual é o número do futuro? E era exatamente o que eu estou sentindo: a ambição de controle. Ela também quer ter controle sobre tudo. Confessa que se pudesse, mudaria os nomes dos meses ao seu gosto. Logo em seguida, ela diz uma grande verdade : "O controle, na maioria das vezes, esconde um grande medo de viver". E conclui dizendo que "às vezes é mais saudável deixar a vida me levar de forma suave e superficial".

Vou me esforçar para por isso em prática! Dar aula, quero acreditar, vai ser uma ótima experiência para atenuar essa minha mania. Aprenderei a estar sempre preparada para o inesperado. Pois a vida é assim, uma sequência de inesperados. A única certeza? Que vamos morrer um dia.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Tributo à Raulzito

Sob a ótica de uma careta momentânea.

Sábado passado foi seu tributo, Raul Seixas. Comemoração dos 20 anos da sua morte. Ficou estranho. Mas é isso mesmo. Faz 2o anos que você se foi desse mundo para outro, cantando a famosa fórmula: "eu nasci ha 10 mil atrás! E nao tem nada nesse mundo que eu não saiba demais". É Raul, eu tenho ainda muito que aprender desse mundo. Mas posso dizer que apesar da sua ausência já um pouco espaçada, você ainda consegue ser a mosca que atrapalha o sono, o poeta que mexe com as idéias, essa metamorfose ambulante presente pra caramba nas mentes de seus fãs e simpatisantes. O que tinha de sósia seu lá no tributo... um circo pegando fogo.

Pois bem, o tributo começa como uma viagem para o interior. De trem! Acredite, com 50 centavos você viaja 2h até chegar em Ceará-Mirim. Na ida, a viagem foi tranquila. Os grupos foram chegando aos poucos, quietos e desconfiados. Muitas tribos, que normalmente não se misturam, no mesmo trem, indo para o mesmo lugar, pra curtir o mesmo som. É raro acontecer um negócio desses. Uma vez por ano acontece por causa do Raulzito. É uma tradição regional. As pessoas comuns, ou seja, que pegam o trem todos os dias, deviam se perguntar que gente era essa esquisita em seu trem.

Chegamos na cidadezinha de interior, com suas casinhas coloridas, uma igreja com duas torres e um povo derramando olhares de curiosade e de espanto sobre nós. O que será que eles acham dessa festa da cidade? Só me veio agora a idéia de perguntar pra alguém. Estava do lado de cá da observação.

Como tradição acarreta rituais, o tributo à Raul não é diferente. Ao descer de trem, a massa volumosa de criaturas estranhas se dirige à uma praça arborizada, e ali faz a primeira saudação esfumaçada a Raul. Um charutão gira na roda.

- Cuidado com isso! O delegado da cidade é casca-grossa.

Disse o autor do charuto, minutos antes, em frente a estação de trem. Quando olhei pra roupa dele, descobri uma regata branca, salpicada de folhas de cannabis. Só podia estar tirando onda antes. O cabelo era emaranhado, mas jeitoso, uma barba comprida que lhe ia até o pescoço. Moreno. Primeira figura interessante que vi no dia. É conhecido por THC. Não vou dizer porque. A praça que estava cheia de gente, foi se esvaziando pouco a pouco. Pra onde vai todo mundo? Pro mercado de Ceará-Mirim. O que tem lá? Comida. Segunda parada.

Vou dizer que o passeio, pois para mim foi um passeio, começa ao meio dia, quando você sai de casa em direção à Ribeira, pra pegar o trem. Num sábado, quem é que vai almoçar ao meio dia com um rolé desses pela frente. É ali que as pessoas do tributo comem todos os anos. Faz parte do ritual também. Esse mercado é um galpão com pequenos estandes de comida espalhados dentro dele; cheio de gente sentada em volta de pequenas mesas. O que tem pra comer? Buchada, rabada e nada de empada. Tem mais homem do que mulher. Os homens olham para as mulheres comendo com os olhos. É uma sensação diferente das cidades mais populosas, sentir uma olhada dessas não tem preço. As pessoas ali são mais bicho. São instintivas acho. Estão em maior contato com a natureza, com a terra. Acho que o mercado é o lugar onde os moradores da cidade se encontram para conversar, comer e beber. Fazem isso todos os sábados? Não sei. Foi interessante a visita. Dividi 1 prato com as meninas. 4 pra 1. Foi a conta.

Antes disso compramos o ingresso do show de tributo à Raul. 10 reias. Ao sair do mercado descemos a rua da cidade que leva à um rio. Melhor dizer um córrego. Atravessamos uma pontezinha e descemos ao lado dele. Mais saudações à Raul. O passeio chegava no seu segundo quarto. A parte de curtir a cidade tinha acabado. Subimos de volta a ladeira e entramos no show. Estava lotado! Vi todo tipo de figuras. Muitos com camisas, chapéus, óculos e outros símbolos que os fazem pensar em Raul. É uma homenagem. Mais uma.

Do lado esquerdo do salão de festa, tem um quintal. Bem ventilado. Passei grande parte da noite nele. A sala de dança estava cheia de fãs alterados. Tocaram os hits. Não ouvi tocarem ouro tolo. A energia estava meio pesada. Mas ver ali, gente de todo tipo reunida pra homenagear um grande artista é bonito. Uns receberam Raul num gole de cerveja, outros usaram óculos escuros, teve aqueles que de bike foram e voltaram até a luz das estrelas. E teve os que ficaram de cara.

Vi um sósia de Raul estendido na rampa que dava no salão, parecia morto. Passei do lado dele preocupada e pude verificar que não, ele estava bem vivo, vomitando a comida do mercado. Mesmo assim me pareceu quase morto, triste de se ver. Depois de algum tempo ali estendido no chão com as pessoas pisando perto da sua cabeça, ele levantou, deu uma volta em si mesmo e caiu de novo, um pouco mais longe, no começo da rampa. Um cara leventou ele, alma boa, e apoiou contra o muro. Mas ele despencou que nem mamão maduro. Os seguranças devem ter levado ele pra uma enfermaria. Porque depois de algumas horas eu o vi de novo no salão curtindo Alcapone. Já estava com a cara melhor. E não estava mais bebendo, menos mal.

Vi muita gente que optou pelo ácido. Riam e se moviam como borboletas felizes. Os da bira, como dizem os meninos de Brasíla, encheram a cara com o que tinha. Terminou sendo, uma boa idéia.

Passaram-se horas e a gente naquele ritmo desenfreado, esperando o trem das onze. Único meio de transporte para voltar para a capital naquelas condições. Os bêbados já tinham desistido de beber, ou o dinheiro tinha acabado; os doidos adocicados ainda pinoteavam no salão; os caretas? Já estavam esgotados. Aí o cara falou no microfone: 22h30, quem quiser ir embora deve ir agora para a estação. Foi uma mudança silenciosa de atitudes, da dança as pessoas assumiram o passo e se dirigiram feito larva em direção ao famoso trem das onze.

Chegando lá na frente, muita gente estava perdida. Irmãs chorosas. Pulamos a cerca. Me senti criança fazendo travessura. Pula gata, pula! Escalei uma daquelas portas giratórias de rodoviária, passei por um vão em cima dela e caí do outro lado. Foi emocionante.

Os perdidos não apareciam. Loucos em pânico dentro dos vagões. As portas ainda estavam abertas, o trem iluminado apenas pelos postes da rua. Essa viagem vai ser longa. Os desaparecidos apareceram. O trem partiu. Estava abarrotado de gente embriagada, louca de pó, ácido e maconha. Fumantes anciosos. Cigarro. Cerveja. Uma putaria. Risadas estrombólicas e gritos de terror. Parecia um trem fantasma, apitando sua passagem no meio do interior. Isso só acontece uma vez por ano. É o dia de pirar a cabeça, me disse um indivíduo, cada um à sua maneira. Vamos ficar loucos em Raul!

Chegamos na Ribeira. Só queria ir pra casa. Via costeira, 56. Boa noite e até ano que vem. Quem sabe?


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Análise poética e Marcelo Mirage

Ninguém deveria analisar ninguém. O Marcelo veio me falar de análise poética, o quanto isso é absurdo. Cada um tem para si a poesia que entende. Ele afirma que o mais importante é a emoção que aquelas palavras despertam na gente. É o que fica. A pureza da coisa. Então como é que vem um professor detonar com nossa fantasia? Isso é terrível. Enquadrar uma coisa que é infinita. É como se um adulto dissesse para uma criança que sonhos não existem. Um homicídio interior. Não existe jeito certo de ver o mundo hoje em dia. Não existem mais bandeiras para defender. Marcelo diz que nos tornamos sarcásticos diante da vida cotidiana. Antigamente demandavam seriedade, hoje olhamos irônicos.
O que dividiu o pensamento humano foi especialmente a Segunda Guerra Mundial e seu genocídio. O Holocausto como muitos costumam chamar. Fomos mesmo capazes de tais atrocidades? O homem se viu mal. Injustiça é pouco para significar o que o povo judeu já sofreu em sua existência na Terra. Mais uma vez o Marcelo disse: os grandes homens da modernidade eram judeus. Marx, Einstein, Freud, entre outros que ele citou e eu não lembro os nomes agora. Os grandes eram judeus. Os que trouxeram algo importante para a humanidade eram judeus. Por quê? Porque eles se preocupam com a educação. Eles dão muito valor aos estudos. Lêem muito, pesquisam, questionam, justificam e buscam sempre.
Depois da guerra perdemos a seriedade. Que choque. Um homem só, convenceu uma população inteira (praticamente) de que aquele povo ali, que sabe fazer dinheiro, é inferior aos arianos, de cabelos louros e olhos azuis (questão de pele de novo?!). Olha que Hitler nem era alemão e nem era louro dos zói azul. Não. E através da propaganda convenceu uma nação. Para mim ainda é difícil entender como.
Mas enfim, o papo era a análise poética. O Marcelo não suporta quando dizem um jeito certo de analisar poesia. Aquele jeito quadrado: herói, anti-herói, estrofes, versos e bláblá. Mas agora ele vê também que não basta apenas ter um conhecimento mais elevado, tipo conhecer o contexto histórico, a história do poeta, suas manias e jeitos. Isso dá uma visão de entre-linhas, claro. Mas também não é o único jeito. Ele diz que hoje em dia importa muito mais as lágrimas que um poema tira de sua mulher, do que o significado que o próprio autor tentou passar. Talvez seja esse mesmo o objetivo da poesia: sussitar emoções, independente do entendimento. Pois, podem ser tantos. Eu gosto desta maneira legère de se poder ver os versos. Prefiro muito mais uma dança livre ao ritmo das palavras, do que uma marchinha militar. Pas vrai?

Lelé e Dacuca ou O passeio das meninas

Acordei engasgada com o muco. Minha garganta doía demais. Sabe aquela esperança de dias melhores? A gente só sente isso quando tá no aperto. Fui dormir ontem, depois de tomar o infalível Benegripe, achando que ia acordar zero hoje. Acordei. Abri os olhos e vi o teto. Tentei não me mexer, será que não vou sentir nada mais de dor? Concentrei-me em meu corpo e dei a primeira engolida dolorosa do dia. Ai, ai. Levantei com tudo, irritada, e mais uma pontada, agora na nuca. Ai minha cabeça. O chão balançando. Ai, ai, ai. Pior hoje que o nariz estava entupido. Coloquei rinossoro e tomei um banho quente. Fiz chá de erva doce e fui chamar a vó. Estava decidida a ir para o pronto-socorro logo cedo. Três dias daquele jeito não dava mais pra aguentar.

-Quer ir comigo no hospital vó?

Encolhida na cama, disse que sim com a cabeça. As duas muito mal. Às 7h já estávamos a caminho do centro da cidade pra buscar a segunda via da meu cartão do seguro de saúde, que foi roubada. Foi uma hora de enrolação, e eu mal. A vó no carro esperando. Não conseguiram imprimir o cartão, mas garantiram que no pronto-socorro estariam me esperando. Ótimo!
Chegando lá, aquela história de sempre: muita gente. Esperamos.

-Vó pra qual você quer ir: clínico, cardiologista ou ortopedista?
- Primeiro no ortopedista por causa do meu braço. Dói muito.
- Tá certo. Eu vou no geral mesmo. Então vamos separadas viu?
- Tudo bem.

Fui a primeira a entrar. O médico me avaliou como estado de infecção forte na garganta e no nariz. Congestão total. Posso imaginar o desconforto. Não me diga. Vou mandar você pra enfermaria, fazer uma coleta de sangue, um raio X. Raio X? Tá na chuva é pra se molhar. Se tá com medo pra que veio? Fui pra enfermaria.

- Mas vocês vão colocar tudo isso de soro? E que remédio vocês colocaram aí? Pra dor? Hum. Acho que um tubo só é suficiente.

Primeiro ela errou a veia na parte debaixo do braço. Pedi pra ela pegar na mão. Dói. Tirou o sangue e injetou o soro. Olhei pra porta e lá ia a vó numa cadeira de rodas, empurrada por um funcionário, em direção aos raios X. No céu. Depois do resultado, tomou uma injeção de antiinflamatório para o braço.

O soro com o remédio para tirar a dor, não melhorou os picos de calor e de frio, nem os estados de sonolência. Estava ficando com fome também. Encontrei a vó na recepção. Ela esperando agora para ir no clínico geral e eu retornando no meu para saber do laudo. Sinusite. É mesmo? Sim, sim. Antibiótico e corticóide. Ah, corticóide eu não vou tomar. Por que não? Porque não gosto. Tem que tomar, ajuda a diminuir a secreção aqui. Apontou para a região abaixo dos meus olhos.

A vó foi fazer outra radiografia. Não acredito! Estava derretendo naquela sala de espera. Muito barulho, muita gente, um calor, um programinha ridículo na Record, e nem o livro que eu tô lendo me animava. Uns 45 minutos depois ela voltou na cadeirinha de roda. Eu já vinha pensando alguns minutos antes que eu devia ter paciência, compreensão e tolerância. Foi uma eternidade. Quando vi ela chegando com a enfermeira falei:

- Não me inventa mais nada. Preciso ir embora daqui. Como é que foi o raio X?

Paciência, compreensão e tolerância.

- Pega minha carteirinha.

O passeio acabou.

Depois de passar pelo ortopedista, colocaram nela uma faixa para manter o braço dolorido imobilizado. Nossa vó, quanto tempo você vai ter que ficar com isso? Não sei, respondeu séria. Assim que saímos do hospital ela disse que incomodava demais. De lá, fomos almoçar fora pra ninguem ter que lavar a louça. Não é fazer comida que enche, é a louça que pesa.

E a faixinha atrapalhando os movimentos livres de dona Lourdes. No elevador ela disse:

- Não vou aguentar isso. Não tem jeito, gosto de mexer o braço assim. Fazendo círculos.

Entrou em casa e foi arrancando a faixa. Me ajuda aqui!

domingo, 16 de agosto de 2009

Sofia e a incerteza do amanhã (como todos os mortais)

Numa manhã de domingo, Sofia se contenta em acordar às 5h da manhã para dar comida pros gatos. Não que ela não tenha ficado puta da vida com o gato preto miando na porta e pulando repetidamente no quarto ao lado para abrir. Só que a habitante deste quarto é mais esperta, trancou a porta à chave, para ele não realizar seu ato por inteiro: abrir a porta num pulo, invadir o quarto seguido de outros gatos gulosos, subir na cama e olhar pra cara do indivíduo como quem diz: "Ei, vamo acordar!?".
A porta está trancada, mas ele é persistente, vai ver por ser brasileiro, não desiste nunca. Pulou, pulou e pulou, fazendo o maior estardalhaço. Até que Sofia levantou, meio cambaleante, ainda sob os efeitos da noite de sexta. Que loucura! Pensou. Foram tantas emoções. Sempre com Rebecca as coisas andam depressa. Aventura certa. Foram bater em Pipa, pra ver o sol nascer. Da praia do amor, com dois enamorados. Pareceu romântico. São românticas nas horas vagas, e daí?
Sofia se lembra do italiano. Mentira! Só lembrou dele quando chegou em casa. Não consegue esquecer o cara. Impressionante. Sai pra lá aventureiro! Que encosto. Nada. Tudo que faz, lembra ele. Como é que foi que o cara se fez tão presente? Foram poucos dias de convivência e a presença dele não saiu ainda da casa. Tomou um vinho chileno, lembrou dele. Falou de educação, ele de novo. Isso pra citar apenas dois exemplos. Entrou na carne, feito punhal. Se tirar o sangue jorra. Já faz parte dela.
Não tem gente que vemos num dia e já são importantíssimas para nossas vidas? Esse cara chegou pra ficar na vida de Sofia. Um aventureiro interessante, seguro de si, quase um brasileiro.
Sofia toma amarula e lembra dele. Há quanto tempo não se apaixonara? Desde os tempos do onça. Quando ainda acreditava no romantismo. É uma romantica mesmo. Achou que tinha se curado da doença. Há mais de 5 anos que nada se passava naquele coração. Faltou encontrar alguém que mexesse com suas emoções. Apareceu o tal, e já foi embora. Uma pena. Pelo menos ela pensa, pensa muito. O que foi que aconteceu? Será que volta e bate na minha porta? Ou será que foi daqueles encontros fugazes que a vida faz acontecer?
Ela não sabe. Aguarda notícias de Outre Mer.
Enquanto isso, ela se diverte, afim de curar essa dúvida que trás dentro de si.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Da euforia julhiana à melancolia de agosto


Foi um mês agitado, o de julho, com visita, amiga de infância, férias das obrigações naturais, viagem, praias, curtição noturna. Conhecemos muita gente. Amizades novas. Foi numa dessas conhecenças que me apaixonei. Pipa não é lugar pra conhecer ninguém! Afirmou meu primo. Ali só dá malucos e pilantras. Dei ouvido? Não, claro. Shame on me!
A amiga se foi, de volta ao velho mundo, de volta às suas obrigações. A paixão ficou. Mais alguns dias e também voltaria ao velho mundo. Como lidar com isso, eu não sabia. Já estava me sentindo aleijada de uma perna sem a amiga com quem dividi 3 semanas de pura emoção. Só curtimos e acrescentamos uma à outra. O amor de férias, ficou estranho. E como é mesmo que se pode apaixonar nas férias? Devia ser proibido. Sabe-se que ele vai embora e nunca mais, talvez, o encontre. Como é que um coração sensível deve lidar com isso? O meu ficou aos galopes esses últimos dias. Nem consegui ir dizer tchau. Não houve um último adeus. Ao contrário, briguei com ele. De quem foi a culpa eu não sei. Sei que a cada relação percebo mais o abismo que existe entre homens e mulheres. Não nos compreendemos. E como pensamos diferente.
A mulher esquece sua liberdade na hora mesmo em que se apaixona. Quer dividir tudo com o outro. Faz projetos, imagina o futuro, será que esse é o tal? O homem, ao contrário, reluta muito antes de se deixar apaixonar. Ele pisa em ovos, faz de tudo para não ter que dividir seus momentos pessoais, gosta de manter isso ao máximo. Demora para se apaixonar, mas quando isso acontece também, não há mais nada que possa salvá-lo do amor. Ama para sempre. A mulher apaixona e desapaixona com facilidade. Veio ao mundo para amar, ser mãe, amante, esposa, tem muito amor pra dar! É inato. Está no seu papel aqui na terra. Então vai pulando de galho em galho até encontrar o principe encantado, na melhor das hipóteses, ou então aquele que saiba aceitá-la do jeito que é.
Voltei ao ponto inicial. Amiga e homem foram embora. Acabou a euforia das férias forçadas. Des vacances chez moi. O que ficou? A descoberta de uma grande amizade que ainda dormia em nossos peitos. A descoberta de coisas em comum, mais do que se poderia imaginar, visto que fomos criadas longe, nos vimos tão pouco, e nos damos tão bem. E um coração magoado, mas compreensivo, esperançoso ainda de alguma notícia daquele ladrão de sorrisos bobos, dos carinhos gostosos, e daquele jeito apaixonadamente livre. Um olhar de bicho selvagem, que espreita a sua presa, e quando a toma é sem dó nem piedade. Me pegou?
Mesmo assim, meio capenga, penso: life must go on!
E hoje é sexta-feira. Vou sair pra aerar as idéias, dançar.
Alguém tá afim?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Arquipélago Fernando de Noronha




Ai, ai, realizei um grande sonho da minha adolescência, tempos de que me lembro escutar meus pais falarem deste paraíso natural. Um mar azul turquesa, com água límpida que dá para ver o fundo. Animais marinhos. Muito verde. Sempre me deslumbrei com as cores do mato e das águas. Quando me mudei para Natal, criei o hábito de pensar constantemente: estou vivendo no ponto mais próximo da ilha e ainda não fui lá! Um sentimento de desejo quase realizado.
Quando a Sarah me veio com idéias de viagens pelo Brasil, pensei logo em ir pra Noronha. Ela veio com a idéia de ir para Belém se enfiar no meio do mato. Ver bichos e índios. Pessoal de fora adora essas coisas, e eu que moro aqui, fazia tempo que não pensava neles. Sempre quis conhecer o Mercado do Ver-o-Peso, aquele cheio de coisas estranhas e diferentes, vindas de um mundo mais palpável que o meu. Gostei da idéia, mas a ilha brilhava na minha cabeça.
Fomos ver os preços. Belém, sem nada só avião e hotel, dava uns 1500 reais para 4 dias. Noronha deu 1200 com avião, hotel e um passeio de barco. Pareceu mais interessate a ilha. E também deu um medinho de ir pra Belém nessa época de muita chuva. Depois que conversamos em Pipa com uns estrangeiros que estão viajando pelo Brasil, chegamos à conclusão de que talvez a ilha de Fernando de Noronha fosse a melhor idéia mesmo, porque todo mundo pega o barco de Belém até Manaus e é aí que se sente a selva. Iamos voltar frustradas de não poder ir mais longe. Além disso, eu fiquei com medo, confesso aqui, das doenças e das histórias que ouvimos sobre lá. Essa vai ser nossa próxima viagem. Daqui 1 ou 2 anos. Daqui pra lá eu vou ganhando a coragem!
Chegamos de Noronha ontem a noite. 4 dias e 3 noites numa pousada muito boa, que a Tania conseguiu pra gente. O nome: Simpatida da Ilha. Na Vila dos Remédios, perto das praias: da Conceição, Central e do Cachorro.
A operadora que recebeu a gente era a Atalaia. A Sarah e eu programamos a nossa tarde. "Chegamos no aeroporto às 13h, até chegar na pausada meia hora estourando e tchau: biquini e praia!!!". Começamos a perceber o movimento da ilha nessa hora. Nos levaram para uma empresa de mergulho e passeios de barco. Passaram um vídeo sobre o arquipélago. Passaram mil e uma opções de passeios e pacotes. A Sarah e eu saímos da sala e esperamos os outros pra pegar o ônibus. 1h já tinha passado. E o pessoal comprando passeio. Temos que esperar todo mundo??? Sim, sim. Esperamos indignadas. Quase pegamos carona. Às 15h30 chegamos enfim na pousada. Mortas de fome, fomos em direção à praia, procurando um restaurante. Achamos um ideal, entre a Praia Central e a Praia da Conceição. Sentamos de frente para o Morro do Pico. Morro este que não se pode mais subir, para minha infelicidade. Para driblar os preços calientes dos pratos, montamos o nosso próprio menu: porção de arroz, de felijão, de farofa, uma salada sortida e bananas fritas (sem o empanado) deliciosas. Total: 38 reais. Depois de encher a pança, corremos pra praia da Conceição. Avistamos uma rede de volei. Oba, esporte! Andamos até onde deu, por causa da maré. Entramos no mar. Que maravilha! Transparente, límpido e fundo. Foi perfeito o sol mergulhando no mar. De noite comemos crepe e fomos dormir. Ainda estávamos cansadas de Pipa.
Cedinho o ônibus da operadora foi buscar a gente e outros turistas nas respectivas pousadas em direção ao porto. Nosso passeio de barco. Fomos de cabo a rabo do Mar de Dentro. Vimos do mar as praias tão famosas: Cacimba do Padre, Boldró, Baía do Sancho, Baía dos Golfinhos. Fizemos apnéia na Baía do Sancho, mas não nos deixaram ir para a beira da praia. Um dia depois eu descobri o porquê. O mar tava meio sujo, deu pra ver uma tartaruga e um polvo, fora os peixes de muitas formas e tamanho. Fom bom o passeio. Mas ainda não estava impressionada com a ilha. Será que é verdade que quando a gente espera muito uma coisa, a gente acaba se decepcionando? Por que superestima? Imagina demais? Fantasia muito?
De tarde, depois de comer num self-service à 32 reais o quilo, descemos na Praia do Cachorro. E lá conhecemos o Little Dog. De nome Jeferson, mas conhecido na cidade como cachorrinho (o pai que é o Cachorrão), foi simpático desde o primeiro minuto. Combinamos com ele de fazer um passeio pela ilha no outro dia, um ilha tour alternativo. Ele conseguiu um buggy por 80 reais. Enchemos o tanque com 40 reais. A gasolina lá custa 3,78 reais.
Começamos pela Praia do Leão, que fica no Mar de Fora. A visão é mais fria. A cor do mar é intensamente azul, pendendo pro Turquesa. Um vento forte do Oceano. Nosso guia apontou as pedras gigantes em frente: Viuvinha e do Leão. O nome vem de uma história de que encontraram um leão marinho morto nessa praia. E a pedra em frente tem o formato de um leão marinho. Vimos a praia de Sueste. Linda também. Desistimos da Atalaia. Queríamos ver o máximo, e lá íamos perder tempo esperando a vez de entrar. O lugar habita recifes e piscinas de um joelho de profundidade. Não se pode tocar em nada, tem que boiar. Fica pra próxima. Visitamos os arredores do porto, o museu do tubarão. De lá tem uma paisagem linda, quando se olha em direção ao Buraco da Raquel. Raquel era a filha do militar que comandava a ilha. Era para esse buraco que ela ia namorar com os soldados. Rebeldia adolescente. Terminamos a manhã passeando pela praia do Boldró, no Mar de Dentro, e nadamos na Praia dos Americanos. Por que americanos? Parece que foram os americanos que começaram a tomar banho pelados ali. A praia é pequenininha, aconchegante e deserta. O banho foi ótimo. Com ondas grandes e fortes quebrando no raso. Um cardume enorme de peixes nadava ao nosso lado. Sardinhas. A água é transparente. Isso me impressionou muito naquelas praias de Noronha. Não me lembro quando foi a última vez que consegui ver meus pés dentro do mar. A praia dos Americanos recebeu seis, e não cinco, estrelas da Sarah. Linda! Amanhã temos que voltar.
Almoço em outro por quilo, um pouco mais barato. A bateria da máquina acabou e fomos atrás de um carregador na Vila dos Remédios. Achamos, demos uma carga pequena e continuamos o passeio até a Cacimba do Padre e a Baía dos Porcos. Mergulhamos na última. O mar estava mais alto. Ondas fortes e algumas pedras. Vimos uma tartaruga, peixes. É louco quando coloco a cabeça dentro da água e olho um mundo novo. Normalmente só vejo o espelho refletindo o mundo daqui de cima, sem me dar conta que em baixo dele existe um mundo impressionante. Eu respeito.
O próximo destino foi o Mirante dos Golfinhos. Para chegar lá tivemos que percorrer uma trilha no mato. Já gostei. Assustamos três lagartões (não lembro o nome, seria Juá?). Vimos uns bichinhos que pareciam meio coelhos, meio esquilos (também não gravei o nome). Na entrada do Mirante uma pedra da minha altura, presa à ela uma placa homenageando o Sarney por ter aprovado o projeto de estudos do golfinho rotador. Quando a paisagem se abriu na nossa frente, ninguém falou. Eu fiquei extasiada com aquilo. Tinha barulho de lugar selvagem, intocado. Pássaros voavam calmamente pelo céu. Nem precisamos ver golfinhos. O horário era perfeito: 4h. O sol já estava baixando, a luminosidade muda nessa hora. Fica mais rosa e suave. Sentamos ali nos bancos de madeira protegidos por duas árvores centenárias. Meditamos. Eu mesma não consegui. Estava tão interessada em observar os movimentos da natureza que não consegui me concentrar. Foi o momento mais lindo da viagem para mim.
Passamos por mais uns três mirantes dando em cima das praias que vimos do barco um dia antes. E descemos pelo meio da pedra uma escada de incêndio, bem apertadinho. Depois se desce escadas talhadas na pedra e pronto: bem-vindo ao Jardim de Eden. Adão e Eva fariam loucuras por ali. A praia mais romântica. Ali me acendeu a vontade de ter alguém em quem pensar. De novo as máscaras e snorkeling. Ai! Entramos pelo lado direito da praia. Tinhámos que passar como por um corredor entre duas pedras: uma comprida pra cima e outra pro lado. A Sarah entrou sorrateira. Enquanto eu ainda criava coragem, ela já estava chegando no final do corredor. Falei pro guia que estava achando que o mar estava subindo. Ele me tranquilisou dizendo que se subisse a gente saía na hora. Quando o mar aumenta, se prepare para uma série de cinco ondas caprichadas. Eu entrei e consegui ir até o final do corredor. Mas era olhando pra baixo e pro lado a cada 30 segundos. Estava desconfiada do mar mudar de uma hora pra outra. Tava na cara. Queria vencer o medo. Dei umas duas braçadas para depois da pedra, olhei pro lado do horizonte e vi a formação da onda. Ai meus Deus! Cadê o Jefferson? Tava do meu lado. Menos mal. Quando a onda chegou em nós ele disse: busca areia! Hein? Lavagem de roupa. Quero sair agora pelo amor de Deus! Ele devia estar achando graça. Fomos mais pro fundo pra poder pegar a onda antes de quebrar. Ela quebra inteirona, com som de trovão. Depois que saí, olhei pro mar e não vi a Sarah. Tinha até esquecido. Lá estava ela, batendo perna tranquilamente com a cara enfiada na água. Só que ela não percebeu que estava no cume da onda. Quando vi, já era tarde para gritar. Levou um rola. Saiu bêbada de dentro da água, sorrindo.
Pegamos o caminho de volta. Já estávamos exaustos, mas queríamos ver o pôr-do-sol de um pico legal. Tentamos e não conseguimos chegar a tempo para ver o sol se por no Mirante do Padre. De noite fomos pro forró do Bar do Cachorro. Foi a primeira noite que saímos.
Último dia. O buggy ainda estava com a gente. Cada uma escolheu o seu lugar favorito e seguimos destino. Primeiro fomos para a praia dos Americanos. Tentamos tomar banho peladas, mas uma raia bastante grande rapidamente nos fez chispar da água. Tomamos sol, meditamos, tiramos fotos. Quando cansou, fomos para o Mirante dos Golfinhos. Tinha duas meninas do Ibama observando o movimento dos golfinhos. Um grupinho apareceu. Nos despedimos. Fomos para a pousada, arrumamos as coisas e fomos comer no restaurante do primeiro dia.
Cansadas, com vontade de ir embora, desgostosas com o tratamento das pessoas da ilha, nos alegramos de termos visto o que deu vontade. E só o que foi possível. Voltarei para ilha pela natureza, pelos lugares que não conheci, para o mergulho também. Mas o pessoal que trabalha na ilha precisa de algum tipo de instrução de como fazer com que as pessoas queiram voltar também por eles. Se a ilha virou ponto turístico, as pessoas precisam aprender a lidar, ajudar e entender o turista. Foi lindo! Valeu a pena. Sonho realizado! Estou pronta para uma nova aventura!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Fria! Eu?


Lendo o romance da Fernanda Young, "Carta Para Alguém Bem Perto" (RJ : Objetivo, 2001), me identifiquei demais com a personagem principal: Ariana. Não que a vida dela seja igual à minha (mas os seus pensamentos...). Ela é casada com um cara podre de rico, dono de uma rede de supermercados - Lisboão - que adora ela do jeito que ela é. Tem uma filha, que tem um cachorro chatinho. A narrativa se desenrola, no geral, em duas épocas diferentes, intercaladas assim, ao longo das 383 páginas. Tem também uns capítulos nos quais ela, Ariana, escreve num diário, ou cartas para um amante platônico que tem o escritório na frente da sua escolinha de balé. Isso mesmo: balé. Na parte em que ela está em São Paulo, ela tenta ocupar o tempo. Porque ela não tem nada pra fazer. Vive sozinha em seu apartamento duplex enorme e perfeito, enquanto seu marido trabalha e sua filha vai para a escola. Em casa, os empregados fazem tudo. Ela fica no ócio de não sabe o que fazer. Suas atividades são: ir ao balé (por querer dar sentido à sua vida) e encontrar-se com o analista (que no final, ela manda para aquele lugar). Não se conforma ter que pagar alguém pra ficar ouvindo suas lamúrias sem resolver nada! Ela não vê a análise como um trabalho à longo prazo. Quer resultados imediatos. Resolve voltar a fumar maconha. O marido acha a idéia estranha, mas não contraria a esposa. Sabe que ela é excêntrica. E adora isso.

A outra parte da história acontece na Europa, onde ela encontra com o amigo gay do marido, Bruno, que tem Aids e está com os dias contados. Resolvem viajar para aproveitar o momento, como uma despedida feliz. Eles alugam um carro e rodam a Côte d'Azur, Italia, Suiça, Alemanha em alguns dias. Ao som de fitas-cassetes de músicas cafonas, ou antigas, o que intensifica o espírito consumista de Ariana. Ela só pensa em ouvir o barulho da maquininha do cartão de credito! Os dois descobrem que se amam. Amor daqueles que se sonha. Enfim.

Teve um trecho no qual Ariana, pensando com seus botões, revela idéias que não são só minhas! (sic). Acredito, agora, que muita gente deve ter essas "crises" de pensamentos. Ou não? Segue um pedacinho do devaneio abaixo:

"Não pode ser. Não posso ser assim. Estar dessa forma, existir. Por quê? Será que todo mundo sente isso? Essa esquisitice enquanto respira? Todo mundo pensa enquanto respira? Pensa em cada bocado de oxigênio que entra e que sai, depois, já estragado, já gás carbônico? Eles sentem assim, da maneira que eu sinto? Gostaria de saber se as pessoas ficam pensando sobre o ar ou se apenas o respiram, de forma simples e vital. Queria saber se é mais agradável ser outra pessoa. Se é bom sentir-se outro. Num corpo mais gordo - será mais macio existir dentro de 90 quilos? O gosto da boca, a sensação de estar vivo, seria diferente? Porque há sabor de vida dentro da cavida bucal. Há microorganismos vivos por todos os cantos da gente. Alguém aí sente isso? Como eu sinto, desde menina, cócegas estranhas, que me inquietam e agoniam, por causa desses seres viventes, que têm funções biológicas que nunca entendi. Quantas bactérias carrego comigo? Por que, afinal, essa complexidade toda? Essa chatice indagativa existencial?
Por que não sou burra? Por que eu não sou uma mesa? Simples como uma mesa. Óbvia como uma mesa. Prática. Aceitável. Necessária."

Bom, Ariana sofre de depressões e euforias descontroladas. É meio louca. E quem não é? Ela não mede palavras e faz o que quer. Mesmo assim, se sente vazia. Até que alguma coisa importante - e trágica - acontece. Sua vida muda o curso. Ela assume uma nova atitude. Assume o papel de uma outra mulher. Em cada mulher, acredito, são tantas personalidades. Temos que escolher qual cai melhor para determinada situação. Tô mentindo? Ela toma as rédeas e assume sua nova vida. Não vou contar o que acontece no final. Odeio quando me contam o final! Quem se interessar, que leia o livro! Eu adorei.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Onde foram parar os xavequeiros???


Na noite quente de Natal encontro todo tipo de gente. Caretas, carecas, cacetes! E tem também os doidos, desvairados, desmiolados. Confesso que atraio mais gente da segunda que da primeira categoria. Até porque me enquadro melhor nesse grupo. Mas já não me sinto tão ligada assim à uma loucura irresponsável de fazer o que dá na telha. Meço melhor meus passos, para não pisar em falso e quebrar o pé. Torcê-lo já é suficiente pra eu acordar, hoje em dia. E como as coisas mudaram desde minha juventude inocente!

Verdade que nunca tive como foco da balada sair catando homens por aí. A primeira coisa que penso quando vou sair é que quero curtir o som e me divertir. Se rolar alguma coisa rolou. Vai saber onde e quando você vai encontrar a tampa da sua panela, né? Mas, estranho muito quando vejo que os papeis se inverteram na noite (e no dia também, as vezes), e que são as mulheres que escolhem e marcam - igual cachorro esguicha postes e arbustos - aqueles caras que já são delas, porque elas escolheram, viram primeiro, e tem vontade da pegar, mesmo que não seja nesta noite, mas numa futura. E as outras tem que dar o fora, fugir dele. Questão de respeito. Pessoalmente, acho isso muito falso e egoísta. Quem é que queremos enganar?

Pois bem, pegar, para aqueles que não sabem, significa, muitas vezes: agarrar, dar uns amassos, levar pra cama (nem sempre) e depois tchau! Acho triste.

Elas andam à sua volta perguntando se você vai pegar, ou não. E no final das contas, quando vêem que o cara tá afim mesmo da outra e não dela, para não dar o braço a torcer, chegam no ouvido e dizem: "Pode pegar! Já pegou? Depois me conta!". Um saco. Me pergunto sempre: o que será que eles acham disso? Será que percebem esse joguinho indecente? Viraram objetos de desejo e possessão. Centros de intrigas e fofocas. Homens! Elas espalham tudo por aí: tamanho, performance e qualidade. Inverteu, não inverteu? E os homens (não todos, eu espero!) estão mais frouxos, fracos ou sem coragem. Esqueceram como fazer. Já faz muito tempo que não levo uma cantada decente... O que eles conseguem fazer pra mostrar que estão afim de você, é colocar a mão na sua cintura, ou então no seu ombro, tentando te proteger de um perigo inexistente. Aí eles esperam um momento no qual você vira pra ele, pra comentar qualquer coisa sobre a festa, e bah!, tentam te lascar um beijo! É muita falta de artifícios. Eu não beijo, viro a cara mesmo! Qual é?

Onde é que foi parar o Homem com H maiúsculo? Um macho de respeito, que sabe tratar a mulher como mulher, e ser homem como o homem deve ser. Nascer homem, ou nascer mulher, na minha opinião, já é muita diferença, é como se fossem criaturas de dois planetas diferentes, e cada um tem seu jeito de ser. Então por que há essa inversão de atitudes? Pode ser que eu esteja andando com a turma errada. Ou que eu esteja equivocada quanto a tudo o que disse acima, que esse seja apenas um caso particular, não sei. Mas já faz tempo que eu não encontro um homem que possa me interessar, que me deixe com as pernas bambas e o coração acelerado. Faz muito tempo!

Tá certo que nós, mulheres, adquirimos independência, somos mais livres, podemos escolher o par que nos convém; trabalhamos, estudamos e assumimos cargos cada vez mais altos. Competimos, votamos, participamos da sociedade ativamente. Mas será que a mulher tinha também que assumir essa postura de macho?

Sempre achei que o homem gostasse de caçar, de ter desafios. Conquistar uma mulher deveria ser como subir uma montanha, árduo e desafiador, mas, quando se consegue atingir o topo, a sensação de prazer, felicidade e satisfação é enorme. Mágico! Lindo! Quem já subiu uma montanha de verdade, sabe do que eu estou falando. A conquista é importante, tem quem diga que é a melhor parte, o jogo do homem e da montanha, cedendo e tirando, até o fim. Muito romântica? Acho que não. Hoje em dia pula-se todas as etapas direto pra cama. E acho incrível depois não entender aquela sensação de vazio... Nada contra o sexo casual. Tô reclamando da falta de criatividade dos homens e mulheres, do espírito nada esportivo, sei lá. As pessoas estão conformadas: já que vamos terminar mesmo na cama, por que não irmos direto pra lá?! Porque não! Muito sem graça.

As mulheres (muitas, mas não todas) se tornaram caçadoras também, os homens estão meio perdidos e não sabem mais como fazer. Estão inseguros. Eu sinto isso. Aí, como eu não tenho nada de caçadora (acho que sou romântica mesmo), sou muito mais espreitadora, segundo o Castañeda, fico aguardando um homem de verdade cruzar meu caminho. Será que ele ainda existe? Ou estão todos sob a mira feroz das mulheres fogosas, de cios eternos? Espero que não.

domingo, 28 de junho de 2009

Domingo

Adoro o domingo! Me estranha as pessoas não gostarem desse dia.Pelo menos eu o vejo como o dia de se sentir livre.Livre para fazer o que bem entender.Se bem que hoje, nem todo brasileiro é tão livre assim.Não há improviso, pois é a final da Copa das Confederações, lá na Africa do Sul.Qualquer sujeito o pouquinho inclinado que seja para o futebol, está a essa hora, por volta das quatro da tarde, sentado na frente de alguma televisão, escutando o rádio, ou na internet, ligado nos passes e chutes da nossa seleção, que joga contra os States. Eles já sabem o que fazer, se programam, este é o domingo deles. O dia gira em torno da expectativa, euforia, sufoco, alegria ou derrota. Todos esses sentimentos estarão presentes no antes, durante e depois dos 90 minutos de jogo.Mas quem não liga pra futebol, escolhe outras coisas.Domingo é o dia da preguiça ou da atitude.Posso ficar vendo filme estirada no sofá incomunicável; posso arrumar o guardaroupa caótico de meses sem ser organizado; e posso também fazer um prato especial à la maison.Mas posso escoher o oposto: sair por aí em busca de aventura.Ou então ficar entre amigos. O legal é que dá pra escolher!

Outra coisa boa é como a cidade se acalma.Conseguimos quase ouvir o ruído do vento.Aquele tormento da semana silencia e dá lugar ao canto perdido de um passáro, um alarme de carro distante, o som espaçado de carros que passam na rua, uma cadeira puxada no andar de cima. E só.Parece que até nós nos acalmamos. Domingo é:Um dia sem obrigações, há menos que se tenha filho pequeno.Um dia sem trabalho, há menos que trabalhe no comércio.Um dia sem estudo, a menos que esteja fazendo prova de concurso.Pode se dizer que domingo é um dia de irresponsabilidade, no bom sentido,um dia livre pra se fazer o que bem quiser.Bancos, prefeitura, universidades, secretarias, consultórios médicos, enfim, tudo que está relacionado à serviços fecha e ajuda a cidade a reduzir a marcha do ir e vir. Mesmo que tenhamos algo para resolver, uma conta em atraso, um processo em andamento, uma dor no joelho, a apresentação de um trabalho, nada disso pode ser feito no domingo! Você se dá ao luxo de não pensar no assunto até segunda-feira pela manhã. É um dia livre de preocupações rotineiras. Assuntos burocraticos são colocados de escanteio até que a semana comece. E pronto.
Domingo é uma delícia! Por isso eu gosto.Vou dar uma volta. Até mais!