sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Rebecca & Sofia by night


Sofia, enrolada na toalha, se olha no espelho e vê as olheiras aparentes. Verifica as horas no relógio da cozinha: “são quase nove, estou exausta”, pensa consigo. Mas até aí sua vontade de sair não mudou, “a noite promete!”. Passa uma base no rosto para disfarçar o cansaço, e não é que funciona? A imagem refletida a anima, “já estou me sentindo melhor...”. Vai pro quarto, abre as quatro portas do guarda-roupa, vê aquele monte de saias, calças, blusinhas e blusões, suspira , “que roupa eu vou vestir hoje?”. O desânimo e a indecisão a dominam. Deita na cama ainda enrolada na toalha, olha pro teto e espera que o modelito fantástico lhe caia na cara. Adormece.
Acorda com o telefone, quanto tempo teria passado? Pula da cama e atende:
- Alô...
- Amigaaaaaaaaa! Tô chegando. Já tá pronta?, é Rebecca que pergunta, alegre e cheia de energia.
- Hum, mais ou menos, sobe aí que ainda vou escolher uma roupa...
Sofia não sabe o quanto dormiu, ainda está zonza de sono, estava sonhando com o que mesmo? Tem que escolher logo uma roupa boa, aquelas que levantam qualquer astral. Sabia que Rebecca chegaria como um furacão, escolheria o primeiro par de jeans e a arrastaria de casa sem lhe dar chance de pentear os cabelos: “Vamos pra farraaaaaa!”, imagina Sofia as palavras mágicas da amiga animada. Sorri.
Em 20 minutos já estavam na rua, em busca de aventuras. Param no posto BR para comprar a primeira cerveja da noite: Antártica Cristal. Já era de praxe quando saíam, abrir a noite com ela, estupidamente gelada.
- Pra onde vamos?, pergunta Sofia no volante.
- Bora pra Ribeira, que é mais jogo!
Cigarrinho na mão, cada uma na sua mais bela pose, ainda sóbrias, desfilam pelas ruas escuras e sujas da Ribeira.
- Parece que não vai rolar nada hoje aqui... Que merda! Lembra daquele sarau em Ponta Negra? Depois dele vai rolar um reggae. Vamos nessa? Que desse mato aqui não sai coelho, como já dizia o falecido! Afirmou Rebecca dando meia-volta, em direção ao carro.
Sofia dá uma última baforada, atira a bituca do cigarro no chão, olha pros lados, não vê ninguém interessante, olha no relógio, são 22h.
- Vamos sim, antes que acabem as declamações. Adoro poesia!!!
Quando chegam na Vila de Ponta Negra, encontram o antigo restaurante, por trás da Igreja. O local onde acontece o sarau é bem decorado, tem três andares e foi Daniel quem as convidou, e como bom anfitrião, mostrou todo o lugar.
Para decepção de Sofia, o sarau já tinha acabado, fazia 1h... o povo só estava lá bebericando uma sangria horrível, de vinho de quinta e jogando conversa fora. As duas descem as escadas e vão pra rua em busca da salvação: Cerveja!
Atrás delas descem Daniel e Gomes, um amigo seu, que já conhecia Rebecca. Dividem uma garrafa de cerveja, sentados na calçada. Poxa, que decadência.
Mas como a noite é uma criança, muitas surpresas ainda aguardam a dupla dinâmica. Conversa vai, conversa vem, os dois rapazes fazem uma proposta, quase indecente. Sabendo que Rebecca e Sofia iam para o reggae, perguntam se elas não querem passar na casa de uns amigos ali perto, antes, pois ainda ia demorar pro show começar. A idéia era fumar um e ir embora.
Os amigos são três homens, com seus 25 anos, bonitos, arrumados e interessantes. Conversam sobre tudo. A casa está cheia de revistas sobre viagens, moda e informações gerais, e uma mandala na parede. Pelo que contam, fazia pouco tempo que moravam no lugar. Cada um apertou um beque, enquanto isso chega uma amiga deles, pra compartilhar do momento. Todos falam muito, as duas, que não conhecem ninguém direito, ficam meio assustadas com a afinidade de todos. Se separam e tentam travar conversa com os outros enquanto os cigarrinhos rolam de mão em mão.
O fumo era forte, o que altera um pouco a percepção de Sofia. Ela começa a conversar com todos, “como é bom ficar numa boa”, pensa. Quem mais conversou com ela foi a moça que chegou depois. Disse entre outras cositas, que era massagista. Sofia exclama, inocente, que está precisando de uma massagem!
De repente, cai um toró. A chuva se intensifica e a casa onde todos estão começa a encher d’água. São vários pontos do telhado com buracos e as goteiras vão aumentando. Até fazer uma piscina na sala. Um móvel de vime não pode molhar, mas a chuva não para e as goteiras só aumentam. Sofia, vendo perplexa a falta de atitude daquele bando de machos, arregaça as mangas, chama um dos caras e carrega a estante de vime para o outro quarto, a salvo das goteiras.
Enquanto isso, Rebecca, protege as revistas e observa a situação com um cigarro na boca. Olha pra Sofia e faz o sinal de retirada. Vamos nessa!
A chuva vai parando, ainda dá tempo de mais um cigarro e tchau. Todos se despedem amavelmente. A moça dá um longo abraço e canta uma música de despedida pra Sofia. Rebecca, já com a mão na boca, pula dentro do carro, evitando a chuva rala que ainda cai. Fecha a porta do passageiro, espera Sofia dar partida e sair da frente da casa, e dá, enfim, uma puta gargalhada!
- Amiga, amiga, você sacou??? Aqueles caras são todos viados e a mina tava afim de você!!! Tá podendo, hein?!
- Puta que pariu! Aqueles caras deixando uma lady carregar a estante, só pode ser suspeito, e a mina, eu percebi só agora no abraço. Você acredita que eu disse que tava precisando de uma massagem???
- Hahahahahahah! Você é muito lesa, amiga! Ei, será que os caras que trouxeram a gente pra cá também são bi? Eles são meio estranhos... Aquele que tá com Daniel é namorado da Perola.
- Sei lá, só sei que eles estão vindo atrás da gente. Bora logo pra esse reggae.
Chegando no reggae, morgação total. Sofia, muito supersticiosa, já viu nisso augúrio de que, aquela noite não era nem pra ela ter colocado os pés fora de casa. Rebecca ainda tinha esperanças e tenta levantar o astral da amiga. Só que quando vê o preço da entrada fica puta, muito caro! Os rapazes, Daniel e Gomes já chegam junto. “E aí, vão entrar?”.
- Acho que não. Tá muito caro e não tem ninguém, disse Rebecca.
- Então, vocês gostam de vinho? Perguntou Daniel, como quem não quer nada.
- Odeio!,respondeu Rebecca automaticamente, meu negócio é cerveja!
- Não, é porque a gente podia ir lá pra minha “cober”, comprar vinho e umas cervas e ficar conversando. O que vocês acham?
- Na sua o quê???, pergunta Sofia.
- Na minha cobertura, é que meus pais estão viajando, aí a gente pode ficar lá, bem a vontade...
Unbelivable! As duas ficaram sem reação e perplexas. Como assim bem a vontade? Na “cober”? Hein? Rebecca se aproxima de Sofia e fala no ouvido: “eu não vou nem a pau, se você quiser ir vai, eu não vou!”, no que Sofia retruca: “Você tá ficando louca? Vamos fugir! Vamos dar um perdido neles!”.
Elas disseram pra eles que queriam movimento, ver gente e não se enfiar num apê.
- Ah, então vamos pra rua do Salsa enquanto aqui não começa, propuseram, insistentes.
- Tá bom! A gente se vê lá... Responderam as duas em uníssono.
Cada um dos rapazes em seu carro dá partida, acende o farol e espera. As duas, esperançosas dos caras irem embora, ficam desesperadas.
- Meu, eles vão ficar esperando a gente!!! Temos que dar KO. Não é possível, que caras de pau! Liga pra eles! Fala qualquer coisa! Eles tão pensando o quê?, já irritada, Sofia.
Então, Rebecca liga pra Daniel e diz que vão voltar pra casa por causa da chuva. “Deixa pra próxima, falô!”.
E vão pro bar da Esquina dos Ventos, se afogar em cerveja, fumar muitos cigarros, e rir dos acontecimentos e da audácia dos homens, divertidas.
E a noite miou!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Pois é, acabou!


Pois é Naldinho, a monografia estava puxada mesmo. Acabou ontem, com a apresentação para uma banca examinadora. Foi muito bom!

Realizar esse trabalho de monografia sobre correspondentes de guerra foi de fato muito interessante. Consegui compreender muito da história do mundo nestes últimos 50 anos, principalmente no que diz respeito à notícia. E o melhor de tudo foi que consegui me superar. Escutando as pessoas que leram e avaliaram o meu trabalho de 1 ano, fiquei surpresa e feliz. Confesso que não esperava os elogios, mas tudo que é bom, é sempre bem vindo, não é mesmo? Com isso ganhei forças para o próximo, e o próximo e que venham muitos ensinamentos nessa minha vida, não só os acadêmicos, como todos os outros das mais diversas áreas do conhecimento exterior, assim como interior.

Agora, sinto um misto de alívio e vazio. Alívio, porque foi um longo trajeto de conquistas e derrotas, muita luta e abdicação. Vazio, porque até ontem só pensava nisso.

Aprendi nesse processo que os amigos são poucos. Mas que sempre surgem novas pessoas para dividir momentos como esse e depois vão embora, ou ficam, dependendo do destino. Fiquei muito feliz quando vi o Marcelo chegando para assistir minha defesa. Afinal, são poucas as pessoas que de fato se interessam em outra coisa além delas mesmas. De resto, entendi que as pessoas interessantes são aquelas que lutam por um ideal, seja ele qual for. Elas se preocupam com as suas conquistas, assim como as dos outros, querendo chegar sempre a um ideal coletivo, como conseqüência de muita dedicação e paixão.
Meu compromisso rendeu frutos e hoje sinto que posso exercer o papel de jornalista responsável, em prol da sociedade, e dar voz àqueles que mais precisam.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Entrei pelo cano

Isso só não pode ser agradável!

Imagina vc literalmente escorrendo por um cano apertado, sujo, com teias de aranhas, fungos, espremido e sufocado até chegar do outro lado. Não é uma sensação boa. Mas se vc levar pro lado positivo, seguindo o passo-a-passo da autoajuda, pode ver algo de bom nisso. Nunca mais vai querer entrar pelo cano, e para isso, vai ficar mais esperto com os 'canos' que possam pintar na sua doce vida.

Mais uma vez me deixei iludir pela oportunidade 'na mão'. Topei um trampo maneiro, muitas horas, pouco dinheiro, mas o trabalho em si, parecia interessente. Aí pensei (como sempre), por que não?

Não tô fazendo nada de mais, tenho 'só' a monografia pra escrever, ler uns livrinhos pra faculdade, cobrir as horinhas da bolsa de extensão, participar de alguns eventos 'bobos' na universidade, e cuidar do meu lar doce lar. Acho que não vai ser muito puxado. E ainda ganho um extra. Vai ser ótimo!

Durou 3 meses.

Realmente não me atrapalhou muito na realização das tarefas citadas acima, só que eu ignorei um detalhe (que eu sempre ignoro): a convivência com as pessoas. Isso sim pode atrapalhar uma vida. Tem certos tipos de pessoas que não são boas para conviver. Uma energia pesada, mal-carateres. No começo levei as histórias na brincadeira, brincadeiras de mal gosto, mas tudo bem, o primeiro mês, de novidade, passou numa boa, conseguia até estudar durante o expediente. Veio o segundo e as brincadeiras foram perdendo a graça, ficaram mais pesadas, começaram a mexer em assuntos particulares, falar de sexo e a zoar com o dinheiro. A intimidade é uma droga! (quando não há respeito, claro)

O que eu achava errado, eles faziam na maior tranquilidade. Tapear os outros, mentir, falar de intimidades, usar a palavra como arma para a pilantragem, e pior ainda falar da vida sexual. Não confunda pilantra com malandro. Existe um fio tênue que proteje os malandros de acusações mais pesadas. No entanto eles também podem se confundir e ultrapassar essa linha, num tropeço. E sempre tropeçam, é muito dificil se manter por muito tempo de um lado apenas. As facilidades (perigosas) que a pilantragem oferece são tentadoras.

O assédio, muitas vezes disfarçado em silencios e olhares. Até que partiu para o toque. Nada muito pesado, mas uma puxada de cabelo, umas palavras susurradas ao ouvido, insinuações. Fui pegando nojo, tendo raiva, vontade de falar palavrões. Que angústia estava sentindo. Quando falava mais alto, me mandava calar. Chiuuuuu! Desgraçado!

O pior que nestes momentos eu não sabia o que fazer, as vezes ria, as vezes ignorava, as vezes brigava. Mas já estava ficando sem forças para toda hora estar dizendo: Ei, para com isso, sai daqui, me deixa em paz!

O dia fatídico veio numa quinta-feira de novembro. Cheirou meu cangote, depois seu funcionário fez o mesmo. Dei um chega pra lá no último, e uma cotovelada e um grito no primeiro. Que invasão. Babacas! Só piorou. O que tinha que efetuar o pagamento da galera chegou 10 minutos depois da hora do banco fechar, que azar... Atrasou o pagamento, isso já estava no segundo dia de atraso... Parece que isso é normal aqui no Brasil, pelo menos nos fazem pensar assim, mas não é! Isso é coisa de amadores e pilantras sem-vergonhas.

Saí do emprego, xinguei ele pelo telefone, mas logo começou a falar e me chavecar, pra eu ficar tranquila. Queria me convencer a continuar trabalhando. Não sei o que passa pela cabeça. Mas acabamos numa conversa tranquila. Não fiquei puta até o final. Nem falei pra ele nada sobre o assédio pra justificar a minha partida. Não sei, acho que sou tonta. Deixei passar, disse tudo, menos isso. Claro que não vou voltar a trabalhar pra ele. Mas, será que processo?

domingo, 19 de outubro de 2008

A liberdade

Li hoje:
"O mundo jamais o desencorajará de operar na configuração padrão, porque o mundo dos homens, do dinheiro e do poder segue sua marcha alimentado pelo medo, pelo desprezo e pela veneração que cada um faz de si mesmo. A nossa cultura consegue canalizar essas forças de modo a produzir riqueza, conforto e liberdade pessoal. Ela nos dá a liberdade de sermos senhores de minúsculos reinados individuais, do tamanho de nossas caveiras, onde reinamos sozinhos.
Esse tipo de liberdade tem méritos. Mas existem outros tipos de liberdade. sobre a liberdade mais preciosa, vocês pouco ouvirão no grande mundo adulto movido a sucesso e exibicionismo. A liberdade verdadeira envolve atenção, consciência, disciplina, esforço e capacidade de efetivamente se importar com os outros - no cotidiano, de forma trivial, talvez medíocre, e certamente pouco excitante. Essa é a liberdade real. A alternativa é a torturante sensação de ter tido e perdido alguma coisa infinita.
Pensem de tudo isso o que quiserem. Mas não descartem o que ouviram como um sermão cheio de certezas. Nada disso envolve moralidade, religião ou dogma. Nem questões grandiosas sobre a vida depois da morte. A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na cabeça. Diz respeito à consciência - consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor - daquilo que devemos lembrar, repetindo sempre: 'isto é água, isto é água.'
É extremamente difícil lembrar disso, e permanecer consciente e vivo, um dia após o outro."
David Foster Wallace, escritor americano, em discurso de paraninfo para formandos do Kenyon College, há três anos. Suicidou-se no mês passado, aos 46 anos. Trecho retirado de Despedida, da revista Piauí_25 edição especial e pré-sal de segundo aniversário, outubro de 2008.
Me caiu como luva.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Viva o pensamento

Me falta coragem de continuar.
Já não aguento mais a pressão e a falta de bom senso.
Sabe o que penso?
Em jogar tudo pro ar, fazer as malas e viajar.
Ver o mar e nele tomar banho. Nua. Longe da civilização.
Um lugar fora do mapa. Que ninguém conheça; apenas eu.
Mas não posso partir antes de dizer poucas, boas ou ruins, coisas que não tenho coragem ou vontade de dizer hoje, mas que estão entaladas na garganta.
Um dia sei que vou vomitá-las. Deus me acuda!
Se faz necessário dizê-las, para dar continuidade, pra passar pra outra fase.
Falar o que penso, não cabe em todo contexto.
Controlo minha língua e deixo o pensamento solto.
Penso cada coisa de louco!
Idéias malucas, algumas violentas, outras mais amenas.
Penso demais.
Ah! como é bom viver livremente, mesmo que muitas vezes seja apenas em pensamento.
Fazendo o que quero a todo momento.
Entristeço.
"Isso não é possível minha filha!".
Quantas vezes já não escutei essa frase, com a boca amarga.
De todos os tipos de pessoas que já cruzaram a soleira de minha alma.
De repente essa frase me despertou revolta; num revés de humor, tristeza; e ontem, o choro, aquele choro de criança mimada que foi contrariada.
Esperneio. Se eu quero, por que não pode?
Que mania de impor limites...
Certamente, pra algumas coisas, limites se fazem necessários, imprescindíveis mesmo!
Como limite para homem tarado.
Ah! esses precisam de limites bem restritos e claros, senão dá tudo errado!
Mas limitar sonhos é sacanagem. E a vaidade?
A vida é feita de sonhos e nunca deixarei de sonhar.
Quem já perdeu a crença nos seus sempre é tempo de retornar.
Viva plenamente, indiferente e verá!
Tenha uma boa vida!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vampiros

Me sugaram até a última gota, como vampiros que precisam de sangue para viver. Criaturas como estas sugam o invisível e precioso para o ser. Gostaria de conhecer um bloqueio, uma armadura, uma aura protetora a prova dos dentes invisíveis. Me extorquem, insaciáveis, de todos as maneiras possíveis, seja pela fala, ou pela presença. O mais comum e mais fácil de controlar é o que fala. Quem fala de mais, escuta pouco, e acaba se entregando facilmente; digo logo que vá catar coquinho, que me deixe em paz, ou dou uma de 'joão sem braço' e sumo. E o outro nem percebe e continua falando sozinho. Nunca entendi essa necessidade febril das pessoas falarem, e falar besteira (pra não usar outra palavra, por ser vulgar, mas que caberia muito bem). Não sei de quem ouvi quando criança, deve ter sido minha mãe, algo que ficou gravado pra sempre na minha memória, do tipo: se for falar besteira, é melhor ficar calado! Acho perfeito isso. Preservar-se de bobagens hoje em dia, é um caso hercúleo. Quem consegue? Basta ligar a televisão. Ou ouvir rádio, ou escutar papo de bar (não que papo de bar seja desinteressante, sempre nascem algumas pérolas). Mas francamente, me consumir o dia com balelas sem significados não dá. E as lamúrias? Isso sim consome. Sou vítima! Sou um pobre coitado! Deus esqueceu de mim! Tenha dó... Despeja-se o lixo e em troca ganha-se energia vital. É uma bela troca, mas quem fica com o lixo, normalmente os que escutam mais e falam menos, percebem gradativamente as artimanhas dos vampiros de energia, porque vítimas são vampiras de energia sim. Quem fala muita bobagem, pelo simples fato de não conseguir calar a boca, é vampira sim, precisa de alguém para escutar suas bobagens, senão qual seria a graça? De onde conseguiria energia pra continuar seu blábláblá? Enfim. Depois das que falam demais, vêm as que transtornam ambientes com sua presença. São pessoas alucinadas e desequilibradas, acho que todos temos algum desequilibrio, uns mais que os outros; mas essas não conseguem se controlar, vivem como se fossem um turbilhão, um tufão que vai levando consigo toda a energia do ambiente. Acho que tenho grave problema de identificação, porque nos dois casos, sempre saio arrasada. Deixo levarem tudo. E depois fico com raiva.

sábado, 4 de outubro de 2008

A festa das eleições


Você gosta de carnaval? munganga? palhaçada?
Se disse sim para uma das perguntas acima, então não está vendo problema algum nesse mês de passeatas políticas. Ou está?

Impossível não dar atenção aos trios elétricos cheios de gente, todos muito bem sonorizados, pessoas com microfone nas mãos, outras fantasiadas, aclamando seu candidato, festejando... sabe-se lá o que. Vi muita gente vestindo a camisa e segurando orgulhosamente a bandeira do partido, fazendo palhaçadas inacreditáveis. O candidato que aceita e apoia os cidadãos vestindo roupa e peruca de carnaval, pulando pelas ruas, gritando seu nome e cantando alegremente, com uma latinha de cerveja na mão, só pode estar desesperado, ou louco, não é mesmo?
Pra que toda essa festa minha gente? Gastam o dinheiro todo para chamar nossa atenção, e não sobra mais nada para os projetos mirabolantes que se propuseram realizar. Porque ali mesmo onde celebram a candidatura do indivíduo-deus, tem uma senhora de oitenta anos pedindo esmolas, um esgoto ao ar livre, o lixo acumulado de anos na mata do Parque das Dunas. Mas nisso não prestamos atenção, já virou rotina para nós essas aberrações. E a verdadeira aberração, tornou-se diversão.

Num domingo qualquer avistei uma fila imensa de carros parados na terceira faixa da Roberto Freire, por volta das 16h. A fila congestionou o transito das pessoas que voltavam do litoral sul da cidade. Estava uma zona. Oba! Tudo saiu como planejado. Cada vereador teve a oportunidade de tocar a sua musiquinha para esses carros, famílias inteiras, envolvidas a contra-gosto no comboio, entre raivosas e cansadas. Sem reação.

Num outro sábado, fiquei presa dentro de um comboio durante uns 40 minutos, porque eles ocuparam toda a rua paralela à Roberto Freire. Pode? Se pode, eu não sei. Pensava com todo minha inocência que esse tipo de manifestação alegre fosse proíbida. Se for, a polícia não só faz vista grossa, como colabora com os manifestantes. A história vai ficando interessante.

Como disse De Gaule, o Brasil não é um país sério. Mesmo possuindo riquezas naturais, petróleo, mão de obra capacitada, grandes intelectuais, o povo assiste e se ilude com os políticos. Votamos neles. Sempre tem um que se salva, mas e pra acertar? Chutamos e tentamos marcar o gol, votamos no mais simpático, no mais bonito, naquele que pratica a troca.
Eu mesma, até agora, há menos de 24h para a abertura das urnas, não sei em quem votar. Ninguém provou sua capacidade com essas campanhas pra tupiniquins (sem desmerecer os índios, por favor!). A única coisa que foi provada é que brasileiro gosta de confete, suor e cerveja. Fico pensando: por que esses candidatos não desenvolvem um projeto de verdade, em vez de gastar milhares de reais em campanhas ilusórias, de cantarem palavras ao vento, de fazerem comboios barulhentos, fechando ruas, atrapalhando o transito, incomodando o descanso das pessoas, fazendo a gente de bobo.
**É, agora é ver pra crer... Micarla ganhou. E eu votei nulo... que covardia! Preferi não assumir responsabilidades. Você que votou, colocaria a mão no fogo pelo seu candidato?

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Estranhos

No meio de coleguas e amigos, me sinto só e sem paciência. Palavras vazias, palavras vãs. São asssuntos que já não me interessam mais. Vou me cansando e bato em retirada. Quero ir pra casa! Tem sido mais fácil conversar com desconhecidos, os assuntos multiplicam-se, me alimento de impressões. Ontem, no banco da janela do 56, olhava pra fora, perdida em pensamentos. Algumas paradas depois subiu muita gente no ônibus e o burburinho aumentou, tirando-me do devaneio. Um senhor de quarenta e poucos anos sentou ao meu lado e instantanemente perguntou: você é daqui? Eu sou carioca! A princípio, desconfiada, não dei muita corda pro cidadão, mas a conversa foi ficando interessante, falamos de tudo, ele mais do que eu. A viagem passou tão rápido e o papo estava tão bom, que desci um ponto depois do de costume.


Desconfio de um jogo de interesse que rege nosso dia a dia, é um emaranhado perigoso. Estranhos, às vezes, são mais confiáveis. Dá o que se tem de melhor e receberá o melhor, e depois, talvez, nunca mais veja a criatura. Aí está. Duas pessoas trocam impressões, palavras, pensamentos, pelo simples prazer de se comunicar. Isso é muito bom! Talvez a situação esteja se transformando dessa forma porque já não nos sentimos tão seguros em meio a conhecidos, tudo que dissermos ou fizermos pode ser usado contra nós, é mentira? Por que, então, não falar com um desconhecido? Trocar idéias e dizer adeus, com a segurança de que só veremos de novo se a sorte se interessar.



quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A vaca!

- Aquela vaca!!!

Foi o que me veio a cabeça quando soube que ligou pra dizer que o problema era a gente. Desacreditei. Que vaca! Falsa! Hipócrita! Que raiva!

Ainda bem que o ele ligou pra cá numa boa, sabendo já que a megera é uma chata de galocha e já imaginava o que havia acontecido. Mas disse que não era pra eu dizer as coisas como 'acho' que são, dizer apenas quando tiver certeza absoluta. E como vou ter certeza absoluta num negócio tão instável, que depende do homem mas também da máquina?

Entrei no msn puta, aquela vaca me paga! E não é que ela teve a pachorra, alguns minutos depois de fazer a acusação infundada, de falar comigo como se nada... "e aí, como vão as coisas?". Ai, ai, ai. Se controla Odara, só pensava nisso. Se controla!

Ele me disse, se vc não tem certeza, inventa desculpas, vai enrolando, senão ela não para. É pra eu mentir então?, perguntei.

- É, eu não queria dizer com essas palavras, mas você entendeu... Só assim pra ela sair do pé!

Como pode uma criatura dessas existir? O mercado esta impreganado delas, que nojo. Elas mentem, fazem falsas acusações, botam vc numa situação desagradável. Pra quê? Pra aliviar o estresse, encobrir seus erros, porque a verdade, que eu adoro, é que o atraso começou com ela, que não se garantiu na hora de entregar o material. E mentiu sobre isso também! O pior é que me obrigam a mentir também, pra me livrar delas, e, na pior das hipóteses, para conseguir conviver... O fim da picada!

Tive vontade de dizer:

- Sua vaca mentirosa, por que vc não resolve seus problemas comigo ao invés de ir encher o saco dos outros, dizendo que o problema está aqui? Fazendo falsas acusações? Não tem coragem? Qual é a sua? Tá achando que a gente tem um santo milagreiro?

Mas me contive, afinal, tenho que seguir, mesmo que contrariada, algumas regras do jogo. Fui objetiva e disse:

- Já mandei. É pra tá pronto quando?

- Pra 16h no máximo! :)

Ainda colocou uma carinha... que ódio!

- Acelera aí o processo pra mandar de volta!, eu disse.

O resto ficou subentendido.

Respirei fundo, expirei, já passou. Vaca!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Malandragem

Macaco velho é macaco velho!
Tem um cara da minha entourage com quem aprendo muito todos os dias. Assim, como quem não quer nada, ele vai me ensinando as 'malandragens' da vida.
Um de seus ensinamentos veio como uma lição oriental. Ele segue muito os passos asiáticos. Veio ele com a teoria de que servir as pessoas enobrece o ser. Ele afirmou que não há nada melhor no mundo do que fazer o que uma pessoa gosta, por prazer. O prazer de servir. Disse que a gente acha que servir indica inferioridade, mas isso não é verdade!
- Por exemplo num namoro, você prefere o seu bem ou o bem do outro? me perguntou.
Eu não soube responder.
- Se você soubesse de um show de blues e que uma amiga sua gosta muito, você iria com ela, mesmo sem apreciar enormemente, não?
- É, acho que sim.
Deixei ele fazer rodeios, me fiz de desentendida, às vezes concordava com seus exemplos, às vezes não. Mas logo ele chegou ao que eu já esperava, ao xis da questão. Me olhou dentro dos olhos sério e disse:
- Ei, prepara um cafezinho pra gente?
- Pô, não é que ele pediu mesmo?, pensei rindo.
E, entre incrédula e divertida, fui preparar o nosso cafezinho.
- Duas colheres de açúcar viu?!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Achei mais quatro...

Pode estar parecendo repetitivo, mas vou falar de gato de novo. É meu vício, minha sina, minha paixão.

A história começa com um passeio sem compromisso com minha vó pelo quarteirão. Minha idéia a princípio era dar uma volta na praça ao lado do prédio. Mas a rua de cima estava fechada, em obras. Então, em vez de virarmos à direita, viramos à esquerda. Pela falta de costume, a vó já estava cansada depois de meio quarteirão e quis voltar pra casa. Viramos numa rua que eu nunca pego, a que passa na frente dos prédios Torres do Mar (acho que o nome é esse). Vínhamos conversando qualquer coisa e eis que surge de trás de um móvel jogado e podre, e um monte de lixo na calçada, adivinhem... um gatinho preto, todo preto.

Respirei fundo, olhei pro céu e perguntei: Por quê?

Agachei, fiz carinho, pensando no que fazer. Levar pra casa? Mais um? Mas deixar aqui? E agora? Tadinho! Quem será o fdp que abandonou essa criaturinha aqui sozinha? Enquanto isso a vó se lamentava à minha volta questionando o que eu ia fazer: não vai levar pra casa né? Mas que judiação! Se quiser levar tb, a casa é sua... A verdade é que estávamos as duas relutantes, convencidas de que 'teríamos' que levar o pretinho pra casa.

Fiquei falando fino com ele, alisando e lutando com minhas muitas vozes. Quando levantei e pus as mãos na cintura escutei um miadinho fino e distante. Logo soube: aqui tem mais! Mas cadê?
Comecei a revirar a estante podre, e vi uma caixinha no meio daquele monte de compensado, presa e escondida. Estava fechada. Não conseguia chegar até ela, fui ficando angustiada a ponto de arrancar as tábuas que estavam escondendo a caixa de papelão. O móvel desmilingüiu, caiu de podre, e consegui tirar a caixa, que estava fechada, lacrada praticamente. Coloquei no chão e abri: seis olhinhos azuis me olharam tristes e abandonados. Fazendo as contas, eram quatro gatinhos pretos que alguém deixou ali pra morrer. Presos, quase sem ar e esfomeados, pra morrer de inanição, ou no caminhão de lixo. Que façam o mesmo com o desgraçado!

Corri em casa pra pegar ração e água, e voltei. A vó ficou cuidando deles. As pessoas passavam por nós e olhavam com desprezo. Dei comida, ajeitei a caixa pra eles poderem se proteger e fui embora. Com o coração apertado por não ter condições de levá-los comigo. A vó também ficou triste. Há uma epidemia de gatos na cidade. Eles estão em todas as partes, sobrevivem aqueles que podem. Quem tem os bichanos precisa castrar. É necessário uma ajuda do governo para controlar isso. É um problema sem solução. Sofre quem quer, quem não consegue fechar os olhos, quem é sensível. Eu me remoo todos os dias por causa deles.

A mãe pediu que eu não ficasse triste ou angustiada, que a vida era assim mesmo, que eu não quisesse abarcar todos os males, que talvez alguém como eu passaria por lá e levaria os gatinhos pra casa, ou então eles morreriam, e a vida continuaria seu curso. É isso mesmo o que acontece, mas sempre fico chateada com essas coisas de abandono, da falta de responsabilidade das pessoas em assumirem seus compromissos. Deixei os bichinhos nas mãos do destino. Que ele seja bom com eles, e com todos os animais do planeta, inclusive com o bicho homem. Um pouco mais de consciência é necessário.

O caminho das quatro estações


Existe um caminho que nem sempre, por sorte, é repleto de gente, barulho, confusão. Muitas vezes ele fica silencioso, como uma floresta européia no outuno. Só se ouve o barulho do vento varrendo as folhas caídas no chão, se vê uma luz morna do sol que está morrendo no horizonte, e a estrada pela frente. Aquele que escolhe trilhá-lo, percebe uma tonalidade alaranjada, com tendências para o marrom, para o amarelo e para o vermelho.

Caminhando por esta estrada o ser sente a força do inverno que se aproxima e que espreme o tempo da passagem do sol pelo continente. Sentimos paz. A certeza de um inverno após um outono, que foi precedido por um verão. A perfeição da natureza!
Em momentos de calma e tranquilidade é quando melhor se pode prestar atenção no que se passa ao redor, e também dentro de si. Não é tudo um reflexo mesmo?

Vejo a bagunça, a vida morna, o desleixo coletivo, como quem olha um animal morto na beira da estrada, com tristeza e indignação.

O outono europeu é um momento particular, aquele que precede a morte simbólica, o inverno, quando começam os preparativos para o fechar-se em si. Passado esse processo, se morre. E morrendo percebe-se o quão a vida é boa para ser vivida intensamente, amada, respeitada. Tomam-se providências e resoluções, e se prepara para renascer, como a Fénix que nasce eternamente das cinzas.

Depois da longa espera durante um inverno cruel, as vezes nem tanto - acontece que ele pode vir em boa hora, quando precisamos de calma, e fechar-se é a melhor coisa que pode acontecer - observa-se as primeiras folhinhas verdes nas arvóres até então ressecadas pela intempérie. É mágico! A vida novamente. Quando acreditávamos no fim, eis que a natureza renasce. É uma explosão de cores e sons, uma sinfonia natural, que alguns compositores e artistas se aproximaram em suas obras com maestria, mas ela é inimitável, porque é perfeita.

O descobrimento pessoal é como o processo natural das flores, dos bichos, da natureza, nos fechamos em nós mesmos na passagem do inverno algoz, ibernamos, e despertamos maravilhados com a primavera que surge em nós.
Refletimos. Aprendemos. Amadurecemos. Assim segue a vida, cíclica, representada pelas quatro estações.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Santo Pereira

Tinha um gatinho miando em baixo da minha janela. Algum tempo depois, pensei que tivesse sumido.

Mas ele não sumiu não! Ele se escondeu no clube de remo.

No dia seguinte de seu desaparecimento, quando fui treinar, Pereira, o 'caseiro' do clube me disse: "Hoje você leva seu gato!".

- Meu gato? Ele ainda está aqui? Cadê?

"Ele tá ali escondido", disse ele apontando para um canto cheio de entulhos. Fui correndo e só vi um recipiente de Doriana com restos de comida. Perguntei surpresa (e feliz) se ele havia dado comida pro gato. No que ele respondeu: "Não gosto de ver ninguém passando fome!".

Ah, não sei como explicar minha alegria. Sorri até as orelhas. O coroa gosta de bicho também, pensei com meus botões. Como é bom encontrar uma pessoa de bom coração.

O mais incrível era o gatinho espertalhão, que já havia escolhido seu canto, e brincava alegremente com todo mundo que passava. Já estava se sentindo em casa, feliz da vida.

Isso foi numa quarta-feira. Treinei bastante e quando estava indo embora o Pereira me gritou de longe que levasse o gato embora. Quando fui olhar o bichano, lá estava ele deitadão em cima de um monte de sacos com a barriga virada pra cima, sem-vergonha!

Expliquei que não podia naquela hora, que ia trabalhar mas voltaria a noite. Só que não voltei. O bichinho tinha escolhido o clube por alguma razão e meu maior medo tinha passado: o de que alguém judiasse ou jogasse o gato na rua. Deixei ele lá e só voltei na sexta-feira, com o coração apertado, ainda insegura com a situação do pequeno.

Quando cheguei o Pereira olhou pra mim maroto e falou, "hoje você me leva esse gato daqui! Não quero dor de cabeça."

- Ah seu Pereira, deixa ele ficar, ele escolheu o clube, vai trazer sorte pros meninos, ele gosta daqui. Eu me comprometo a vacinar, trazer comida e castrar. Deixa vai?!

Ele baixou os olhos, pensou um pouco, abriu um sorriso lindo e disse que o gato podia ficar.

Dei pulos de alegria, e acho que o sentimento foi geral, porque os meninos já estavam brincando com o rajado, ele fazendo graça, sabe aquelas que só filhote sabe fazer? Correndo pra lá e pra cá, encantador. E o Pereira já estava curtindo a idéia, dizendo que 'nordestino', quando se acostuma, se espalha... Chamando o gato de malandro! Um sarro.

Agora o clube de remo tem um mascote, que traz sorte e alegria pra toda a equipe. Um gatinho vira-lata, rajado, de olhar esperto, salvo pelo Pereira. Santo Pereira!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Trabalho com prazer


Descobri o segredo para não enlouquecer trabalhando! Quer que eu conte? Pois eu vou contar, mas ainda não, deixa eu fazer a introdução primeiro, o mistério antes da revelação...

Acredito que todas as pessoas que têm uma rotina de trabalho, daquelas que incluem: acordar cedo, pegar trânsito, passar o dia inteiro fora de casa, dividir uma sala com outras pessoas, outros mundos, fazer a mesma coisa, em linhas gerais, todos os dias, voltar pra casa só depois que escurece, enfrentar o rush hour, chegar exausto, tomar um banho, jantar o que pintar e se jogar no sofá, tendo como último consolo a Favorita e os campeonatos de futebol. Isso durante o ano inteiro, tendo folga apenas no recesso do Natal e Ano Novo, isso quando tem! Já trabalhou com turismo ou hotelaria? Precisa ter uma válvula de escape! É desumano!

Pois bem, posso dizer que conheço muita gente que usa essa vida como desculpa para encher a cara, fumar, tomar drogas, fazer loucuras... Mas pergunto, nos sentimos mesmo bem? Depois de um fim de semana 'torrido', mesmo que a famosa ressaca moral não se apresente, apenas a ressaca física, o corpo exausto, pior do que na sexta a noite, antes de tomar um banho e cair na gandaia, será que nos sentimos realmente realizados, felizes? Então por que pensamos, plena segunda-feira, 10h da manhã: "espero que sexta chegue logo!"?

Você passa a semana trabalhando como um zumbi, chega o fim de semana, se torna vampiro, e isso num ciclo vicioso até descobrir pedras nos rins, uma cirrose, um cancer... Só aí você vai se perguntar, isso se o choque for grande e você retomar consciência de seu ser, o que foi que eu fiz com minha vida? Senão, vai continuar nessa, até o dia que o ciclo se encerre. Tudo na vida é escolha, cada um sabe do seu.

Essas loucuras que fazemos com nossas vidas e nossos corpos não tocam somente o campo do corpo físico, tocam o espírito, a alma e outros mundos mais, que estão além da minha compreensão. Isso que a sociedade consumista nos vende, é veneno. Não que eu seja contra o consumo, pelo contrário, aprecio o bom vinho, gosto de andar de carro e sou a primeira a comprar os úlitmos lançamentos em cosméticos. Mas a gente deve ter cuidado para não se limitar a esse ciclo: trabalho = consumo eterno, como se a verdade da vida fosse apenas isso.

O lance, o meu segredo, que acredito ser o que me tirou desse desespero, porque confesso, estava pirando aqui no trabalho, foi o esporte. Sim! Praticar esporte é maravilhoso! Cada um tem o seu, o que lhe dá mais prazer. Pode ser um esporte radical, uma caminhada na praia, uma volta de bike, jiujitsu, surf, etc. São tantas as opções! E seu corpo agradece.

Eu parei de fumar há alguns meses, e quando comecei a trabalhar a vontade de colocar um cigarro entre os lábios e tragar lentamente a fumaça 'tranquilizante' voltou. Aí comecei a ficar louca. Além da rotina, a vontade de fumar. Era a vontade física, psicológica tentando convencer minha razão de que umzinho não ia me fazer mal nenhum... até parece. Foi então que veio por acaso uma amiga aqui na empresa e me falou de um clube de remo. Foi como acender uma lâmpada, sabe aquelas de desenho animado? E pronto! Me decidi e fui atrás. Acreditem ou não, o clube de remo não só fica na mesma rua de onde trabalho, como fica em frente!

Uma coisa tenho percebido depois que comecei a prestar mais atenção nos sinais, nada acontece por acaso. As coisas são colocadas debaixo de nossos narizes, basta querer enxergar. Não se deixe alienar, abra os olhos e seja feliz!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Se você quer do seu jeito, faça você mesmo!


Que mania é essa que as pessoas têm de querer dizer o que eu devo fazer, como fazer, porque fazer. Credo! Parece que não sei... Tô passada com isso!

O fato de eu não me impor o tempo todo, porque acho muito desgastante, não quer dizer que não saiba fazer as coisas. Sei sim, e muito bem! Que cada um vá cuidar de sua vida!

Aquelas frases prontas, tipo, por que você não usa essa calça? Por que não namora com esse menino? Por que não vai morar na Europa? Por que não vai na casa do João resolver aquele problema hoje? Por quê? Por quê? Sabe por quê? Porque eu não quero!

Essa mania é coletiva. Não é só uma pessoa não, é geral. É tão fácil ficar dizendo aos outros o que fazer, ao invés de olhar pra si e pensar, nossa o que eu poderia fazer hoje? Cada um que controle o seu tempo, seu humor, seu coração! Quanta chateação!

O pior de tudo é que se você não faz do jeito que as pessoas querem, hummmm... prepare-se para o bico, para o grito, para o choro.

Num passado bem recente eu costumava me sentir culpada, pois guardava em mim toda a culpa do mundo. Só agora percebo que as pessoas são todas desequilibradas e querem descontar em mim ou em qualquer pessoa que estiver por perto o seu trauma, a sua angústia, os seus defeitos e preconceitos. Pois quero que todos vão à merda!

Quantas horas de sono perdi, quanto tempo desperdicei, quantas vezes chorei por causa de chiliques mirabolantes de pessoas loucas, que queriam que eu fizesse as coisas à sua maneira! Ah alma querida, desculpa por esse tempo de escuridão. Já não acontecerá mais.

Se você quer do seu jeito, faça você mesmo! E tenho dito!

Um gato pra você!

No primeiro andar do sobrado vermelho e branco, com as janelas sobre a rua, fica a minha sala. Cá estou, lutando com os pequenos problemas tecnológicos que minha energia desvirtua, quando estou com raiva. Minha mãe chama isso de poltergeist. Antes eu era um pouco cética, até perceber que realmente, quando passo raiva, o carro não liga, a internet não funciona, a Tv fica fora do ar. Incrível.

Pois estava aqui tentando entrar no Outlook do trabalho há uma meia hora, depois de passar uma hora tentando fazer a Internet funcionar, quando minhas 'antenas' se ativaram subitamente: um gatinho estava miando! Abri o janelão, subi na mesa e me inclinei para espiar. E lá estava ele, minúsculo e rajado, berrando. Algum infeliz acabara de abandoná-lo.

Esqueci tudo, desci correndo as escadas dei a volta no quintal, peguei uns grãozinhos da ração do Greg (o salsichinha mais sem-vergonha que já vi), um copo d'água e saí atrás do gato. Quando abri o portão, ele não miava mais. Cadê ele? me perguntei, será que já sumiram com o pobre?

Aqui na Ribeira tem tanto gato de rua que o pessoal abandona nos becos, que as gatas de rua parem a cada 3 meses, que a gente se acostuma com essa calamidade. Ainda que fossem só gatos a gente se revoltaria e tentaria encontrar uma solução. Mas o pior é que vejo gente todos os dias andando pra lá e pra cá, com um saco nas costas, olhar vazio, perdidas em seus devaneios, sonhando sabe-se lá com um prato de comida, um copo d'água, um banho e um teto pra cobrir seu corpo franzino e triste. São pessoas invisíveis, mas quem olha com atenção, consegue enxergar a crueldade da vida nesse mundo de hoje.

De repente vejo o gatinho correndo atrás de um negro alto, que carregava um vazo sanitário. Ele trabalha aqui do lado. Junto com ele vinha um senhor, de um olho só. Ficamos conversando e o gato em volta da gente pedindo colo. Eu coloquei a comida no chão, alisei ele... mas quando o homem do vazo resolveu andar, lá foi o gato atrás. Ele saiu correndo, para o gato não alcançá-lo, aí passou o senhor que trabalha no clube de remo e o gato seguiu ele pra dentro do clube, e sumiu.

O senhor de um olho e eu ficamos conversando. Eu, sinceramente, estava já pensando em adotar o gatinho. Antigamente teria ido atrás dele, revirado caixas, lixos, móveis, pegado a força e levado pra casa. Mas a vida não é tão simples assim. Ele não me escolheu, nem me deu bola. Ele queria o homem do vazo. Porque é ele que está precisando de sua ajuda. Os gatos protegem a gente. Eu já estou bem protegida, com meus três. Um a mais não ia fazer mal, só bem! Mas ele não ficou. Sumiu.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cada vez mais pra dentro

Sinto que cada vez mais estou fechada em mim mesma, faço as coisas pelo avesso, tropeço, e acabo me sentindo mal, me magoando. O que acontece na verdade é que as pessoas são muito diferentes umas das outras. Eu falo tudo, não aguento segurar, não penso nas consequencias, nem no impacto de minhas palavras e ações. A verdade é não sei viver em sociedade, nem ter raiva. Queria ficar na minha, mais ainda. É bom sair, ver gente, mas não sei lidar com isso. Sempre extrapolo, quase me sinto mal por chamar a atenção, piso na bola. Uma parte de mim é má e quer só sacanear os outros, será? Talvez eu tenha realmente esse lado mau, e uso ele quando perco controle, e essa maldade cresce em mim, e faço coisas pra testar o limite das pessoas. Em outros momentos sou tão boba e ingênua... É como se fosse Raquel e Ruth, daquela novela da Globo, as gêmeas diferentes. Mas será que sou realmente má? Assim como as pessoas querem me pintar? Ou será que sou normal, e todo mundo é assim? Não sei, só sei que levo a vida muito a sério, isto é desgastante, e certas coisas me deixam muito mal, pq costumo sempre colocar a culpa em mim. Sei lá. Não quero encheção de saco. Quanta sarna pra me coçar.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Ribeira


Ribeira. Bairro portuário. Cheiro de peixe no ar.

Estou vindo há quase um mês para a Rua Chile trabalhar, chego às 9h e só saio quando já está escuro. No começo vinha de carro, mas o preço da gasolina me fez refletir e deixar de besteira, pegar ônibus era a melhor solução para vérios problemas, entre eles meu estresse no trânsito e a falta de tempo para ler os livros da monografia.

Nas primeiras semanas voltava pra casa. Logo comecei a ficar por aqui, mas nem punha a cara pra fora da empresa. Agora que venho de busão e passo por vários lugares até chegar aqui, cresceu a curiosidade de ver o que me rodeia. Hoje foi o primeiro dia que saí pra dar uma volta no quarteirão. As pessoas me olham estranhamente, como se eu fosse de outro planeta. E será que não sou?

Dei a volta, indo pro lado direito, passei na frente de bares e restaurantes que só conhecia a noite. Muita coisa está fechada nesse horário de meio dia. Vi duas gatas pretas prenhas. E um gato rajado, que deve ser o pai dos futuros filhotes de rua. Muita gente caminhando pra lá e pra cá, procurando um lugar pra comer. O que não falta são restaurantes self-service, de R$ 5,00. Já sei onde comer quando tiver algum dinheiro. Por enquanto estou dura.

Passei em frente a Tribuna do Norte. Será que é bom trabalhar lá? Devia deixar um cv... mas o jornalismo é mto elitista e seletivo. O ideal seria conhecer alguém lá dentro, pra me indicar. Mas a fila de indicados é bem grande, e o jornal, bem pequeno, como todos por aqui.

Virei a esquina e entrei na rua das peixarias e lá no fundo via-se o porto. O 'grande' porto de Natal. E subiu subitamente aquele cheiro de peixe podre e passado. Quase vomitei. A vida de pescador deve ser muito dura, mas muitos não trocam por nada nesse mundo. Eles estavam lá, sentados na sombra, alguns deitados, esperando sabe-se lá o que.

Entrei na rua do meu trabalho, estava quase deserta, ouvia-se apenas o grito e riso organizado de crianças. Vi uma mulher sentada no chão em frente a porta que eu ia entrar, conversando com um amigo imaginário. Na verdade ela estava discutindo com ele. Quando me viu ficou sem graça, mas logo continuou o falatório. Entrei. Subi aquela escada imensa e cá estou, doida que o dia acabe e eu vá pra casa. Para ficar por lá.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Se...

Foi minha mama que mandou esse texto lindo e verdadeiro.
O que entendi foi que o Klingip fez um rabisco da condição humana. Que independente dos problemas e desafios que encontramos na vida, o somos dotados do poder de superação. Cair e levantar. Acreditando nos sonhos, mas deixando espaço para o improviso. O homem é um ser imperfeito e ao mesmo tempo perfeito. Feliz e agradecido por estar vivo. Foi o que entendi. E vc?
"Si puedes mantener la cabeza sobre los hombroscuando otros la pierden y te cargan su culpa, si confías en ti mismo aún cuando todos de ti dudan, pero aún así tomas en cuenta sus dudas;
Si puedes esperar sin que te canse la espera, o soportar calumnias sin pagar con la misma moneda, o ser odiado sin dar cabida al odio, y ni ensalzas tu juicio ni ostentas tu bondad;
Si puedes soñar y no hacer de tus sueños tu guía;
Si puedes pensar sin hacer de tus pensamientos tu meta;
Si Triunfo y Derrota se cruzan en tu caminoy tratas de igual manera a ambos impostores;
Si puedes tolerar que los bribones, tergiversen la verdad que has expresadoy que sea trampa de necios en boca de malvados, o ver en ruinas la obra de tu vida, y agacharte a forjarla con útiles mellados;
Si puedes hacer un montón con todas tus victorias;
Si puedes arrojarlas al capricho del azar, y perder, y remontarte de nuevo a tus comienzossin que salga de tus labios una queja;
Si logras que tus nervios y el corazón sean tu fiel compañeroy resistir aunque tus fuerzas se vean menguadascon la única ayuda de la voluntad que dice: “¡Adelante!”
Si ante la multitud das a la virtud abrigo;
Si aún marchando con reyes guardas tu sencillez;
Si no pueden herirte ni amigos ni enemigos;
Si todos te reclaman y ninguno te precisa;
Si puedes rellenar un implacable minutocon sesenta segundos de combate bravío, tuya es la Tierra y sus codiciados frutos,
Y, lo que es más, ¡serás un Hombre, hijo mío!"

Rudyard Klingip

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Desassossego

Hoje tive a sensação estranha de que a vida passa a toa. Na hora do almoço fugi para casa. Tinha planos de comer por aqui mesmo, perto do trabalho... mas estava louca pra chegar em casa. Talvez encurtar o tempo aqui e ficar por lá. A manhã foi cheia, e a tarde prometia ser também. Peguei o carro, levando somente o carteira e o celular, que poderia ter esquecido no escritório, mas não esqueci. Óculos escuros, mãos no volante, descendo a ladeira pra dentro do mar. São vinte minutos daqui para a minha casa. O bom é a paisagem da Via Costeira, até dá uma animada ver aquele marzão e o Morro do Careca lá longe. Quando abri a porta do apê os gatos me olharam de um olho só, para ver quem estava chegando e agitando seu sono. Sou eu! A vó tinha saído. Ah, a casa só pra mim! Valeu o rolé. Fiz uma pizza de frigideira e salada verde com tomate. Perfeito e frugal. Logo vou estar com fome de novo. Preciso perder uns quilos e ganhar uns musculos. Estou na minha pior forma.
Passo o dia sentada na frente do computador... 8h por dia. Chego em casa, tomo banho, como e me jogo no sofá pra ver novela. Não tenho forças pra mais nada. Acordo todos os dias as 5h45 para ter tempo de trabalhar na minha monografia. Estou tão atrasada. O que eu acho é que não sei trabalhar. Não consigo! Me frustra ter que fazer a mesma coisa todos os dias. E olha que faz só algumas semanas que estou aqui.
E os dias vão passando, e vêm as semanas, e os meses, e eu aqui nessa rotina. Já estou me sentindo presa. Sou louca? Sou fraca? Sou eu. Podem me chamar do que quiseram. Acho tudo isso um saco! Tô passada hoje. Meu trabalho? Faço (estou tentando, juro!) produção e atendimento em uma produtora de vídeo, istável. Passo el día falando com agências de publicidade, fotógrafos, diretores, motoqueiros, meu chefe mandão, e o pessoal daqui. Mais um bico para o meu cv. Oba... Se sentir idiota ao realizar todos os dias a mesma tarefa é um caso meu, ou todo mundo se sente assim?

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Estrelas da minha vida


Não sei como acontece, só sei que acontece: atraio estrelas de todos os jeitos e em todos os setores da coletividade. O mais importante para elas é brilhar, brilhar tão intensamente, até o ponto de ofuscar aqueles que ousam admirá-las de muito perto.

Comigo sempre acontece no trabalho. Ou melhor, na maioria das vezes. Não me é impossível atrair uma estrela enquanto ando pela rua distraidamente, um tropeço. Mas no trabalho já é de praxe.

Como consigo distinguir uma estrela na multidão? Ora, é muito fácil! Elas andam como se estivessem pisando nas nuvens e sentem-se admiradas por todos ao seu redor. Parece que cabelos e tecidos flutuam harmoniosamente com o vento. Ao falar, têm tanta certeza daquilo que dizem, que acreditamos realmente ser a verdade absoluta. Isso quando somos inocentes e nos deixamos iludir pela máscara perfeita das estrelas. Porque já sabemos: ninguém é perfeito. Mas as estrelas acham que sim. Aí está o pecado delas, mania de perfeição. A estrela tenta de todas as formas nos esconder seus defeitos. E quer que o mundo diga: Sim você é perfeita Estrela!!!
Conheço uma Maria Estrela, um Zé Estrela, tantas estrelas já passaram pela minha vida. E parece que eu não aprendo. Sempre entro no jogo delas! Deixo que se exponham, que mostrem tudo que sabem fazer, brinco de ser estrela também. Só que não levo jeito nenhum. Gosto dos bastidores. De mistério. De respeito e justiça.
E estrela não sabe o que isso significa. Elas se colocam em um nível acima da grande massa, ignorante e feia. Não perguntam, porque já sabem de tudo. Não dividem, porque acham desperdício. O simples fato de uma estrela falar com você, já é uma maravilha, uma dádiva divina! Imagina então uma estrela querendo ser sua amiga? É a glória!

Quantas estrelas já não foram minhas amigas! Como tive sorte! Um bando de petulantes e assoberbados me ensinando que na vida, como já dizia uma grande amiga (que não é estrela!), o buraco é mais em baixo!